ONU aponta 11 crises humanitárias em 2023
As Nações Unidas lançaram um guia de 11 crises humanitárias que não podem ser esquecidas em 2023. A relação inclui conflitos em todos os continentes e destaca vulnerabilidades de populações inteiras e acessos precários a serviços que salvam vidas.
O Escritório para Assuntos Humanitários da ONU, Ocha, lembra que outras crises humanitárias precisam de atenção urgente. A maioria delas é motivada por conflitos e choques climáticos.
No início deste novo ano, agências da ONU e parceiros humanitários estabeleceram um novo recorde, pedindo de US$ 51,5 bilhões para ajudar 230 milhões de pessoas que precisam de assistência de emergência em 68 países.
Saiba quais são as outras 11 crises que não podem ser esquecidas:
Chifre da África
Um impacto mortal da crise climática vem atingindo o Chifre da África. A região sofreu cinco estações de chuvas consecutivas, e uma sexta está prevista para março.
Já a seca contínua trará uma catástrofe prolongada para as pessoas na Etiópia, Quênia e Somália, com pelo menos 36,4 milhões de cidadãos precisando de assistência de emergência para sobreviver e até 26 milhões delas com insegurança alimentar aguda.
O risco de fome continuará para as pessoas em dois distritos da Somália. Mais de 9,5 milhões de cabeças de gado foram perdidas e mais mortes são esperadas, destruindo os meios de subsistência de pastores e agricultores.
A ajuda humanitária já alcançou mais de 17 milhões com alguma forma de assistência em 2022, mas é necessário aumentar a escala de alimentos, nutrição, saúde e outros serviços que salvam vidas com urgência.
Haiti
As necessidades humanitárias no Haiti aumentaram bastante no ano passado. E cresceu ainda mais em 2023, à medida que o país atravessa um aumento da violência e da turbulência política em meio à inflação crescente e ao terceiro ano consecutivo de recessão econômica. Quase metade da população passa fome e, pela primeira vez na história do Haiti, pelo menos 19 mil haitianos correm risco de passar fome.
Gangues armadas controlam vias de acesso estratégicas no país e na capital Porto Príncipe. Os criminosos também estão cometendo abusos graves, incluindo violência sexual e de gênero em larga escala, forçando comunidades inteiras a fugir.
Nos últimos meses, as gangues bloquearam o principal terminal de petróleo do Haiti, paralisando a economia e fechando as escolas. Enquanto isso, um novo surto de cólera já se espalhou para nove áreas da ilha caribenha.
O Ocha estima que se a crise complexa continuar, o número de pessoas que precisarão de assistência humanitária, este ano, deve chegar a 5,2 milhões, acima dos 4,9 milhões de pessoas em 2021.
As agências humanitárias estão pedindo US$ 715 milhões apoiar o Haiti.
Região do Sahel
A violência armada e a insegurança no Sahel aumentaram em 2022, com partes de Burkina Fasso, Mali e Níger sendo as mais afetadas. Espera-se que a violência piore em 2023. Cerca de 419 incidentes que mataram 1.100 pessoas foram relatados durante novembro de 2022. Os serviços de educação, saúde e água e saneamento, que já eram fracos, foram ainda mais interrompidos. Mais de 11.100 escolas em todo o Sahel estão fechadas. A região também é duramente atingida pela crise climática, com secas prolongadas que impossibilitam a agricultura e a pecuária.
O número de pessoas que precisam de assistência humanitária e proteção na região, incluindo Burkina Fasso, Camarões, Chade, Mali, Níger e Nigéria, chegará a 37,8 milhões em 2023, um salto de 3 milhões no ano passado. Mas a região sofre com pouco financiamento. Em 2022, trabalhadores humanitários receberam apenas metade do dinheiro necessário para ajudar a quem precisa.
Afeganistão
A tomada de poder no Afeganistão pelo Talibã, em agosto de 2021, gerou uma grande deterioração nos direitos humanos e na situação humanitária do país, com áreas rurais e urbanas em crise. O Afeganistão é agora um dos piores lugares para mulheres e meninas, impedidas de frequentar escolas e universidades, locais de trabalho e a sociedade. A insegurança e os ataques de grupos armados não estatais continuam.
A recente proibição de trabalhadoras humanitárias afetou as operações de ajuda em todo o país. Enquanto isso, o Afeganistão está entrando em seu terceiro ano consecutivo de chuvas fracas e no segundo ano de declínio econômico.
Apesar do grande aumento da assistência humanitária em 2022, os níveis de ajuda foram suficientes para evitar a catástrofe, mas não para tirar as pessoas da crise. Em 2023, dois terços da população do Afeganistão, cerca de 28,3 milhões de pessoas, vão precisar de ajuda humanitária e proteção. Um número que pode entrar pelo próximo ano.
Iêmen
Anos de conflito no Iêmen destroçaram a vida e os meios de subsistência das pessoas. Uma trégua de abril a outubro de 2022 levou a uma diminuição nas vítimas civis e no deslocamento, mas a perspectiva humanitária do país não melhorou e milhões de pessoas continuam vivendo em condições desesperadoras. A pobreza, a fome e as doenças são desenfreadas, enquanto a saúde, a educação e outros serviços básicos estão por um fio.
O conflito prolongado custou ao Iêmen cerca de US$ 120 bilhões em crescimento econômico, levando a uma economia em colapso e uma inflação crescente, que intensificaram as necessidades humanitárias.
Em 2022, as agências de ajuda humanitária conseguiram atender, em média, 10,7 milhões de pessoas por mês, mas a escassez de financiamento, aliada a enormes obstáculos de acesso, incluindo restrições burocráticas, tentativas de interferência e ataques a trabalhadores humanitários, reduziram fortemente as operações. Em 2023, mais de 21 milhões de iemenitas irão precisar de assistência e proteção humanitária.
Sudão do Sul
Em 2023, trabalhadores humanitários terão de dispor de US$ 1,7 bilhão para alcançar 6,8 milhões de pessoas no Sudão do Sul. Ali, os cidadãos continuam enfrentando conflitos, violência e choques climáticos, incluindo inundações intensas. Esses fatores ao lado da pobreza e de serviços fracos, desencadearam altos níveis de deslocamento, surtos de doenças, meios de subsistência interrompidos e insegurança alimentar. As projeções indicam que 8,2 milhões de pessoas, ou dois terços da população possam sofrer de grave insegurança alimentar no ápice da estação de escassez, entre maio e julho.
As preocupações com a proteção estão aumentando e cerca de 2,8 milhões de pessoas, especialmente mulheres e meninas, correm o risco de sofrer violência de gênero.
O chefe do escritório do Ocha no Sudão do Sul, Joseph Inganji, disse que “para melhor ajudar as pessoas que passam por uma infinidade de necessidades, são necessárias parcerias fortes para salvar mais vidas e aliviar o sofrimento”.
Nigéria
A Nigéria está passando por uma complexa mistura de crises, incluindo insegurança e fome generalizada no nordeste do país, que deixou 2 milhões de deslocados internos, 4,4 milhões de pessoas com insegurança alimentar grave e 1,7 milhão de crianças com desnutrição aguda. Além disso, a Nigéria experimentou sua pior inundação em uma década, no ano passado, afetando mais de 4 milhões de pessoas. Este ano, 8,3 milhões de nigerianos precisarão de assistência. Os trabalhadores humanitários pretendem alcançar 5,9 milhões dos mais vulneráveis.
Líbano
Em um cenário de governança enfraquecida e paralisia política, o Líbano enfrenta uma crise econômica e financeira sem precedentes, que afeta todos os residentes, incluindo refugiados e migrantes sírios e palestinos.
Espera-se que as necessidades humanitárias aumentem este ano, com aproximadamente 4,1 milhões de pessoas necessitando de apoio humanitário, incluindo acesso à água potável e ao saneamento. No entanto, os agentes humanitários continuam a enfrentar restrições de acesso operacional devido ao fracasso da lei e da ordem, impasse e instabilidade política, além de grandes impedimentos burocráticos.
Mianmar
O povo de Mianmar continua enfrentando uma crise política, de direitos humanos e humanitária sem precedentes, que representa graves riscos de proteção para civis, limitando o acesso a serviços vitais, incluindo saúde e educação, e levando a uma profunda insegurança alimentar. As necessidades humanitárias pioraram em todo o país, com 17,6 milhões de birmaneses precisando de assistência este ano, à medida que o conflito continua. Isso vem causando níveis sem precedentes de deslocamento e destruição de propriedades. O número de deslocados internos aumentou acentuadamente para mais de 1,4 milhão no ano passado.
Uma combinação de pouco financiamento para a resposta, inflação, restrições de acesso e interrupções de serviço resultou em muitas necessidades não atendidas, que pioraram com o tempo. Metade das crianças em idade escolar, ou 4 milhões de crianças, estão fora da escola há dois anos.
No final de 2022, a maioria dos parceiros de desenvolvimento reiniciou os programas interrompidos, permitindo que os parceiros humanitários retornassem às principais respostas que salvam vidas. Espera-se que isso permita o progresso, desde que as restrições de acesso e financiamento sejam removidas.
Síria
Acordar na Síria hoje significa olhar para um futuro sombrio. Com mais de 11 anos de conflito, a Síria é líder mundial no número de deslocados internos, com 6,8 milhões, e tem a taxa a mais alta de pessoas necessitadas desde o início da guerra. Os indicadores humanitários e econômicos continuam a piorar, com serviços básicos e outras infraestruturas críticas à beira do colapso, um surto contínuo de cólera e choques climáticos.
A Síria é uma das emergências humanitárias e de proteção mais complexas do mundo. Em janeiro deste ano, pelo menos 15,3 milhões de pessoas precisavam de assistência humanitária. O conflito continua em partes do país gerando medo diário de ataques.
Para complicar a situação, um terremoto arrasou o noroeste do país em 6 de fevereiro causando milhares de mortes e afetando, inicialmente, 25 milhões de pessoas. Em Alepo, o tremor deixou mais de 200 mil desabrigados.
República Democrática do Congo
Em toda a República Democrática do Congo, RD Congo, 26,4 milhões de pessoas, ou uma em cada quatro pessoas, precisa de assistência humanitária. No ano passado, a desnutrição aguda atingiu 6,4 milhões de congoleses, principalmente crianças menores de 5 anos, número que não diminui há 20 anos. Conflitos armados e graves violações dos direitos humanos, incluindo violência sexual e violações contra crianças, continuam a desencadear movimentos populares em massa. O país tem cerca de 5,7 milhões de deslocados internos, o maior número no continente africano.
Epidemias graves, mas evitáveis, como sarampo, febre amarela, cólera e malária, causam mortes todos os anos devido à infraestrutura precária, restrições ao acesso à saúde e baixa cobertura vacinal. A RD Congo está entre os países com as maiores taxas de mortalidade materna e infantil do globo.
Os trabalhadores humanitários têm apoiado a nação africana país por décadas, mas até que uma solução para o conflito seja encontrada, as necessidades continuarão a aumentar, assim como a lacuna de financiamento.
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Fonte: ONU News
Imagem: Deslocados interno na Nigéria - WFP/Arete/Siegfried Modola