Veja o papel da alimentação saudável na prevenção da obesidade infantil
O sobrepeso e a obesidade são problemas de saúde pública conhecidos. Mais da metade (56,8%) da população adulta brasileira está acima do peso e 22,8% convive com a obesidade, segundo o levantamento Covitel 2023, consultado no Observatório da APS. A mesma pesquisa apontou o avanço acentuado entre os mais jovens: na faixa etária entre 18 e 24 anos, a prevalência de obesidade saltou de 9% em 2022 para 17,1% no ano seguinte – um aumento de 90%.
Hábitos saudáveis na infância, como uma alimentação equilibrada e a prática de atividades físicas, têm um impacto significativo na saúde física e mental ao longo da vida. No entanto, as projeções caminham na contramão de um futuro saudável: o Brasil pode ter metade das crianças e dos adolescentes com obesidade ou sobrepeso em 2035, segundo estimativa divulgada no Atlas Mundial da Obesidade 2024, da Federação Mundial de Obesidade. É o equivalente a mais de 20 milhões de pessoas até 19 anos.
Estamos hoje em um ponto de inflexão para reverter esse quadro e as decisões tomadas agora por gestores públicos, escolas e famílias serão fundamentais para a saúde da futura geração de adultos. Abaixo, confira um panorama sobre obesidade infantil no país, com dados e informações disponíveis no Panorama da Obesidade em Crianças e Adolescentes, desenvolvido pelo Instituto Desiderata em parceria com a Umane.
Por que a obesidade infantil é preocupante
A obesidade infantil não apenas afeta a qualidade de vida das crianças, mas também aumenta significativamente o risco de desenvolvimento de uma série de doenças com o avançar da idade. Isto inclui as DCNTs (Doenças Crônicas Não Transmissíveis), a principal causa de mortes de adultos globalmente.
Entre os principais prejuízos associados à obesidade infantil estão:
- Diabetes;
- Hipertensão e doenças cardiovasculares;
- Colesterol alto;
- Agravamento de doenças respiratórias;
- O excesso de peso também pode coexistir com outras formas de má nutrição que impactam o desenvolvimento escolar e psicossocial, além de questões emocionais e a saúde mental.
Além disso, o sobrepeso e a obesidade infantil não ocorrem isoladamente. Frequentemente, estão associados a outros fatores de risco para as doenças acima, como alimentação não saudável, estilo de vida sedentário (que pode estar associado ao uso excessivo de telas) e condições socioeconômicas desfavoráveis, ampliando disparidades de saúde na sociedade.
Números: o estado nutricional de crianças e adolescentes no Brasil
Em consonância à projeção da Federação Mundial de Obesidade, dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) disponíveis no Panorama apontam que, em 2023, quase um terço (31,1%) das crianças e adolescentes até 19 anos estavam com excesso de peso:
Fonte: Gráfico Histórico – Excesso de Peso. Dados do SISVAN, 2023
Os indicadores são semelhantes para meninas e meninos de diferentes idades, mas a prevalência é ligeiramente maior entre os seguintes grupos:
- 32% – Faixa etária de 0 a 4 anos
- 32% – Faixa etária de 10 a 19 anos
- 32% – Sexo masculino, de 0 a 19 anos
- 33% – Pessoas que se declaram brancas, de 0 a 19 anos
A mesma fonte apontou que 5% das crianças e adolescentes brasileiros apresentam risco de desnutrição. Este quadro é causado pela ingestão insuficiente de alimentos ou pela má alimentação e consumo de produtos não saudáveis. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) alerta que 60% da população de até 17 anos vive na pobreza no Brasil – um cenário que, além da privação de renda, pode impactar o acesso a direitos básicos, como a saúde e a alimentação.
Alimentação equilibrada e nutritiva na prevenção da obesidade infantil
Quando se trata de fatores comportamentais, uma alimentação saudável tem papel fundamental para prevenir a má nutrição entre crianças e adolescentes. A alimentação adequada varia de acordo com a faixa etária. Até os seis meses, por exemplo, o Ministério da Saúde recomenda a amamentação exclusiva: e este tem sido o caso para 55% dos bebês nessa faixa etária, segundo o SISVAN.
Na faixa etária seguinte, o Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 anos, do Ministério da Saúde, sugere não oferecer produtos ultraprocessados às crianças até essa idade, assim como açúcar e produtos ou preparações que contenham açúcar. No entanto, os dados do SISVAN indicam que na faixa etária de seis meses a dois anos, aproximadamente um quarto das crianças ingerem bebidas adoçadas, biscoito recheado, doces ou outras guloseimas – índice que aumenta nas faixas etárias seguintes.
Consumo de alimentos de risco à saúde, por faixa etária:
Alimentos ultraprocessados
Bebidas adoçadas
Biscoito recheado, doces ou guloseimas
6 meses a 2 anos
39%
25%
23%
2 a 4 anos
81%
61%
58%
5 a 9 anos
85%
66%
61%
10 a 19 anos
83%
65%
55%
Fonte: Dados do SISVAN, 2023
Dados assim são essenciais para informar e educar pais, cuidadores, professores e gestores escolares sobre hábitos alimentares e o acesso a alimentos nutritivos em escolas e comunidades. Além disso, políticas públicas eficazes são necessárias para regulamentar e criar ambientes propícios à alimentação saudável e à prática de exercícios físicos desde a infância.
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Fonte: Blog Uname - Imagem: Unsplash