Possível transmissão materno-infantil do vírus Oropouche no Brasil gera alerta regional

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 24/07/2024 07h10, última modificação 23/07/2024 17h55
Estado da Bahia já registra 2 mortes pela doença.

A Organização Pan-Americana da Saúde, Opas, emitiu um alerta epidemiológico sobre a identificação de possíveis casos de transmissão do vírus Oropouche, Orov, de mãe para filho na gestação, que estão sob investigação no Brasil.

 

O alerta recomenda reforçar a vigilância ante a possível ocorrência de casos similares em outros países com a circulação do Orov e outros arbovírus.

 

Brasil lidera número de casos


O patógeno é transmitido ao ser humano por meio da picada de um inseto comumente conhecido como maruim, bem como por espécies do mosquito culex.

 

O vírus foi detectado pela primeira vez em Trinidad e Tobago em 1955 e, desde então, têm sido documentados surtos esporádicos em vários países das Américas, incluindo Brasil, Equador, Guiana Francesa, Panamá e Peru. Recentemente, foi observado um aumento na detecção de casos na região.

 

Entre janeiro e meados de julho de 2024, quase 7,7 mil casos confirmados de Oropouche foram notificados em cinco países das Américas, com o Brasil registrando o número mais alto, de 6.976.

 

O país foi seguido pela Bolívia, Peru, Cuba e Colômbia. A identificação de suspeitas de transmissão do vírus da gestante para o bebê ocorre no contexto deste aumento de casos notificados.

 

Riscos da transmissão para o feto 


Em caso recente, uma gestante residente no estado de Pernambuco apresentou sintomas de Oropouche durante a 30ª semana de gestação. Após confirmação laboratorial da infecção por Orov, foi posteriormente reportada a morte do feto.

 

Um segundo caso suspeito foi notificado no mesmo estado brasileiro, onde sintomas semelhantes foram observados em uma gestante, e resultou em um aborto espontâneo.

 

Segundo a Opas "a possível transmissão vertical e as consequências para o feto ainda estão sendo investigadas". A nota informa ainda que essas informações são compartilhadas com os Estados-membros para que “estejam alertas para a ocorrência de eventos semelhantes em seus territórios".

 

No dia 17 de julho deste ano, a Opas publicou diretrizes para ajudar os países na detecção e vigilância do vírus Oropouche perante possíveis casos de infecção materno-infantil, malformações congênitas ou morte fetal.

 

A agência está trabalhando em estreita colaboração com os países onde foram confirmados casos para partilhar conhecimentos e experiências.

 

Principais sintomas


Entre os sintomas da doença estão a aparição repentina de febre, dor de cabeça, rigidez articular, dores e, em alguns casos, fotofobia, náuseas e vômitos persistentes que podem durar de cinco a sete dias.

 

Embora a apresentação clínica grave seja rara, pode evoluir para meningite asséptica. A recuperação completa pode levar várias semanas.

 

Para controlar o Orov, a Opas faz um chamado aos países da região para implementarem medidas de prevenção e controle de vetores, incluindo o fortalecimento da vigilância entomológica, a redução das populações de mosquitos e outros insetos transmissores.

 

A agência também ressalta a importância de conscientizar a população sobre medidas de proteção pessoal, especialmente gestantes, para prevenir picadas.

 

Bahia confirma duas mortes por febre oropouche

 

A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) confirmou duas mortes por febre oropouche, após análises realizadas pela Câmara Técnica de Análise de Óbitos da Diretoria de Vigilância Epidemiológica estadual. A infecção é provocada pelo vírus Orthobunyavirus oropoucheense (Orov) transmitido por mosquito.

 

De acordo com a Sesab, o primeiro óbito confirmado foi de uma mulher sem comorbidades, com 21 anos de idade, em 27 de março. A vítima era moradora do município de Valença (BA).

 

A segunda morte confirmada também foi de uma uma mulher sem registro de comorbidades. A moradora de Camamu (BA) tinha 24 anos e faleceu em Itabuna (BA), em 10 de maio. A morte foi divulgada somente nesta segunda-feira (22), após a realização de exames para confirmar a causa do óbito.

 

A secretaria baiana relata que as pacientes que morreram por febre oropuche apresentaram sintomas como febre, dor de cabeça, dor retro-orbital (na parte mais profunda do olho), mialgia (dor muscular), náuseas, vômitos, diarreia, dores em membros inferiores e fraqueza. Ambas evoluíram com sinais mais graves como: manchas vermelhas e roxas pelo corpo, sangramento nasal, gengival e vaginal, sonolência e vômito com hipotensão, sangramento grave, e apresentaram queda abrupta de hemoglobina e plaquetas no sangue.

 

Investigação

 

O Ministério da Saúde ainda investiga mais uma morte suspeita de febre oropouche em Santa Catarina. 

 

Em 2023 foram confirmados 832 casos da doença e, em 2024, foram feitos 7.236 registros de febre oropouche em 16 estados, o que representa aumento de 770,19% no número de casos notificados. Os infectados primeiramente estavam concentrados na Região Norte, passaram a ser identificados também em outras regiões do país.

 

A detecção de casos da doença foi ampliada para todo o país em 2023, após o Ministério da Saúde disponibilizar diagnósticos para a rede nacional de Laboratórios Centrais de Saúde Pública (Lacen).

 

Alertas

 

A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) destacou o aumento nos casos da doença sobretudo em municípios do Amazonas, Acre e Roraima. Esses três estados fazem fronteira com outros países da bacia Amazônica: Bolívia, Colômbia, Peru e Venezuela.

 

Na sexta-feira (18), a Opas emitiu um alerta epidemiológico informando os países membros sobre a identificação de possíveis casos, atualmente em investigação no Brasil, de transmissão do vírus Orov da mãe para o bebê durante a gestação. O alerta recomenda reforçar a vigilância diante da possível ocorrência de casos similares em outros países, com a circulação do vírus Orov e outros arbovírus.

 

O organismo internacional informou no alerta que uma gestante residente em Pernambuco apresentou sintomas de oropouche na 30ª semana de gestação. Após confirmação laboratorial da infecção, foi constatada a morte do feto. O segundo caso suspeito foi notificado no mesmo estado. A gestante apresentou sintomas semelhantes ao da primeira gestante e ocorreu um aborto espontâneo.

 

Nota técnica

 

No último dia 11, o Ministério da Saúde emitiu uma nota técnica a todos os estados e municípios recomendando o reforço da vigilância em saúde sobre a possibilidade de transmissão vertical do vírus. Com a nota técnica, o ministério pretende também orientar a sociedade sobre a arbovirose.   

 

A medida foi adotada após o Instituto Evandro Chagas (IEC/MS) detectar a presença do genoma do vírus em um caso de morte fetal, e de anticorpos em amostras de quatro recém-nascidos com microcefalia.

 

No entanto, o ministério destacou que não há evidências científicas consistentes sobre a transmissão do vírus Orov da mãe infectada para o bebê durante a gestação e nem sobre o efeito da infecção sobre malformação de bebês ou aborto.

 

Febre Oropouche

 

A febre Oropouche é uma doença viral. O vírus Orov é transmitido, principalmente, por meio da picada de um mosquito comumente conhecido como maruim (Culicoides paraensis), bem como por espécies do mosquito Culex. No Brasil, o vírus foi isolado pela primeira vez em 1960.

 

O ministério explicou que a febre oropouche pode ser confundida com a dengue.  A doença evolui com febre de início súbito, cefaleia (dor de cabeça), mialgia (dor muscular) e artralgia (dor articular). Outros sintomas como tontura, dor retro-ocular, calafrios, fotofobia, náuseas e vômitos também são relatados.

 

Os sintomas duram cerca de 2 a 7 dias. Mas, até 60% dos pacientes podem apresentar recorrência dos sintomas, após 1 a 2 semanas a partir das manifestações iniciais. A maioria das pessoas têm evolução benigna e sem sequelas, mesmo nos casos mais graves.

 

Até o momento,  não há terapias específica para a febre oropouche. O tratamento apenas alivia os sintomas.

 

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Fonte: ONU News/Agência Brasil - Imagem: Fábio Rodrigues

Edição: Site TV Assembleia