Vendas no varejo caem 0,6% após três meses no campo positivo

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 11/01/2023 14h00, última modificação 11/01/2023 12h26
Queda nas vendas de combustíveis influenciou resultado negativo do varejo em novembro

Na passagem de outubro para novembro do ano passado, as vendas no comércio varejista no país recuaram 0,6%. Nessa comparação, é a primeira vez que o varejo fica no campo negativo desde julho de 2022 (-0,2%). Com isso, o setor se encontra 3,6% abaixo do maior nível da série, registrado em outubro de 2020, e 2,6% acima do patamar pré-pandemia, de fevereiro do mesmo ano. No acumulado de janeiro a novembro, o varejo avançou 1,1% e, nos últimos 12 meses, 0,6%. Os dados são da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) e foram divulgados nesta quarta-feira (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

 

Das oito atividades pesquisadas, seis tiveram resultados negativos em novembro. As principais influências sobre o índice geral vieram de Combustíveis e lubrificantes (-5,4%) e Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-3,4%).

 

Para o gerente da pesquisa, Cristiano Santos, um dos fatores que explicam o resultado negativo do setor de combustíveis é a inflação. “Novembro foi o primeiro mês em que os preços dos combustíveis voltaram a crescer após uma sequência de deflação que se iniciou em julho do ano passado. Isso impactou as receitas das empresas. Outro ponto é que novembro não é um mês de grandes movimentos nos transportes, já que as famílias costumam esperar para viajar em dezembro”, explica.

 

De acordo com o pesquisador, a Black Friday, que acontece no fim de novembro, não resultou em números muito positivos para o comércio varejista. Uma atividade que costuma ficar mais aquecida no período é a de Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação, que recuou após dois meses de crescimento expressivo.

 

“Esse desempenho mais fraco da Black Friday contribui fortemente para o resultado negativo do setor varejista em novembro. As condições macroeconômicas, como a falta de crescimento de crédito, a alta dos juros, a estabilidade do valor do Auxílio Brasil e a volta da inflação, acabam impactando a renda das famílias e diminuem o consumo”, explica Cristiano.

 

As demais atividades que ficaram no campo negativo foram Livros, jornais, revistas e papelaria (-2,7%), Tecidos, vestuário e calçados (-0,8%), Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-0,3%), e Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,2%).

 

“A atividade de Livros jornais, revistas e papelaria, apesar da queda de novembro, teve uma trajetória muito positiva ao longo do ano. Em janeiro de 2022, ela estava 65,8% abaixo do patamar pré-pandemia e, em setembro, estava 33,1% abaixo. É uma atividade que teve quedas fortes, mas veio se recuperando até setembro, quando os resultados negativos apresentaram um rebatimento dessa trajetória de crescimento”, analisa.

 

Já em relação a Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,2%), grupamento de atividades que representa cerca de 50% do índice geral, o resultado é ligado também ao pagamento do Auxílio Brasil. “Esse setor vem há dois meses em estabilidade, variando -0,3% em setembro e 0,2% em novembro. Entre outubro e novembro, não houve aumento no valor do Auxílio Brasil, que é um benefício direcionado às famílias de menor renda e que tendem a concentrar o consumo em alimentos”, explica.

 

As únicas atividades que avançaram na comparação com outubro foram Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (1,7%) e Móveis e eletrodomésticos (2,2%). De acordo com Cristiano, no primeiro grupamento, as empresas ligadas especialmente à parte de perfumaria foram beneficiadas pelas promoções da Black Friday. “Mas a atividade como um todo tem uma trajetória positiva, são empresas mais estáveis e as lojas não foram fechadas durante a pandemia. Também há aumentos de preços sazonais, que ocorrem normalmente nas suas épocas, e são produtos que não têm substituição, ou seja, as famílias não deixam de consumir”, diz o gerente da pesquisa.

 

Vendas avançam 1,5% na comparação com novembro de 2021


Frente a novembro de 2021, as vendas do varejo cresceram 1,5%. Esse é o quarto resultado positivo consecutivo desse indicador. Em novembro, cinco das oito atividades pesquisadas avançaram: Combustíveis e lubrificantes (27,3%), Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (6,5%), Móveis e eletrodomésticos (3,0%), Hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (2,7%) e Livros, jornais, revistas e papelaria (1,1%). 

 

“O maior impacto positivo nesse resultado veio dos combustíveis e o segundo, de hiper e supermercados. No caso dos combustíveis, o aumento tem relação com a diminuição nos preços da gasolina. Por outro lado, outras atividades, como a de tecidos, vestuário e calçados tiveram um resultado negativo acentuado. Esse setor não se recuperou durante a pandemia com as mudanças de hábitos de consumo, quando as pessoas passaram a ficar mais em casa. Apesar da volta da circulação de pessoas, muitas delas migraram para o modelo híbrido de trabalho ou home office, o que impactou os gastos nesse tipo de comércio”, destaca Cristiano.

 

Além de Tecidos, vestuário e calçados (-16,1%), outras duas atividades tiveram queda na comparação interanual: Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-10,5%) e Equipamentos e material para escritório informática e comunicação (-0,5%). Entre as atividades do varejo ampliado, Veículos e motos, partes e peças (-5,5%) e Material de construção (-10,9%) recuaram frente ao mesmo período do ano anterior.

 

Vendas caem na maior parte das Unidades da Federação frente a outubro


Em novembro, em comparação com o mês anterior, 20 Unidades da Federação tiveram queda nas vendas do varejo, com destaque para Amapá (-5,6%), Alagoas (-3,9%) e Maranhão (-2,7%). No lado positivo, destacaram-se Tocantins (2,4%), Piauí (1,5%) e Espírito Santo (1,5%). Santa Catarina ficou estável (0,0%) em novembro.

 

Quando comparado ao mesmo período do ano anterior, o avanço de 1,5% do varejo do país foi disseminado por 22 Unidades da Federação, com destaque para Paraíba (32,2%), Amapá (14,9%) e Sergipe (8,9%). Já entre os estados que ficaram no campo negativo, os destaques foram Pernambuco (-3,2%), Rondônia (-3,0%) e Rio de Janeiro (-2,4%).

 

Mais sobre a pesquisa


A PMC produz indicadores que permitem acompanhar o comportamento conjuntural do comércio varejista no país, investigando a receita bruta de revenda nas empresas formalmente constituídas, com 20 ou mais pessoas ocupadas, e cuja atividade principal é o comércio varejista.

Iniciada em 1995, a PMC traz resultados mensais da variação do volume e receita nominal de vendas para o comércio varejista e comércio varejista ampliado (automóveis e materiais de construção) para o Brasil e Unidades da Federação. Os resultados podem ser consultados no Sidra.

 

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Fonte: IBGE

Imagem: Helena Pontes/IBGE

Edição: Site TV Assembleia