Superexploração do solo ameaça sobrevivência humana e de outras espécies, diz ONU

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 29/04/2022 13h10, última modificação 29/04/2022 10h10
Documento aponta importância da restauração para atingir metas de contenção da crise climática

No ritmo atual, em menos de três décadas, uma área do tamanho da América do Sul estará em um processo de degradação persistente do solo. O uso sustentável do solo é questão de "sobrevivência", alerta relatório da ONU publicado na quarta-feira (27).

"Nossa forma de gerir e usar os recursos terrestres ameaça a saúde e a sobrevivência de muitas espécies da Terra, inclusive a humana", disse Ibrahim Thiaw, secretário-executivo da Convenção das Nações Unidas de Luta contra a Desertificação (UNCCD, na sigla em inglês), responsável pelo documento. "O statu quo não é uma opção viável para a nossa sobrevivência e prosperidade."

O setor alimentício é responsável por 80% do desmatamento e usa 70% da água doce do mundo, aponta o relatório. Além disso, é o principal motor de extinção das espécies.

A próxima reunião da Convenção, formada por 197 partes, será celebrada em Abidjan (Costa do Marfim), a partir de 9 de maio. Na ordem do dia está a adaptação às secas, que se multiplicam devido às mudanças climáticas, a transição para uma agricultura sustentável e, de forma geral, recuperar a boa saúde das terras cultivadas.

Ao menos 70% do solo livre de gelo no mundo foi transformado para uso pelo ser humano, com instalação de infraestruturas, alojamentos e agricultura, e a maioria está degradada, o que faz diminuir seu rendimento.

"Já não resta muita terra", disse Barron Orr, encarregado científico da UNCCD. "E, no entanto, continuamos vendo um ritmo alto de mudanças nos usos."

Cerca 1% das empresas agroalimentares controlam 70% das terras agrícolas mundiais, destacou o relatório.

Frear a degradação também auxilia a atingir compromissos do Acordo de Paris, como manter o aumento da temperatura global em 2°C. "Os solos degradados emitem CO2", afirmou Thiaw.

O relatório avaliou diferentes cenários até 2050. Se nada for feito, seriam liberados 250 bilhões adicionais de toneladas de CO2 equivalente na atmosfera, quatro vezes as emissões anuais atuais de gases do efeito estufa.

Mas se os solos forem restaurados e protegidos, estes poderiam armazenar 300 bilhões de toneladas em relação a 2015.

O relatório recomendou reforçar os direitos à terra dos povos originários como uma forma de proteger o clima e a biodiversidade.

"Acolhemos com gosto nossos aliados nesta batalha, inclusive atores econômicos, mas não deixaremos que nos usem para um greenwashing", disse o venezuelano José Gregorio Diaz Mirabal, representante de 511 grupos originários da bacia do Amazonas.

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Com informações Folha de São Paulo/AFP

Imagem: Bibiana Canofre/Folhapress

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