Tudo o que você precisa saber sobre catarata e presbiopia

por Helorrany Rodrigues da Silva publicado 25/04/2022 08h20, última modificação 24/04/2022 13h29
Entenda como, com o avanço da idade, a presbiopia e a catarata podem danificar a visão. Conheça os procedimentos disponíveis para resolver o problema

Assim como todos os outros órgãos e tecidos do corpo humano, os olhos sofrem com o desgaste natural conforme a idade avança. Como nós, as células do organismo vão envelhecendo e isso pode afetar o funcionamento de algumas estruturas.

Um dos sentidos muito afetados pela idade é a visão. Entre as alterações, pode ocorrer o amarelamento ou o escurecimento dos olhos, causado pelo longo período de exposição à luz ultravioleta, vento e poeira, o surgimento de manchinhas, a diminuição da produção lacrimal e da lubrificação ocular, entre outras.

Na maioria das vezes, apesar do desconforto, essas alterações não causam grandes prejuízos à visão, diferentemente de dois dos efeitos do envelhecimento ocular que, uma hora ou outra, segundo o oftalmologista e fundador do Instituto da Visão de Curitiba (iVisão), Marcello Fonseca, vão chegar para todos: a presbiopia e a catarata.

A primeira é bastante conhecida como "vista cansada" e causa dificuldade para enxergar à curta distância. A catarata se caracteriza pela perda gradual da visão e, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é a principal causa de cegueira reversível no mundo.

No Brasil, de acordo com levantamento do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), a doença é responsável por 49% dos casos de perda de visão. Mas como o envelhecimento dos olhos pode causar esses problemas e como reverter? Para isso, é necessário entender um pouco mais sobre nossos olhos.

O globo ocular

- Os olhos são formados por diversas camadas, lentes pelas quais a luz passa até chegar ao nervo óptico. A mais exterior delas é a córnea, a primeira a ser atingida pela luz, formada por um tecido transparente e resistente que protege o globo ocular contra trauma e infecções.

- Em seguida, temos a íris, parte que dá cor aos nossos olhos e ajuda no controle da abertura e fechamento da pupila. Esta é uma abertura na região central do globo, por onde a luz vai entrar.

- Após a pupila, chegamos ao cristalino e é nele que precisamos prestar um pouco mais de atenção para entender a catarata e a presbiopia.

- Após o cristalino, temos a retina, na parte interior dos olhos, que recebe a luz e cria os impulsos nervosos para o nervo óptico, que então leva os estímulos para o cérebro.

A catarata e a presbiopia

- O cristalino é uma lente transparente que ajusta o foco de luz e se movimenta permitindo a focalização de objetos em diferentes distâncias. Para exercer suas funções, Marcello Fonseca, oftalmologista e fundador do Instituto da Visão de Curitiba (iVisão), explica que duas características são essenciais ao cristalino: a transparência e a flexibilidade.

- Com o envelhecimento, a partir dos 40 anos, ele começa a perder a flexibilidade, trazendo os primeiros sinais da presbiopia. O enfraquecimento das fibras da lente faz com que o olho não consiga focar os objetos mais próximos com a mesma facilidade.

- A condição tende a ir evoluindo com o passar dos anos, sendo necessário manter um livro, por exemplo, cada vez mais longe do rosto para conseguir enxergar.

- O tratamento principal nesses casos é o uso de óculos ou lentes de contato que corrijam o foco da visão.

- Já a catarata é causada pelo embaçamento do cristalino. Essa lente transparente de dentro do olho começa a se tornar mais opaca, dificultando ou impedindo, nos casos mais graves, a chegada de luz na retina.

- A catarata pode começar seus estágios mais brandos a partir dos 45 anos e tende a se agravar após os 50 ou 60.

- O tratamento da catarata é cirúrgico. Há algum tempo, a operação só costumava ser indicada em casos de cegueira completa ou muito grave. Os riscos eram altos e, por isso, somente pacientes mais avançados tinham a indicação.

- Marcello explica que, com a evolução da tecnologia, a cirurgia se torna cada dia mais segura. Antes, com uma incisão maior para a remoção do cristalino e sua substituição por uma lente artificial, o risco de infecções e da criação de um grau de miopia, astigmatismo e hipermetropia era grande.

- O oftalmologista esclarece que o risco era de que a incisão e a movimentação no olho modificassem a forma ou angulação da córnea, podendo, assim, induzir o surgimento de algum grau não existente.

- Atualmente, não só a incisão é menor e mais segura, como as lentes são mais modernas.

- O que antes era feito com a doença muito mais avançada pode ser feito em pacientes mais jovens. Além de curar a catarata, a cirurgia de substituição do cristalino melhora a presbiopia e pode, a depender da lente usada, já trazer a correção de grau.

- A catarata e a presbiopia são eliminadas com um cristalino novo e ele pode trazer, para a lente interna do olho, a correção feita pelas lentes externas, como as de contato e os óculos.

- A cirurgia pode ser indicada para pessoas a partir dos 40 que já apresentam algum sinal de catarata, evitando que a condição se agrave e melhorando a qualidade de vida com relação a outras alterações de visão que exigem a correção.

- A técnica tem algumas contraindicações. A cirurgia corrige problemas causados pelo cristalino e pode ajudar nos graus relacionados ao formato da córnea. No entanto, quando alterações na córnea são muito pronunciadas ou existem doenças como o ceratocone, a cirurgia não é uma opção.

- Marcello explica que não adianta fazer a substituição do cristalino se o paciente tem patologias em outras áreas do globo ocular que continuarão impedindo a visão.

- Para explicar melhor, o oftalmologista faz a analogia com uma câmera fotográfica. “A câmera tem duas lentes e o filme, se eu substituir a lente do meio, e a primeira tiver muitos defeitos, não vai resolver. Se o filme, que na analogia seria a retina, não captar e transmitir a imagem, não tem por que corrigir a lente”.

- Nesses casos, em pessoas com degeneração macular, por exemplo, a cirurgia não é indicada porque não teria efeito.

Palavra do especialista

Existem outros tratamentos para catarata, além da cirurgia?

Não. A cirurgia é o único tratamento que existe atualmente. Existem alguns anúncios na internet, falam sobre fisioterapias ou colírios, mas nada disso tem comprovação científica.

A cirurgia é feita nos dois olhos de uma vez?

Quando o paciente é novo e a catarata é por trauma ou infecção, só é operado o olho afetado. Na catarata senil, os dois costumam ser operados, mas a grande maioria dos cirurgiões faz um de cada vez. O paciente pode ficar com a visão embaçada por algumas semanas, então fazemos um por vez para não impossibilitar a pessoa de enxergar.

A catarata pode surgir antes dos 50 anos?

É raro, mas pode. Quando ocorre de forma natural, é chamada de catarata senil. Mas ela pode acontecer como resultado de trauma, infecção ou mesmo com o uso contínuo de medicamentos, como corticoides. Quando surge antes dos 50, ela costuma ter algum componente patológico. Existem também hábitos que podem acelerar o processo, como o tabagismo.

Quando é importante procurar o oftalmologista?

Muita gente só vai quando está com a visão muito comprometida, outros só avaliam os graus. É muito importante incluir essas consultas como uma rotina de saúde, após os 40, é mandatório. Muitas doenças evoluem devagar e podem ser curadas se descobertas cedo.

Danillo Almeida é médico oftalmologista do Hospital Santa Lúcia

Com Informações Correio Braziliense
Imagem: Correio Braziliense