Reduzir calorias está ligado ao aumento do tempo de vida

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 14/02/2022 14h15, última modificação 14/02/2022 13h44
Um estudo da Universidade de Yale sugere que a estratégia pode ter associação com a expectativa de vida prolongada

Em laboratório, cientistas já demonstraram que camundongos, vermes e insetos, como a mosca da fruta, vivem mais quando há redução calórica na dieta. Já em humanos, essa questão nunca foi comprovada e, enquanto alguns especialistas, como os defensores do jejum intermitente, simpatizam com a ideia, não há recomendação oficial de cortar calorias para esses fins. Porém, um estudo da Universidade de Yale publicado, na quinta-feira (10/2) , na revista Science sugere que a estratégia pode ter associação com a expectativa de vida prolongada. Além disso, os cientistas identificaram um mecanismo genético que promove os mesmos benefícios da diminuição da ingestão energética, abrindo caminho para terapias futuras.

Os especialistas usaram dados do primeiro ensaio clínico controlado sobre restrição calórica em humanos, a Avaliação Abrangente dos Efeitos de Longo Prazo da Redução da Ingestão de Energia (Calerie). Nessa pesquisa, cerca de 200 participantes receberam uma quantidade fixa de calorias que poderiam ingerir diariamente. Posteriormente, parte deles teve de reduzir 14% desse total, enquanto os outros continuaram com o regime inicial. Ao longo de dois anos, os efeitos foram sendo avaliados pelos cientistas.

Autor sênior do estudo, Vishwa Deep Dixit, professor de patologia, imunobiologia e medicina comparada de Yale diz, em um comunicado, que o objetivo geral da pesquisa foi verificar se a restrição calórica é tão benéfica para humanos quanto para animais de laboratório. "Sabemos que a inflamação crônica de baixo grau em humanos é um dos principais gatilhos de muitas doenças crônicas e, portanto, tem um efeito negativo na expectativa de vida. Aqui, estamos perguntando o que a restrição calórica está fazendo com os sistemas imunológico e metabólico e, se é realmente benéfica, como podemos aproveitar as vias endógenas que imitam seus efeitos em humanos?", detalha.

Os pesquisadores analisaram, primeiro, o timo, glândula que fica acima do coração e é responsável pela produção das células T, componentes do sistema imunológico. Essa estrutura envelhece mais rápido que outros órgãos, servindo de parâmetro comparativo no estudo. Um exame de ressonância magnética apontou que o timo dos participantes com ingestão calórica limitada tinha menos gordura e maior volume funcional após dois anos de restrição, o que significa que estava produzindo mais células T do que no início do estudo. Entre as pessoas que não reduziram calorias, não se viu essa alteração. "O fato de que esse órgão pode ser rejuvenescido é, na minha opinião, impressionante, porque há muito pouca evidência de que isso aconteça em humanos", diz Dixit.

Genes

Com base em um sequenciamento das células T dos participantes com restrição calórica, a equipe descobriu, também, que essa estratégia age no microambiente de gordura. "Encontramos mudanças notáveis na expressão gênica do tecido adiposo entre o primeiro e o segundo ano de restrição calórica", relata Dixit. "Isso revelou alguns genes que foram implicados em prolongar a vida em animais." A pesquisa apontou também para alvos que podem melhorar a resposta metabólica e anti-inflamatória em humanos.

Mais análises genéticas mostraram que um gene específico, o PLA2G7, conduziu alguns dos efeitos benéficos da restrição calórica. Para entender melhor os efeitos da proteína, os pesquisadores fizeram um teste para reduzir sua expressão em camundongos. "Descobrimos que a redução do PLA2G7 produziu benefícios semelhantes ao que vimos com a restrição calórica em humanos", diz Olga Spadaro, principal autora do estudo. Especificamente, as glândulas timo desses animais foram funcionais por mais tempo, protegendo-os da inflamação relacionada à idade.

"O estudo mostra que a restrição calórica reconecta muitas das respostas metabólicas e imunológicas que aumentam a expectativa de vida e a saúde", diz o biomédico John Kirwan, do Centro de Pesquisa Biomédica de Pennington, na Louisiana. "Se os pesquisadores conseguirem encontrar uma maneira de manipular o PLA2G7, eles poderão criar um tratamento para prolongar o tempo saudável de uma pessoa, o tempo que um indivíduo goza de boa saúde." 

Com informações Correio Brasiliense
Imagem: AFP