ONU divulga relatório como “novos perfis da pobreza”
O novo Índice Multidimensional de Pobreza, MPI, na sigla em inglês, conclui que é possível reduzir a pobreza em escala e revela novos “perfis de pobreza” que podem oferecer um avanço nos esforços de desenvolvimento para enfrentá-la.
A análise é do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Pnud, e da Iniciativa Oxford de Pobreza e Desenvolvimento Humano, da Universidade de Oxford. O documento foi divulgado nesta segunda-feira.
Educação, moradia, água
Mesmo antes da pandemia de Covid-19 e da atual crise de custo de vida, os dados mostravam que 1,2 bilhão de pessoas em 111 países em desenvolvimento viviam em pobreza multidimensional aguda. Isso é quase o dobro do número de pessoas consideradas neste grupo com base na definição da pobreza, que é sobreviver com menos de US$ 1,90 por dia.
O estudo vai além da renda como uma medida da pobreza para entender como as pessoas vivenciam a pobreza em diferentes aspectos, desde acesso à educação e saúde, a padrões de vida como moradia, água potável, saneamento e eletricidade.
O relatório identifica uma série de “pacotes de carências”, padrões recorrentes de pobreza, que normalmente afetam aqueles que vivem em pobreza multidimensional em todo o mundo.
Os dados são usados para identificar os diferentes perfis de pobreza que são mais comuns em determinados lugares. Este é um passo crucial na concepção de estratégias para abordar a questão em vários aspectos.
Países de língua portuguesa
Entre os 20 países que reduziram o valor do MPI mais rápido, estão três nações de língua portuguesa: Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
As três também figuram entre 26 que experimentam um aumento significativo na redução das carências em todos os indicadores, ou seja, a porcentagem de pessoas que eram pobres e desfavorecidas diminuiu em cada indicador.
Já Moçambique é o único de língua portuguesa na lista dos 40 países que não registrou nenhuma redução significativa na pobreza entre as crianças e também está entre os 15 da África Subsaariana que tiveram um aumento no número de pessoas pobres, apesar de uma diminuição da incidência da pobreza, mostrando que o crescimento populacional ultrapassou a redução da pobreza.
Índia, Nigéria e África do Sul
O MPI oferece uma análise aprofundada da pobreza entre as regiões.
A maioria das pessoas em pobreza multidimensional, 83%, vive na África Subsaariana e no sul da Ásia. Dois terços das pessoas pobres vivem em países de renda média e 83% em áreas rurais. E apesar de seu impressionante progresso pré-pandemia, a Índia ainda abrigava 229 milhões de pessoas pobres. Já a Nigéria teve o próximo número mais alto, com 97 milhões de pessoas pobres
Antes da pandemia, 72 países reduziram significativamente a pobreza. No entanto, o relatório antecipa que alguns dos esforços para acabar com a pobreza de acordo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável provavelmente foram prejudicados como resultado de recentes crises.
Problemas a serem enfrentados
O relatório destaca a necessidade de enfrentar as camadas de carências que geralmente andam de mãos dadas, incluindo:
• Mais de 50% das pessoas pobres, ou 593 milhões, carecem de eletricidade e combustível limpo para cozinhar.
• Quase 40% dos pobres, ou 437 milhões, não têm acesso à água potável e ao saneamento.
• Mais de 30% de pessoas na pobreza, ou 374 milhões, são privadas de nutrição, combustível para cozinhar, saneamento e habitação ao mesmo tempo.
O líder do Pnud, Achim Steiner, ressalta que essa análise multidimensional mostra que a descarbonização e a expansão do acesso a energias limpas avançarão na ação climática, mas também serão fundamentais para quase 600 milhões de pessoas pobres que ainda não têm acesso a eletricidade e combustível limpo para cozinhar.
Exemplos de combate à pobreza
O relatório apresenta histórias de sucesso em todo mundo, através do uso de estratégias integradas de redução da pobreza. Como o investimento do Nepal em saneamento que melhorou o acesso à água potável, nutrição infantil e mortalidade infantil por meio da redução da diarreia.
E na Índia, onde cerca de 415 milhões de pessoas deixaram a pobreza multidimensional em um período de 15 anos, uma mudança histórica.
Crianças mais pobres em algumas regiões
Em um outro relatório, o Fundo das Nações Unidas para Infância, Unicef, analisa o impacto da guerra na Ucrânia e a desaceleração econômica na pobreza infantil na Europa Oriental e na Ásia Central, alertando que os efeitos em cascata do aumento podem resultar em um aumento grande no abandono escolar e na mortalidade infantil.
Dados de 22 países da região mostram que as crianças estão carregando o fardo mais pesado da crise econômica, consequência da invasão da Ucrânia pela Rússia em 24 de fevereiro.
Embora representem apenas 25% da população, eles representam quase 40% dos 10,4 milhões adicionais de pessoas forçadas à pobreza este ano.
Consequências do conflito na Ucrânia
Provocada pela guerra na Ucrânia e uma crise de custo de vida em toda a região, a Rússia responde por quase três quartos do aumento da pobreza infantil, com mais 2,8 milhões agora vivendo em lares abaixo da linha da pobreza.
A Ucrânia abriga mais meio milhão de crianças que vivem na pobreza, a segunda maior parcela, seguida pela Romênia, onde houve um aumento de 110 mil.
De acordo com o estudo, as consequências da pobreza infantil vão muito além das famílias que vivem em dificuldades financeiras.
O aumento pode resultar em mais 4,5 mil bebês morrendo antes do primeiro aniversário e perdas de aprendizado podem significar mais 117 mil abandonando a escola somente este ano.
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Fonte: ONU News
Imagem: Maurício Bisol/Unicef