Terceira dose da vacina da Pfizer alcança eficácia de 95,6% contra covid-19

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 23/10/2021 12h48, última modificação 23/10/2021 12h48
Dados serão enviados pelas companhias a agências reguladoras

A terceira dose da vacina da Pfizer/BioNTech para covid-19 alcançou uma eficácia de 95,6% em um estudo com mais de 10 mil participantes acima de 16 anos. Em um comunicado, as companhias afirmaram que esse resultado foi obtido durante um período em que a variante delta já era a dominante. Com esses dados, que ainda não foram publicados em uma revista científica revisada por pares, os executivos do consórcio pretendem obter autorização de agências reguladoras para o licenciamento do reforço para qualquer pessoa que tenha tomado as duas doses anteriores.

Criticada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que alega uma baixa cobertura vacinal em diversos países, especialmente os africanos e do sudeste asiático, a dose adicional vem sendo aplicada em muitos países, incluindo o Brasil. Porém, apenas para casos específicos, como o de profissionais de saúde, idosos e imunossuprimidos. A Pfizer e a BioNTech pretendem convencer governos de que uma terceira aplicação da vacina pode ser expandida à população em geral. Os dois laboratórios também aguardam autorização da agência norte-americana Food and Drug Administration (FDA) para imunizar crianças a partir de 5 anos.

Todos os participantes do ensaio de fase 3 haviam recebido as duas doses antes e foram divididos em grupos aleatórios: metade teve o reforço 11 meses depois da segunda aplicação, enquanto os demais foram inseridos no braço de placebo. A ocorrência de covid-19 com sintomas foi acompanhada, em média, por dois meses e meio. Nesse período, houve cinco casos no grupo do reforço e 109 no placebo, o que significa uma eficácia relativa de 95,6%.

A idade média dos participantes foi de 53 anos, com 55,5% deles entre 16 e 55 e 23,3% acima dos 65. Segundo o comunicado, as análises de subgrupos mostraram que os resultados foram iguais, independentemente de idade, sexo, raça, etnia ou comorbidades. A Pfizer e a BioNTech afirmaram que esses são os primeiros resultados de eficácia da dose de reforço em um ensaio randomizado (que inclui o grupo de placebo) e controlado.

"Esses resultados fornecem mais evidências dos benefícios dos reforços, pois nosso objetivo é manter as pessoas bem protegidas contra essa doença", disse, no comunicado Albert Bourla, diretor-executivo da Pfizer. "Além de nossos esforços para aumentar o acesso global e a aceitação entre os não vacinados, acreditamos que os reforços têm um papel crítico a desempenhar no tratamento da ameaça contínua à saúde pública desta pandemia. Esperamos compartilhar esses dados com as autoridades de saúde e trabalhar juntos para determinar como eles podem ser usados para apoiar a implementação de doses de reforço em todo o mundo."

Contenção da pandemia

Também em nota, o cofundador da BioNTech Ugur Sahin ressaltou: "Com base nessas descobertas, acreditamos que, além do amplo acesso global às vacinas para todos, as vacinações de reforço podem desempenhar um papel importante na sustentação da contenção da pandemia e no retorno à normalidade."

"O uso de reforços de vacinas é controverso, com a OMS continuando a pedir que o seja evitado de forma ampla, a fim de permitir o fornecimento de doses adicionais de para países que até agora não puderam iniciar campanhas de vacinação e não podem vacinar suas populações sem aumento da ajuda internacional", destacou Penny Ward, professora de medicina farmacêutica do King’s College de Londres.

Já Benjamin Neuman, virologista da Universidade do Texas, aposta no reforço para contenção da pandemia. "Estudos recentes mostram que os níveis de anticorpos diminuem aproximadamente nas mesmas taxas em jovens e idosos, e que uma terceira dose aumenta esses índices muito mais que apenas duas injeções. Os benefícios do reforço, nesse sentido, parece consistente em todas as faixas etárias", diz, alegando que isso justifica ampliar a dose extra para a população em geral.

Mortalidade

Ontem, a OMS informou que a covid-19 pode ter matado entre 80 mil a 180 mil profissionais da saúde até maio desde ano e insistiu que esse grupo deve ter prioridade na vacinação. "Os dados de 119 países sugerem que, em média, dois em cada cinco profissionais da saúde em todo o mundo estejam completamente imunizados", afirmou, em uma coletiva de imprensa, o diretor-geral Tedros Adhanom Ghebreyesus, em coletiva de imprensa.

"Mas é óbvio que essa média esconde enormes diferenças entre regiões e setores econômicos. Na África, menos de 1 em cada 10 profissionais da saúde foi completamente imunizado, enquanto na maioria dos países de renda alta, mais de 80% estão vacinados com o esquema completo", continuou Ghebreyesus, citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).

A OMS fez um apelo a todos os países para que priorizem a vacinação contra a covid-19 para os profissionais da saúde, junto aos outros grupos de risco. Ghebreyesus também voltou a denunciar a desigualdade da distribuição do imunizante e pediu aos países com doses suficientes para compartilhá-las, enquanto o mecanismo internacional Covax denuncia a falta de vacinas suficientes.

"Os países do G20 se comprometeram a doar mais de 1,2 bilhão de doses de vacinas ao Covax. Até agora, apenas 150 milhões foram entregues. Para a maioria das doações, não temos um calendário. Não sabemos quantas doses o Covax vai receber, nem quando", lamentou.

Evidências de sazonalidade

Pesquisadores do Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal) publicaram um artigo na revista Nature Computer Sciences afirmando que têm "evidências robustas de que a covid-19 é uma infecção sazonal, ligada a baixas temperaturas e umidade", assim como a gripe. O estudo também reforça que o vírus Sars-CoV-2 é transmitido por aerossóis, indicando a necessidade da "adoção de medidas que promova a higiene do ar".

Os cientistas analisaram, pela primeira vez, a associação de temperatura e umidade na fase inicial da pandemia em 162 países, antes que mudanças de comportamento - como o uso de máscaras - e políticas de saúde pública fossem implementadas. Os resultados mostram uma relação negativa entre a taxa de transmissão e o clima: os índices mais altos foram associados a temperaturas e umidades mais baixas.

A equipe, então, analisou como a associação entre clima e doença evoluiu ao longo do tempo e se era consistente em diferentes escalas geográficas. Para isso, foi usado um método estatístico especializado no reconhecimento de padrões em diferentes janelas de tempo. 

Novamente, os cientistas encontraram uma forte correspondência negativa entre clima e transmissão durante as três ondas da pandemia em diferentes escalas espaciais: mundo, países, regiões e cidades. As primeiras ondas epidêmicas diminuíram conforme a temperatura e a umidade aumentaram. A segunda onda, indica o estudo, tornou-se maior quando a temperatura e a umidade caíram.
Ao adaptar o modelo para o Hemisfério Sul, onde o vírus chegou mais tarde, foi observada a mesma correlação negativa. Os efeitos climáticos foram mais evidentes em temperaturas entre 12°C e 18°C e níveis de umidade entre 4 e 12 g/m3, embora os pesquisadores alertem que essas variações ainda são indicativas, devido aos poucos registros disponíveis.
 

De acordo com os autores do estudo, a sazonalidade pode contribuir de maneira importante para a transmissão do Sars-CoV-2, uma vez que as condições de baixa umidade reduzem o tamanho dos aerossóis e, assim, aumentam a transmissão aérea de vírus como a gripe.

Com informações Correio Brasiliense
Imagem: Bobyn Beck/AFP