Ricos são os que mais contribuem para a catástrofe climática

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 08/11/2021 10h27, última modificação 08/11/2021 10h27
Estudo realizado pela ONG britânica Oxfam revela que, em nove anos, emissões do 1% mais abastado serão 30 vezes maiores

As emissões de CO2 do 1% mais rico do mundo devem superar em 30 vezes o limite de aumento da temperatura média global de 1,5º Celsius estabelecido como meta pelo Acordo de Paris em 2030. A conclusão é de um relatório publicado ontem pela Oxfam, em parceria com o Instituto para Política Ambiental Europeia (IEEP) e com o Instituto Ambiental de Estocolmo (SEI). A divulgação do estudo ocorre no marco da COP26, a conferência do clima da Organização das Nações Unidas, em Glasgow. Nas ruas da cidade escocesa, milhares de jovens protestaram para pedir mais ações e menos palavras aos governos que negociam na COP26 medidas mais ambiciosas contra as mudanças climáticas. 

O relatório estima como as promessas dos governos afetarão as emissões de carbono dos mais ricos e dos mais pobres ao redor do mundo. De acordo com o dossiê, a metade mais pobre da população ainda liberará na atmosferá CO2 em níveis muito abaixo do limite de 1,5º C em 2030. Para cumprir com a meta definida pelo Acordo de Paris, o 1% mais rico da população mundial teriam que reduzir suas emissões em cerca de 97% em comparação com os índices atuais. 

Autor do estudo e chefe do Programa de Baixo Carbono e Economia Circular do IEEP, Tim Gore explica que a diferença das emissões globais para manter viva a meta de 1,5ºC não é o resultado do consumo da maioria da população mundial. "Ela reflete as emissões excessivas apenas dos cidadãos mais ricos do planeta. Para fechar a lacuna das emissões até 2030, é necessário que governos direcionem as medidas para seus maiores e mais ricos emissores — as crises climática e de desigualdade devem ser enfrentadas em conjunto." 

Por sua vez, Nafkote Dabi, chefe de Política Climática da Oxfam, disse que "as emissões de um único voo espacial de um bilionário excederiam as emissões de toda a vida de alguém entre o bilhão de pessoas mais pobres da Terra". "Uma pequena elite parece ter passe livre para poluir. Suas emissões excessivas estão alimentando condições climáticas extremas em todo o mundo e colocando em risco a meta internacional de limitar o aquecimento global", criticou. "As emissões de 10% dos mais ricos, sozinhas, poderiam nos levar além do limite acordado nos próximos nove anos. Isso teria resultados catastróficos para alguns dos povos mais vulneráveis, que já sofrem tempestades letais, fome e miséria."

"Fracasso"

A ativista sueca Greta Thunberg declarou que a COP26 é "um fracasso". "Não é segredo que a COP6 é um fracasso", disse Thunberg a milhares de manifestantes reunidos em Glasgow. "É uma celebração de duas semanas do 'aqui não acontece nada' e bla bla bla", acusou. "Isso não é mais uma conferência do clima. É um festival de lavagem de imagem." Após marcha festiva repleta de faixas, canções e bom humor, na cidade escocesa, a ativista colombiana Sofia Gutiérrez desabafou: "Para nós, esta luta é uma necessidade, não uma escolha".

Ao longo da primeira semana da COP26, as delegações dos países anunciaram grandes coalizões para reduzir o consumo de combustíveis fósseis, eliminar o financiamento de fontes de energia tradicionais e acelerar a transição, mas sem apresentar calendários claros. "Nossos líderes não estão liderando. Isso é liderança", gritou Greta, apontando para a multidão. 

"Não vamos à escola, queremos manter o planeta frio!", gritavam em inglês as crianças, muitas das quais faltaram às aulas acompanhadas pelos pais. Alguns se destacaram por sua engenhosidade: "A mudança climática é pior do que o dever de casa", uma criança carregava em um cartaz. Em outro protesto, manifestantes caracterizados como "criminosos do clima" e acorrentados eram escoltados por um "policial". Entre eles, estava o presidente Jair Bolsonaro.

O movimento As "Sextas-Feiras para o Futuro" foi uma ideia apresentada há mais de três anos por Greta Thunberg. Um pequeno protesto simbólico diante do Parlamento sueco se transformou em um movimento mundial, que atrai milhares de seguidores, e que tem como grande ponto de encontro as conferências do clima da ONU. "Manifestações como esta pressionam as pessoas que têm o poder", afirmou a ativista ugandesa Vanessa Nakate, uma das estrelas da geração de ativistas.

As mensagens alarmantes sobre a saúde do planeta preocupam os adolescentes, alertam especialistas. Em outubro, a ONU publicou uma grande pesquisa com os países do G20, ou seja, as 20 principais economias do planeta, da qual participaram mais de 300 mil jovens menores de 18 anos. Enquanto para 65% dos adultos as mudanças climáticas são uma grande urgência, no caso dos menores de 18 anos, o percentual sobe para 70%. 

Com informações Correio Brasiliense
Imagem: Daniel Leal/AFP