Saiba sobre dificuldade com leitura de digitais nas eleições

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 05/10/2022 08h10, última modificação 04/10/2022 20h20
Pele ressecada, uso de álcool gel e ferimentos podem mudar temporariamente arquitetura da pele da ponta dos dedos

(Folha de São Paulo) - Na votação do último domingo, (2), um aposentado de 72 anos tentou por quase dez minutos confirmar a sua identidade por meio da biometria em uma escola na cidade de São Paulo. Usou os polegares e os indicadores previamente cadastrados no cartório eleitoral, mas não teve sucesso. As suas digitais não foram reconhecidas. O jeito foi informar o ano de nascimento e, depois de votar, assinar o caderno de votação.

 

Essas falhas foram observadas com frequência nos colégios eleitorais e citadas como um dos principais motivos das demoradas filas em muitas sessões, segundo mesários ouvidos pela Folha nos colégios Santa Cruz, em Alto de Pinheiros, na zona oeste, Sion e Rio Branco, em Higienópolis, na região central.

 

Mas por que essas falhas acontecem? Além das razões técnicas (qualidade do leitor, por exemplo), há vários motivos individuais, desde o mal posicionamento da mão, dedos molhados ou secos demais, até mudanças no padrão das digitais, causados pelo envelhecimento, cortes e substâncias abrasivas.

 

As pessoas nascem com um padrão único de sulcos na ponta dos dedos, as chamadas impressões digitais. É com base nessa capacidade de identificação que a tecnologia da leitura de impressão digital foi criada.

 

"A região da palma da mão e da planta dos pés, que a gente chama de pele glabra, tem uma anatomia, uma arquitetura, muito característica. É formada por saliências e reentrâncias, que formam desenho específico de cada indivíduo", explica o dermatologista Marcus Maia, professor da Santa Casa de São Paulo.

 

Se a camada mais externa da pele (a mais grossa) estiver aplanada de alguma maneira, essas saliências e reentrâncias podem se "apagar", o que fica dificultará a leitura das digitais, acrescenta o médico.

 

Um dos fatores é o envelhecimento. Segundo Marina Carrara, ortopedista e cirurgiã da mão do Hospital Sírio-Libanês, a pele fica mais fina e mais ressecada. "Os hormônios regem toda a nossa fisiologia. E um dos efeitos da redução de hormônio na terceira idade é diminuição da espessura da camada da pele."

 

Mas não são só os idosos, diz a médica. Por questões fisiológicas individuais, há pessoas com a pele mais fina e que podem ter problemas na leitura das digitais porque elas, consequentemente, estarão muito fina, o que traz dificuldade para a leitura.

 

Dedos excessivamente secos devido ao clima frio também podem dificultar a leitura da digital.


Uma dica para caso isso aconteça, segundo Carrara, é esfregar os dedos no couro cabeludo para adicionar óleos corporais e um pouco de umidade à pele.

 

"Com mais gordura, acaba facilitando o contraste das linhas das digitais. Às vezes, basta essa diferençazinha para o sistema ler."

 

O excesso de suor ou de cremes na mão também pode dificultar a identificação dos sulcos, e a imagem obtida no aparelhinho não bate com aquela registrada no cartório eleitoral. Nesses casos, secar as mãos com um lenço de papel às vezes funciona.

 

Maia, da Santa Casa, explica que durante a pandemia do Covid-19, em que houve uso constante de álcool em gel para a higienização das mãos, muita gente sentiu dificuldade na leitura das digitais.

 

"Eu bato ponto digital no hospital, tenho que colocar o dedo [no sensor]. Tinha dia que era uma coisa de louco, não passava, tinha que hidratando a pele um pouco para ver se formavam de novo as saliências e reentrâncias", diz o médico, de 78 anos.

 

Pessoas que atuam na construção civil ou com limpeza, por exemplo, costumam estar mais expostas à substâncias químicas ou processos físicos e isso também pode mudar a arquitetura da pele da ponta do dedo.

 

A boa notícia é que, em geral, a condição não é definitiva: com a interrupção da exposição ao agente causador do desgaste e do uso de hidratantes, os pequenos sulcos na pele dos dedos podem voltar a se formar. Ou seja, o nosso corpo tem a capacidade de restaurá-los sozinho, com o tempo.

 

Quando há um corte grande no dedo, por exemplo, forma-me uma cicatriz que pode alterar a digital de uma pessoa. Da mesma forma que queimaduras nas pontas das falanges com fogo ou ácido pode desgastar totalmente esses sinais de nascença.

 

"Se mexe com a arquitetura da pele, quando tem uma cicatriz, por exemplo, o tecido que vai se formar pode não ter as características anteriores, ou seja, não vai parecer mais nada com a anatomia que o leitor ótico está acostumado, ele não vai ler. Nesses casos, tem que mudar de dedo para fazer a leitura", diz Maia.

 

...............................................

 

Fonte: Folha de São Paulo

Imagem: Alejandro Zambrana-15.set.2022/Secom/TSE

Edição Site TV Assembleia