Saúde vai investir em teste rápido que detecta sífilis e HIV

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 23/10/2023 14h10, última modificação 23/10/2023 13h01
Foram registrados 213 mil casos de sífilis no Brasil em 2022, crescimento de 23% em um ano.

Um teste rápido com capacidade para identificar, ao mesmo tempo, as infecções por sífilis e HIV será ofertado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O Ministério da Saúde vai investir R$27 milhões na aquisição da nova tecnologia, inédita no SUS, também chamada de duo teste, resultando em 4 milhões de unidades. A expectativa é que a distribuição para os estados ocorra ainda em 2023. A iniciativa vai possibilitar um tratamento mais ágil para a população e é mais um passo do governo federal para atender à meta de eliminar ou controlar, até 2030, 14 doenças com elevada incidência em regiões de maior vulnerabilidade social, como é o caso do HIV e da sífilis.

 

A infecção por sífilis tem cura, com diagnóstico e tratamento oferecidos gratuitamente pela rede pública de saúde. Mesmo assim, mais de 213 mil brasileiros foram identificados com a infecção em 2022, a partir da contaminação por relação sexual sem o uso de camisinha. O dado representa uma taxa de detecção de 99,2 casos por cem mil habitantes e é 23% maior que a registrado em 2021, que obteve taxa de 80,7 casos. As informações constam no Boletim Epidemiológico Sífilis 2023, divulgado pelo Ministério da Saúde nesta sexta-feira (20), em razão do Dia Nacional de Combate à Sífilis e à Sífilis Congênita.

 

A publicação revela, ainda, aumento no diagnóstico de sífilis em gestantes, que passou de 28,1 casos, em 2021, para 32,4 casos a cada mil nascidos vivos no ano passado. Já a taxa de incidência da sífilis congênita, que é transmitida durante a gestação, se manteve estável em 2022, em relação a 2021, com o alcance de aproximadamente dez casos por mil nascidos vivos. No entanto, na comparação com 2019, ano pré-pandemia, o crescimento foi de 16% em 2022.

 

O diretor do Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde, Draurio Barreira, explica que a implementação do novo teste é um investimento do governo federal para fortalecer o rastreio e ampliar o acesso da população ao tratamento. “A oferta do duo teste vai ampliar principalmente a testagem de sífilis, que acontecerá de maneira simultânea ao HIV, uma vez que se percebe uma maior testagem de HIV por testes rápidos em comparação ao de sífilis em alguns cenários. Além disso, deve agilizar o trabalho das equipes de saúde na ponta, pois, com um único teste, será possível realizar dois exames e iniciar o tratamento único e simultâneo”, explica.

 

Inicialmente, o duo teste será direcionado para o rastreio da sífilis em mulheres grávidas, trabalhadoras do sexo e homens que fazem sexo com homens. As demais pessoas serão testadas com a tecnologia que já é ofertada atualmente. Entre as vantagens do novo teste, estão a simplificação do processo de execução, que exige apenas um reagente, e a redução do espaço necessário para armazenamento nos postos de atendimento. Assim como o rastreio que já é feito, a leitura de resultado do duo teste será de até 30 minutos, sem a necessidade de estrutura laboratorial. A eficácia do duo teste foi confirmada pelo Instituto Evandro Chagas antes da compra por parte do Ministério da Saúde. A análise demonstrou parâmetros de desempenho e eficácia correspondentes aos alcançados pela testagem de referência.

 

Entre os indicadores de desempenho da atenção primária, a porta de entrada do SUS, onde a população acessa o teste rápido, está a testagem por HIV e sífilis. Entre janeiro e outubro de 2022, o Ministério da Saúde registrou 62% das gestantes com teste realizado durante o pré-natal, número que subiu para 73% no mesmo período deste ano. Para aumentar ainda mais o diagnóstico, a pasta vai reforçar a qualificação dos profissionais de saúde para prevenção e cuidado de doenças de transmissão vertical (HIV, sífilis, hepatites virais, toxoplasmose e outros) a partir de 2024.

 

Comitê Interministerial para Eliminação de Doenças Determinadas Socialmente


De forma inédita, nove ministérios se reuniram para elaborar estratégias de eliminação de doenças que acometem, de forma mais intensa, as populações de maior vulnerabilidade social. O Comitê Interministerial para Eliminação da Tuberculose e Outras Doenças Determinadas Socialmente (CIEDDS) foi instalado em junho deste ano. Coordenado pelo Ministério da Saúde, o grupo irá funcionar até janeiro de 2030.

 

Dados da pasta apontam que, entre 2017 e 2021, as doenças determinadas socialmente foram responsáveis pela morte de mais de 59 mil pessoas no Brasil. O plano de trabalho inicial inclui enfrentar 11 dessas enfermidades – como malária, esquistossomose, doença de Chagas e hepatites virais - além da transmissão vertical de sífilis, hepatite B, HIV e HTLV. Essa estratégia está alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidades (ONU).

 

Especificamente sobre a sífilis, o objetivo é eliminar a sífilis congênita como problema de saúde pública. A sífilis congênita é consequência da transmissão da sífilis durante a gestação e/ou parto. Já sobre o HIV, a meta é ter 95% das pessoas vivendo com HIV diagnosticadas, destas, 95% em tratamento e 95% com carga viral controlada.

 

A instalação do CIEDDS parte da premissa que garantir o acesso apenas ao tratamento em saúde não é suficiente para atingir essas metas. É preciso propor políticas públicas intersetoriais que sejam voltadas para a equidade em saúde e para a redução das desigualdades sociais, fator diretamente ligado às causas do problema.

 

Certificação pela eliminação da transmissão vertical de sífilis e/ou HIV


O Processo de Certificação da Eliminação da Transmissão Vertical de HIV e/ou Sífilis é uma prioridade nacional que visa reconhecer e difundir boas práticas no Brasil. Também possibilita a obtenção de Selos de Boas Práticas (bronze, prata e ouro) para estados e municípios com mais de 100 mil habitantes que tenham alcançado indicadores e metas de impacto e processo próximos da eliminação, bem como o cumprimento de prerrogativas mínimas nos quatro eixos: vigilância; capacidade diagnóstica; programas e serviços; e direitos humanos e participação da comunidade.

 

Em 2022, foram certificados 43 municípios com alcance de eliminação ou selos de boas práticas, sendo 17 certificações duplas (HIV e sífilis) e cinco certificações para sífilis. Este ano, foram recebidas mais de 90 solicitações de certificação. O Departamento de HIV, Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis adianta que o número de certificações para sífilis vai superar as do ano passado. A cerimônia de certificação está prevista para o mês de dezembro.


Sífilis


A sífilis é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) curável e exclusiva do ser humano, causada pela bactéria Treponema pallidum. Pode apresentar várias manifestações clínicas e diferentes estágios (sífilis primária, secundária, latente e terciária). Nos estágios primário e secundário da infecção, a possibilidade de transmissão é maior. A sífilis pode ser transmitida por relação sexual sem camisinha com uma pessoa infectada ou para a criança durante a gestação ou parto.

 

A infecção por sífilis pode colocar em risco não apenas a saúde do adulto, como também pode ser transmitida para o bebê durante a gestação. O acompanhamento das gestantes e parcerias sexuais durante o pré-natal previne a sífilis congênita e é fundamental. Em formas mais graves da doença, como no caso da sífilis terciária, se não houver o tratamento adequado pode causar complicações graves como lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas, podendo levar à morte.

 

SINAIS E SINTOMAS

 

Os sinais e sintomas da sífilis variam de acordo com cada estágio da doença, que se divide em:


SÍFILIS PRIMÁRIA

 

  • Ferida, geralmente única, no local de entrada da bactéria (pênis, vulva, vagina, colo uterino, ânus, boca, ou outros locais da pele), que aparece entre 10 e 90 dias após o contágio. Essa lesão é rica em bactérias e é chamada de “cancro duro”;
  • Normalmente, ela não dói, não coça, não arde e não tem pus, podendo estar acompanhada de ínguas (caroços) na virilha;
  • Essa ferida desaparece sozinha, independentemente de tratamento.

SÍFILIS SECUNDÁRIA

 

  • Os sinais e sintomas aparecem entre seis semanas e seis meses do aparecimento e cicatrização da ferida inicial;
  • Podem surgir manchas no corpo, que geralmente não coçam, incluindo palmas das mãos e plantas dos pés. Essas lesões são ricas em bactérias;
  • Pode ocorrer febre, mal-estar, dor de cabeça, ínguas pelo corpo;
  • As manchas desaparecem em algumas semanas, independentemente de tratamento, trazendo a falsa impressão de cura;

SÍFILIS LATENTE – FASE ASSINTOMÁTICA

 

  • Não aparecem sinais ou sintomas;
  • É dividida em:
    latente recente (até um ano de infecção) e latente tardia (mais de um ano de infecção).
  • A duração dessa fase é variável, podendo ser interrompida pelo surgimento de sinais e sintomas da forma secundária ou terciária.

SÍFILIS TERCIÁRIA

 

  • Pode surgir entre 1 e 40 anos após o início da infecção;
  • Costuma apresentar sinais e sintomas, principalmente lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas, podendo levar à morte.

 

Uma pessoa pode ter sífilis e não saber, isso porque a doença pode aparecer e desaparecer, mas continuar latente no organismo. Por isso é importante se proteger, fazer o teste e, se a infecção for detectada, tratar da maneira correta.

 

DIAGNÓSTICO

 

O teste rápido (TR) de sífilis está disponível nos serviços de saúde do SUS, sendo prático e de fácil execução, com leitura do resultado em, no máximo, 30 minutos, sem a necessidade de estrutura laboratorial. Esta é a principal forma de diagnóstico da sífilis. O TR de sífilis é distribuído pelo Departamento das IST, do HIV/Aids e das Hepatites Virais/Secretaria de Vigilância em Saúde/Ministério da Saúde (DIAHV/SVS/MS) como parte da estratégia para ampliar a cobertura diagnóstica da doença.

 

Nos casos de TR positivos (reagentes), uma amostra de sangue deverá ser coletada e encaminhada para realização de um teste laboratorial (não treponêmico) para confirmação do diagnóstico. Deve-se avaliar a história clínico-epidemiológica da mãe, o exame físico da criança e os resultados dos testes, incluindo os exames radiológicos e laboratoriais, para se chegar a um diagnóstico seguro e correto de sífilis congênita.

 

Em caso de gestante, devido ao risco de transmissão ao feto, o tratamento deve ser iniciado com apenas um teste positivo (reagente), sem precisar aguardar o resultado do segundo teste.

TRATAMENTO

 

O tratamento de escolha é a penicilina benzatina (benzetacil), que poderá ser aplicada na unidade básica de saúde mais próxima de sua residência. Esta é, até o momento, a principal e mais eficaz forma de combater a bactéria causadora da doença. Quando a sífilis é detectada na gestante, o tratamento deve ser iniciado o mais rápido possível, com a penicilina benzatina. Este é o único medicamento capaz de prevenir a transmissão vertical, ou seja, de passar a doença para o bebê.

 

A parceria sexual também deverá ser testada e tratada para evitar a reinfecção da gestante. São critérios de tratamento adequado à gestante:


  • Administração de penicilina benzatina;
  • Início do tratamento até 30 dias antes do parto;
  • Esquema terapêutico de acordo com o estágio clínico da sífilis;
  • Respeito ao intervalo recomendado das doses.

PREVENÇÃO 

 

O uso correto e regular da camisinha feminina e/ou masculina é a medida mais importante de prevenção da sífilis, por se tratar de uma Infecção Sexualmente Transmissível. A testagem e acompanhamento das gestantes e parcerias sexuais durante o pré-natal contribui para o controle da sífilis congênita. Acesse o conteúdo específico de sífilis congênita.

 

HIV/AIDS

 

A Aids é a doença causada pela infecção do Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV é a sigla em inglês). Esse vírus ataca o sistema imunológico, que é o responsável por defender o organismo de doenças. As células mais atingidas são os linfócitos T CD4+. O vírus é capaz de alterar o DNA dessa célula e fazer cópias de si mesmo. Depois de se multiplicar, rompe os linfócitos em busca de outros para continuar a infecção.


HIV: É um retrovírus, classificado na subfamília dos Lentiviridae e é uma Infecção Sexualmente Transmissível. Esses vírus compartilham algumas propriedades comuns, como por exemplo:


  • Período de incubação prolongado antes do surgimento dos sintomas da doença;
  • Infecção das células do sangue e do sistema nervoso;
  • Supressão do sistema imune.

Importante: 
Pessoas vivendo com HIV e/ou Aids que não estão em tratamento ou mantém a carga viral detectável podem transmitir o vírus a outras pessoas pelas relações sexuais desprotegidas, pelo compartilhamento de seringas contaminadas ou de mãe para filho durante a gravidez e a amamentação, quando não tomam as devidas medidas de prevenção. Por isso, é sempre importante fazer o teste e se proteger em todas as situações.
Indetectável = Intransmissível (I = I): pessoas vivendo com HIV / Aids em tratamento antirretroviral e carga viral indetectável há pelo menos seis meses não transmitem o vírus por via sexual. 

SISTEMA IMUNOLÓGICO

 

O corpo reage diariamente aos ataques de bactérias, vírus e outros micróbios, por meio do sistema imunológico. Muito complexa, essa barreira é composta por milhões de células de diferentes tipos e com diferentes funções, responsáveis por garantir a defesa do organismo e por manter o corpo funcionando livre de doenças.


Entre as células de defesa estão os linfócitos T-CD4+, principais alvos do HIV, vírus causador da Aids, e do HTLV, vírus causador de outro tipo de doença sexualmente transmissível. São esses glóbulos brancos que organizam e comandam a resposta diante dos agressores. Produzidos na glândula timo, eles aprendem a memorizar, reconhecer e destruir os microrganismos estranhos que entram no corpo humano.


O HIV liga-se a um componente da membrana dessa célula, o CD4, penetrando no seu interior para se multiplicar. Com isso, o sistema de defesa vai pouco a pouco perdendo a capacidade de responder adequadamente, tornando o corpo mais vulnerável a doenças. Quando o organismo não tem mais forças para combater esses agentes externos, a pessoa começar a ficar doente mais facilmente e então se diz que tem Aids.


JANELA IMUNOLÓGICA

 

Janela imunológica é o intervalo de tempo decorrido entre a infecção pelo HIV até a primeira detecção de anticorpos anti-HIV produzidos pelo sistema de defesa do organismo. Na maioria dos casos, a duração da janela imunológica é de 30 dias. Porém, esse período pode variar, dependendo da reação do organismo do indivíduo frente à infecção e do tipo do teste (método utilizado e sensibilidade).


Se um teste para detecção de anticorpos anti-HIV é realizado durante o período da janela imunológica, há a possibilidade de gerar um resultado não reagente, mesmo que a pessoa esteja infectada.


Dessa forma, recomenda-se que, nos casos de testes com resultados não reagentes em que permaneça a suspeita de infecção pelo HIV, a testagem seja repetida após 30 dias com a coleta de uma nova amostra.


É importante ressaltar que, no período de janela imunológica, o vírus do HIV já pode ser transmitido, mesmo nos casos em que o resultado do teste que detecta anticorpos anti-HIV for não reagente.


Importante:
Todas as pessoas diagnosticadas com HIV têm direito a iniciar o tratamento com antirretrovirais imediatamente, e, assim, poupar o seu sistema imunológico. Esses medicamentos (coquetel) impedem que o vírus se replique dentro das células T-CD4+ e evitam, assim, que a imunidade caia e que a Aids apareça.

INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS

 

As Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) são causadas por vírus, bactérias ou outros microrganismos. São transmitidas, principalmente, por meio do contato sexual (oral, vaginal, anal) sem o uso de camisinha masculina ou feminina, com uma pessoa que esteja infectada. A transmissão de uma IST pode acontecer, ainda, da mãe para a criança durante a gestação, o parto ou a amamentação. 


O tratamento das pessoas com IST melhora a qualidade de vida e interrompe a cadeia de transmissão dessas infecções. O atendimento e o tratamento são gratuitos nos serviços de saúde do SUS. A terminologia Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) passa a ser adotada em substituição à expressão Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), porque destaca a possibilidade de uma pessoa ter e transmitir uma infecção, mesmo sem sinais e sintomas.

 

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Fonte: Ministério da Saúde

Imagem: Freepik Free

Edição: Site TV Assembleia