Saúde e proteção de crianças de 0 a 6 anos pioram na pandemia

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 22/09/2022 08h15, última modificação 21/09/2022 18h36
Estudo com apoio do Unicef alerta para o risco de prejuízos à geração que cresce nessas condições

Indicadores nacionais de saúde, educação, proteção e segurança alimentar de crianças de 0 a 6 anos pioraram desde o início da pandemia de Covid-19. O Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) alerta para os riscos de prejuízos para o desenvolvimento infantil de toda uma geração que nasceu nessas condições.

 

A conclusão é de um estudo feito pela FMCSV (Fundação Maria Cecília Souto Vidigal), com o apoio do Unicef e Itaú Social, que comparou dez indicadores da qualidade de vida de crianças no período da primeira infância. O levantamento foi divulgado nesta quarta-feira (21).

 

O estudo mostra que os riscos às crianças foram ampliados antes mesmo de nasceram, já que os indicadores de saúde materna no país pioraram neste período.

 

A razão de mortalidade materna no país, que se mantinha praticamente estável de 2015 a 2019, com 60 óbitos a cada 100 mil nascidos vivos, passou a 113,6 óbitos a cada 100 mil nascidos vivos, em 2021. Mais da metade dos óbitos maternos ocorridos no ano passado foi devido à infecção por Covid-19 (53,4%).

 

Também houve queda nas taxas de acompanhamento pré-natal nesse período. Antes da pandemia, 72,9% dos bebês nascidos tinham nascido de mães que fizeram mais de sete consultas de pré-natal. Em 2021, essa taxa caiu para 72,2%

 

Os dados mostram ainda que a cobertura pré-natal ocorre de forma desigual no país. Entre as mulheres brancas, mais de 80% fizeram sete ou mais consultas. Já entre as mulheres pretas, pardas ou indígenas, a taxa cai para 65%.

 

"A pior assistência médica para mulheres negras no Brasil expõe o racismo e desigualdade históricas país e as perpetua, já que os filhos dessas mulheres ficam mais expostos a riscos no início da vida", diz Marina Fragata, diretora de conhecimento aplicado da FMCSV.

 

 

O estudo também mostra a queda de cobertura vacinal nos dez imunizantes específicos da primeira infância no período de 2019 a 2021. A BCG, por exemplo, tinha uma cobertura de 86,6%. Em 2021, ela caiu para 68,6%. Já a poliomielite caiu de 84,1% para 69,4%. Em 30% dos municípios consultados no levantamento com os gestores, as famílias deixaram de levar as crianças de até 6 anos aos postos de saúde para tomar uma ou mais vacinas.

 

Em educação, o estudo identificou a perda ao direito constitucional de acesso à escola entre as crianças pequenas. De 2019 a 2021, houve diminuição de quase 338 mil matrículas nas creches.

 

"Os primeiros seis anos de vida das crianças são considerados a principal janela de oportunidade para o aprendizado e desenvolvimento. Muitas crianças no país, principalmente as mais pobres e negras, tiveram essa oportunidade perdida nesse período", diz Maíra Souza, oficial de primeira infância do Unicef.

 

O levantamento também identificou o impacto da crise econômica na nutrição infantil. Os dados mostram que o percentual de crianças de 0 a 5 anos que estavam muito abaixo do peso passou de 1,1%, em março de 2020, para 1,7%, em novembro de 2021 - o que corresponde a cerca de 324 mil crianças.

 

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Fonte: Folha de São Paulo

Imagem: Rubens Cavallari/06.mai.22 Folhapress

Edição: Site TV Assembleia