OMS: Aumento alarmante de sarampo na Europa preocupa

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 18/12/2023 14h00, última modificação 18/12/2023 13h12
No Brasil, o país está há um ano sem novos casos, diz diretor da Opas.

A Organização Mundial da Saúde, OMS, alertou que a Europa registra um aumento alarmante de casos de sarampo. Entre janeiro e outubro deste ano foram confirmados pelo menos 30 mil casos da doença em 40 dos 53 Estados-membros. 

 

A alta corresponde a mais de 3000% em comparação com os 941 infectados em todo o ano de 2022. A situação acelerou nos últimos meses, numa tendência que deve continuar se não houver medidas urgentes para conter a propagação. 

 

Hospitalizações e mortes  

 

Para o diretor regional da OMS para a Europa, Hans Kluge, o aumento de casos de sarampo não só foi de 30 vezes, mas também ocorreram quase 21 mil hospitalizações e cinco mortes relacionadas à doença.  

 

O representante sublinhou que a situação é preocupante considerando a disponibilidade da vacinação que é “a única forma de proteger as crianças da doença potencialmente perigosa”.  

 

Kluge fez um apelo a todos os países para que se preparem para detectar rapidamente e responder de forma atempada aos surtos de sarampo, que podem pôr em perigo o progresso nos esforços pela eliminação da doença, que enfraquece o sistema imunitário das crianças e pode ser fatal. 

 

Cobertura vacinal  

 

A emergência também é mencionada em alerta do Fundo da ONU para a Infância, Unicef, sobre a alta de casos na Europa e na Ásia Central. Estima-se que 931 mil crianças perderam total ou parcialmente a vacinação de rotina entre 2019 e 2021. 

 

Para a diretora do Unicef para a região, Regina De Dominici, não há um sinal claro de queda na cobertura vacinal para justificar o aumento nos casos. A taxa de imunização com a primeira dose da vacina caiu de 96% em 2019 para 93% em 2022. 

 

Um dos principais fatores que ditaram a queda na cobertura foi a diminuição da procura de vacinas que foi “em parte alimentada pela desinformação e pela desconfiança observadas durante a pandemia da Covid-19.” 

 

A situação também foi causada pela interrupção dos serviços de saúde e a fragilidade dos sistemas de cuidados primários durante a crise. 

 

Brasil deve recuperar certificado de eliminação da doença 

 

O diretor da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Jarbas Barbosa, disse recentemente que o Brasil deve recuperar, nos próximos meses, seu certificado de eliminação do sarampo. A afirmação foi feita durante seminário sobre vacinação na Academia Nacional de Medicina, no Rio de Janeiro.

 

“O Brasil já se encontra há um ano sem nenhum caso novo diagnosticado, o que nos permite também ter uma esperança muito grande de que, nos próximos meses. a comissão de verificação possa certificar novamente o país”, disse Barbosa.

 

O Brasil recebeu certificado de eliminação do sarampo em 2016 da Organização Mundial da Saúde (OMS), mas acabou perdendo em 2019, devido a um surto da doença.

 

As Américas foram o primeiro continente a receber um certificado regional de eliminação da doença, mas surtos tanto no Brasil quanto na Venezuela, que também perdeu o documento em 2019, fizeram com que a certificação regional fosse suspensa em 2018, segundo Barbosa.

 

Uma comissão da Opas verificou recentemente que a Venezuela interrompeu a transmissão da doença, faltando apenas o Brasil para que o continente possa novamente ser considerada região livre do sarampo.

 

O sarampo pode ser evitado com a imunização da população. A ministra da Saúde, Nísia Trindade, que também participou do seminário, afirmou que, desde 2016, o Brasil enfrenta o fenômeno da hesitação vacinal, com campanhas de desinformação que fazem com que a população deixe de buscar a imunização e a cobertura vacinal caia.

 

Cobertura

 

Segundo ela, no entanto, dados preliminares do Ministério da Saúde, que devem ser divulgados nos próximos dias, mostram que a cobertura vacinal no país voltou a aumentar este ano.

 

“Temos clareza de que muito trabalho há que ser feito”, disse Nísia. “Nós instituímos uma plataforma, Saúde com Ciência, como estratégia de governo, interministerial, para esclarecer à população e também identificar práticas criminosas de desinformação, de disseminação de notícias falsas”.

 

Segundo Jarbas Barbosa, os governos dos diversos países precisam monitorar, todos os dias, e desmistificar boatos que surgem contra as vacinas nas redes sociais.

 

"As desinformações estão praticamente todos os dias nas redes sociais, então uma campanha de esclarecimento anual não tem muito papel. O que temos procurado é estimular os países a ter um monitoramento diário de redes sociais, de não deixar nenhum boato, rumor ou desinformação sem resposta apropriada, porque isso é como uma bola de neve, que vai crescendo. E, sem dúvida nenhuma, que vai fazer com que as pessoas percam a confiança na vacina", disse ele.

 

Para Barbosa, além de combater as notícias falsas, é preciso adotar outras medidas para ampliar o alcance da vacinação, como sensibilizar os profissionais de saúde, monitorar as coberturas vacinais e ampliar a oferta em alguns lugares.

 

O diretor cita, por exemplo, a dificuldade de vacinar crianças em áreas violentas das grandes cidades. Ele destaca que é preciso ampliar o horário de atendimento em postos de vacinação, de modo que fique mais fácil para os trabalhadores levar os filhos para serem imunizados. Assim é possível evitar áreas de pouca imunização.

 

"Precisamos identificar [a cobertura vacinal] bairro por bairro e não trabalhar com a média de cobertura de uma cidade. A média de cobertura de uma cidade como o Rio de Janeiro não nos conta nada. A média pode ser adequada, mas temos em várias áreas uma cobertura muito baixa. Então, precisamos ter novos sistemas, analisar os dados, identificar as barreiras [para a vacinação] e adotar estratégias para superar essas barreiras".

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Fonte: ONU News/Ministério da Saúde

Imagem: Freepik Free

Edição: Site TV Alepi