OMS culpa falta de restrições por aumento de casos de Covid-19 na Europa
“Vários países europeus suspenderam suas restrições ao coronavírus muito cedo”, afirmou a Organização Mundial da Saúde (OMS) e, como resultado, testemunham aumentos acentuados nas infecções por Covid-19, provavelmente ligadas à nova subvariante BA.2, altamente transmissível. “Países como Alemanha, França, Itália e Grã-Bretanha descontinuaram suas restrições brutalmente - de muito para muito pouco. Por isso, as infecções estão aumentando em 18 dos 53 países da região”, disse Hans Kluge, diretor da OMS na Europa, nesta terça-feira 23, durante entrevista na Moldávia.
Segundo ele, mais de 5,1 milhões de novos casos e 12.496 mortes foram relatadas na região nos últimos sete dias. “Os países onde particularmente percebemos um aumento são o Reino Unido, Irlanda, Grécia, Chipre, França, Itália e Alemanha”, afirmou, acrescentando que, mesmo assim, permanece “otimista, mas vigilante” sobre o progresso da pandemia na Europa.
Especialistas em saúde, no entanto, disseram que esse aumento no continente se deve a uma série de fatores, incluindo a imunidade reduzida oferecida pelas vacinas ao longo do tempo, a taxa de transmissão relativamente alta da ômicron e sua subvariante BA.2 e o relaxamento de restrições, como o uso de máscaras e passaportes de vacina em lugares fechados. Os dados da OMS mostram que o número de novos casos de Covid-19 na Europa caiu acentuadamente em relação ao pico no final de janeiro, mas voltou a subir desde o início de março. Em alguns países, os números de infecções estão atingindo novos recordes.
No último sábado, a Alemanha registrou uma média móvel de 2.619 novos casos diários por milhão, em sete dias – o maior desde o início da pandemia, há mais de dois anos. “A situação é muito pior do que o clima”, alertou o ministro da Saúde alemão, Karl Lauterbach.
A Áustria reimpôs, na semana passada, o uso de máscaras em ambientes fechados a partir de quarta-feira, com sua média de sete dias em um recorde de 4.985 por milhão. O ministro da Saúde do país, Johannes Rauch, admitiu que aliviou a maioria das restrições muito cedo, em 5 de março. “Não é esperado um declínio nos números atuais até depois das próximas semanas”, disse, lamentando que “a situação tensa” provavelmente dure “muito mais do que o esperado anteriormente”.
Os controles na França – incluindo a exigência de usar máscaras na maioria dos ambientes internos e o passaporte vacinal para acessar cafés, cinemas e restaurantes – foram suspensos no início da semana passada, mas sua média diária por milhão subiu de 774 para 1.331, em sete dias. As autoridades francesas disseram, porém, que a situação nos hospitais do país era administrável. “Nos últimos dias, o número de pessoas hospitalizadas parou de cair”, reconheceu o ministro da Saúde da França, Olivier Véran. “Mas é esperado ver o número de novas infecções continuar a aumentar até o final de março, antes de cair novamente em abril”.
Véran disse ainda que até agora não foram observados “sinais alarmantes” nas enfermarias de terapia intensiva na França. “O maior risco é para pessoas com comorbidades e aquelas que não foram totalmente vacinadas”, afirmou. “Aconselhamos fortemente que continuem usando máscaras e recebam a dose de reforço o mais rápido possível”.
Também na semana passada, a Itália anunciou a suspensão da apresentação do passaporte da vacina e do teste negativo para entrar em espaços públicos fechados a partir de 1º de maio, com locais ao ar livre isentos após 1º de abril e descontinuação do uso de máscaras em ambientes internos a partir de 30 de abril. A média de sete dias para novos casos no país, no entanto, quase dobrou desde o início do mês, atingindo 1.156 por milhão de habitantes. O número equivalente no Reino Unido é ainda mais dramático: de 398 no final de fevereiro para 1.189 neste fim de semana.
Apesar do aumento de novas infecções, Kluge disse que a Europa está uma posição relativamente boa para lidar com o vírus. “Há uma parcela muito grande de pessoas imunes graças à vacinação ou à própria infecção”, disse ele, ressaltando que com o final do inverno europeu, as pessoas ficarão menos propensas a se reunir em lugares pequenos e lotados. “Além disso, sabe-se que a ômicron e sua subvariante causam sintomas mais leves em pessoas totalmente vacinadas e que receberam uma dose de reforço”, acrescentou, embora tenha alertado que em países com baixa taxa de vacinação, “ainda é uma doença que mata”.
Por fim, Kluge afirmou que o mundo teria que conviver com a Covid-19 por um bom tempo. “Mas isso não significa que não possamos nos livrar da pandemia”. Para isso, ele ressaltou a importância dos países em proteger as pessoas vulneráveis, fortalecer a vigilância e o sequenciamento do vírus e garantir que todos tenham acesso às vacinas e aos novos medicamentos antivirais.