Paladar infantil entre adultos: o que é e como tratar?

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 08/11/2022 08h00, última modificação 07/11/2022 19h30
O problema começa na infância e o tratamento pode exigir acompanhamento com psicólogo ou psiquiatra

EstadãoÉ difícil encontrar uma criança que não goste de alimentos industrializados – principalmente aqueles repletos de açúcares e gorduras. O que já seria um problema durante a infância se torna ainda mais preocupante quando a preferência por alimentos com poucos nutrientes acontece na vida adulta. “Isso é o que chamamos de paladar infantil e sua principal característica é a monotonia alimentar”, explica Vanderli Marchiori, nutricionista e integrante da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (SBAN).


A dieta de uma pessoa com paladar infantil costuma ser baseada em arroz, feijão, alguma proteína – podendo ser carne ou ovos – e carboidratos. Os vegetais, ricos em vitaminas e minerais, acabam ficando de fora. “Isso pode causar anemias, problemas de tireoide, problemas ósseos, baixa imunidade e até mesmo sobrepeso”, alerta a nutricionista.


Por isso, a especialista aponta que identificar o problema e buscar uma reeducação alimentar é o melhor caminho para a prevenção de doenças e uma melhor qualidade de vida.


Apesar dos incômodos que o paladar infantil pode gerar – na pessoa e nos familiares –, a condição não é considerada um transtorno alimentar, segundo afirma Vanderli. Por isso, é importante ter claro que paladar infantil é uma coisa e Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo – também chamado de Tare – é outra. “Parecem iguais, mas não são”, garante.

 

Ela informa que o Tare diz respeito àquelas pessoas que, mesmo com testes de inclusão de diferentes alimentos, permanecem com o comportamento evitativo. “A situação do Tare é um pouco mais profunda e, por isso, é necessário intervenções maiores”, avalia. Um dos caminhos para o tratamento desses casos é o acompanhamento com psicólogo ou psiquiatra e, se necessário, o uso de medicamentos.

 

Entenda um pouco mais sobre o paladar infantil a seguir.

 

Quais as causas?

 

O problema começa na infância e pode ter diferentes motivos. A falta de incentivo ao consumo de alimentos ricos em nutrientes é um deles. “A criança precisa de uma exposição a determinado alimento por pelo menos dez episódios para entender que aquele é um alimento normal e comum na alimentação da família”, ensina. É só dessa forma que a criança pode definir se realmente não gosta do alimento ou se é uma questão de não estar familiarizada com ele.

 

Inclua alimentos variados no cardápio

 

Oferecer uma variedade de alimentos é importante para que a criança possa se familiarizar com o consumo de diferentes tipos de comida. “Se não houver adesão de consumo durante a infância, isso não vira um hábito na vida adulta”, alerta.

 

Isso também inclui a familiaridade com diferentes texturas. “O estímulo das papilas gustativas com sabores e texturas diferentes pode despertar na criança o interesse por outros tipos de alimentos.”

 

Atenção à mastigação

 

Problemas na mastigação também podem levar a essa condição. Segundo a nutricionista, crianças com uma musculatura pouco desenvolvida na região da mandíbula ou com algum problema no freio da língua podem ter dificuldades em mastigar determinados alimentos e, por isso, criam uma certa rejeição aos que exigem um esforço maior de mastigação, como a maioria dos vegetais.

 

“Essas condições fisiológicas, se não forem tratadas durante a infância, podem levar esse adulto ao paladar infantil”, avisa ela, que ressalta a importância de um tratamento integrado do nutricionista com o fonoaudiólogo.

 

Atenção à alergia alimentar

 

Casos de alergia a determinados alimentos durante a infância também podem levar a uma aversão a alguns alimentos na vida adulta. “A pessoa se acostuma a comer sempre as mesmas coisas com medo de passar mal”, adianta.

 

É possível mudar o cenário na vida adulta?

 

Mesmo que existam testes na internet para descobrir se seu paladar é ou não infantil, Vanderli alerta que o diagnóstico só pode ser feito em consultas com um especialista, podendo ser com um endocrinologista, nutricionista ou psicólogo. Independentemente do profissional, ela orienta que o tratamento precisa acontecer de comum acordo com o paciente.

 

Do ponto de vista nutricional, o tratamento ocorre por meio da inserção gradual de diferentes alimentos na rotina alimentar dos pacientes. “A gente começa elegendo os grupos de alimentos que o paciente precisa incluir na sua alimentação”, conta.

 

Cabe ao nutricionista apresentar receitas e formas de preparo para o paciente testar e decidir se aquele é um alimento que ele não tolera ou se é apenas uma questão de ajuste ao paladar. “Às vezes, o paciente não come o alimento porque ele nunca foi educado a gostar dele ou nunca foi exposto de uma forma que ele gostasse.”

 

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Fonte: Estadão

Imagem: Reprodução

Edição: Site TV Assembleia