Vacinas na berlinda: queda em cobertura preocupa especialistas
Com o Dia Nacional da Imunização, na próxima sexta-feira (9/6), um sinal vermelho acendeu diante da baixa procura da imunização no Brasil e no mundo. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) alertou recentemente sobre a baixa cobertura vacinal de crianças no Brasil. De acordo com o órgão, 1,6 milhão de crianças não tomaram a primeira dose de DTP, imunizante que previne a difteria, o tétano e a coqueluche, entre 2019 e 2021. No mesmo período, 700 mil crianças não tomaram a segunda dose da vacina.
Os dados compõem o relatório lançado no dia 20 de abril deste ano sobre a baixa adesão a vacinas importantes e a descrença sobre a eficácia dos imunizantes. Mesmo com o Programa Nacional de Imunização (PNI), considerado exemplo em todo o mundo, o Brasil sofreu uma queda de 10 pontos percentuais na confiança dos cidadãos - antes da pandemia, 99,1% dos brasileiros confiavam nas vacinas infantis. Nessa fase de pós-COVID-19, esse percentual caiu para 88,8%. Sobre a vacina da poliomielite, doença que causa a paralisia infantil, em 2022 o Ministério da Saúde registrou apenas 72% de crianças vacinadas, sendo que a meta é de 95% em todo o território nacional.
O contador e funcionário público municipal Geraldo Herculano Carneiro Araújo, de 63 anos, convive com a paralisia infantil, pois no Brasil não existia o imunizante eficaz à época. “Eu tive pólio com 6 meses. A Sabin não havia chegado ao Brasil ainda. Sou de Itapecerica (MG), e tomei a Salk, que não foi eficaz diante do surto que aconteceu no local”, conta. Ele diz ainda que convive com as sequelas, desde então.
Geraldo teve as duas pernas acometidas pela doença, mas, com a fisioterapia, a direita foi praticamente recuperada. “Foi uma luta, porque tinha de vir do interior para o tratamento, feito no Hospital da Baleia, referência à época”, lembra. O acompanhamento médico continua, mesmo hoje, por ainda existirem muitas sequelas. O contador é funcionário da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte e relata que recebe, apreensivo, perguntas sobre a eficácia das vacinas ou comentários de pessoas que não acreditam nos imunizantes. “Criou-se uma parcela da população que questiona as vacinas e que compartilha fake news, bastante nocivas à sociedade.” Ele diz que seu discurso é contundente quanto a isso. “Digo que com vacina não se briga ou discute. Se toma e pronto!”, conclui.
O infectologista e cooperado da Unimed-BH, Adelino Melo, explica que a baixa adesão às doses disponíveis pelo PNI é um alerta para todos. “As vacinas são a intervenção da ciência que mais tiveram impacto na saúde coletiva”, explica o médico. Na visão dele, para que isso continue, é necessária a imunização do maior número de pessoas possível, fechando um cerco para evitar a transmissão das doenças. “Quando há essa queda na procura por vacinas, pensando em termos populacionais, podemos prever um sério comprometimento na saúde pública, maior gargalo da assistência no país.”
Adelino esclarece que são vários os motivos para a baixa adesão, mas ele destaca dois: o medo da agulha e o fenômeno mundial que vimos ampliar nos últimos anos com a disseminação de “desinformações”, as fake news. “Desde quando existem vacinas, temos aqueles que as questionam, mas a internet trouxe à luz esses grupos antivacinas, principalmente durante a pandemia”, observa o infectologista.
Vacina da gripe
Em notícia divulgada recentemente, para a imunização contra a gripe, o governo federal informou que somente 40,6% do público-alvo se vacinou no país. O índice preocupa o Ministério da Saúde (MS), já que quem precisava da prevenção não participou da campanha, o que pode ocasionar o aumento da procura do atendimento em saúde por conta de casos graves da doença.
O público-alvo é formado por idosos, crianças de até 6 anos, trabalhadores da saúde e da educação, gestantes, puérperas, entre outros. Recentemente, o MS liberou a vacinação para todos os cidadãos acima de 6 meses. Mesmo assim, a procura continua sendo baixa, algo que pode provocar o crescimento do número de casos de gripe, e, consequentemente, a maior busca pelos serviços de saúde, inflando o atendimento público.
Negligenciadas
Outro problema levantado pelo médico é sobre o esquema vacinal incompleto, caso comum para as vacinas contra o novo coronavírus. Um estudo recente do Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), encomendado pela Pfizer, apontou que um de cada três pais não acredita que a vacina contra a COVID-19 protege seus filhos da forma grave da doença e 14% dos entrevistados disseram que não vacinarão de forma alguma os filhos, alegando não achar importante a imunização, pelo fato de acreditarem que a doença acometeu somente idosos e pessoas com comorbidades.
De acordo com a diretora médica da Pfizer, Adriana Ribeiro, a descrença nas vacinas é causada pela desinformação e pelas fake news e isso tem se tornado um desafio enorme para as autoridades sanitárias. A Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais aponta que, enquanto mais de 80% das pessoas se imunizaram com primeira e segunda doses contra a COVID-19, 63% dos mineiros tomaram a primeira dose de reforço e 47% a segunda.
Texto Original Estado de Minas
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Fonte: Estado de Minas
Imagem: Pixabay