Ômega-3 atua na melhora da memória e da saúde do cérebro

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 07/10/2022 13h05, última modificação 07/10/2022 11h04
Estudo associa concentração de ácidos graxos ômega-3 na corrente sanguínea à melhor função cognitiva e ao maior volume de uma região relacionada à memória

Correio BrasilienseA ingestão de ácidos graxos ômega-3, encontrados, por exemplo, em peixes de água fria, oleoginosas e folhas escuras, está associada a uma melhor estrutura cerebral e a um incremento da função cognitiva em pessoas de 40 a 50 anos. Essa é a conclusão de um estudo da Universidade do Texas, em San Antonio, publicado na revista Neurology, da Academia Norte-Americana de Neurologia.


"Estudos anteriores analisaram essa associação em populações mais velhas. A nova contribuição aqui é que, mesmo em idades mais jovens, se você tem uma dieta que inclui alguns ácidos graxos ômega-3, já está protegendo seu cérebro para a maioria dos indicadores de envelhecimento cerebral que vemos na meia-idade", disse Claudia L. Satizabal, principal autora do estudo. A idade média dos voluntários foi de 46 anos.

 

A equipe analisou a relação das concentrações de ácidos graxos ômega-3 nos glóbulos vermelhos com ressonância magnética e marcadores cognitivos do envelhecimento cerebral. Os pesquisadores também estudaram o efeito da substância em pessoas que carregam o APOE4, uma variação ligada ao maior risco de doença de Alzheimer, mas que não têm sintomas da doença. No total, participaram 2.183 pessoas.

 

O estudo descobriu que uma maior concentração de ômega-3 foi associada a volumes mais expressivos hipocampais. O hipocampo, uma estrutura do cérebro, desempenha um papel importante na aprendizagem e na memória. Também foi constatado que consumir mais alimentos com a substância relaciona-se a um melhor raciocínio abstrato ou à capacidade de entender conceitos complexos usando o pensamento lógico. Por fim, portadores de APOE4 com concentrações mais altas do ácido graxo têm menos incidência de doença de pequenos vasos — esse gene também está implicado em doenças cardiovasculares e demência vascular.


Proteção

 

Os pesquisadores usaram uma técnica chamada cromatografia gasosa para medir as concentrações de ácido docosahexaenoico (DHA) e ácido eicosapentaenoico (EPA) dos glóbulos vermelhos. O índice ômega-3 foi calculado como DHA mais EPA. "Os ácidos graxos ômega-3, como EPA e DHA, são micronutrientes essenciais que melhoram e protegem o cérebro", explica a coautora do estudo Debora Melo van Lent, PhD, pesquisadora de pós-doutorado no Biggs Institute. "Nosso estudo é um dos primeiros a observar esse efeito em uma população mais jovem. Mais estudos nessa faixa etária são necessários", adverte.

 

A equipe dividiu os participantes entre aqueles que tinham muito pouca concentração de glóbulos vermelhos ômega-3 e aqueles que apresentavam pelo menos um pouco mais do micronutriente. "Vimos os piores resultados nas pessoas que tiveram o menor consumo de ômega-3", diz Satizabal. "Então, isso é algo interessante. Embora quanto mais ômega-3, mais benefícios para o cérebro, você não precisa de grandes quantidades para obter os benefícios."

 

Os pesquisadores não sabem como o DHA e o EPA protegem o cérebro. Uma teoria é que, como esses ácidos graxos são necessários na constituição da membrana dos neurônios, baixas concentrações deles no organismo fazem com que as células nervosas se tornem instáveis. Outra explicação pode ter relação com as propriedades anti-inflamatórias do DHA e EPA. "É complexo. Ainda não entendemos tudo, mas mostramos que, de alguma forma, se você aumentar um pouco o consumo de ômega-3, estará protegendo seu cérebro", destaca Satizabal.

 

É encorajador que o DHA e o EPA também protejam a saúde cerebral dos portadores de APOE4, disseram os pesquisadores. "É genética, então é um fator de risco que você não pode mudar", disse Debora Melo van Lent, referindo-se à vulnerabilidade desse grupo. "Então, se houver um fator de risco modificável que possa superar a predisposição genética, este é um grande ganho."

 

"Melhorar nossa dieta é uma maneira de promover nossa saúde cerebral", afirma Claudia Satizabal. "Se as pessoas pudessem melhorar sua resiliência cognitiva e potencialmente evitar a demência com algumas mudanças simples em sua dieta, isso poderia ter um grande impacto na saúde pública. Melhor ainda, nosso estudo sugere que mesmo o consumo modesto de ômega-3 pode ser suficiente para preservar a função cerebral. Isso está de acordo com as atuais diretrizes alimentares da Associação Norte-Americana do Coração para consumir pelo menos duas porções de peixe por semana, como forma de melhorar a saúde cardiovascular", conclui.

 

Atenção redobrada em adolescentes

 

Em adolescentes com problemas de concentração, o ácido graxo ômega-3 está associado a uma maior capacidade de atenção seletiva e à menor impulsividade, segundo um estudo do Instituto de Saúde Global de Barcelona, na Espanha. A pesquisa foi publicada na edição de outubro da revista European Child & Adolescent Psychiatry.

 

Durante a adolescência, ocorrem importantes mudanças estruturais e funcionais no cérebro, principalmente na área pré-frontal, que desempenha um papel importante no controle da atenção. Por outro lado, os ácidos graxos ômega-3 são conhecidos por serem críticos para o desenvolvimento e função adequados do cérebro. O mais abundante no órgão, é o DHA, fornecido principalmente pela ingestão de peixes gordurosos.

 

"Apesar da importância estabelecida do DHA no desenvolvimento do cérebro, poucos estudos avaliaram se ele desempenha um papel no desempenho da atenção de adolescentes saudáveis", diz Jordi Júlvez, coordenador do estudo. "Além disso, o possível papel do ácido alfa-linoleico (ALA), outro ômega-3, mas de origem vegetal, não foi tão amplamente estudado", acrescenta. Isso é relevante, dado o baixo consumo de pescado nas sociedades ocidentais.

 

O objetivo do estudo foi determinar se uma maior ingestão de DHA e ALA estava associada a um melhor desempenho da atenção em um grupo de 332 adolescentes de diferentes escolas de Barcelona. Os participantes foram submetidos a testes computadorizados que medem os tempos de reação para determinar a capacidade de atenção seletiva e sustentada, e de inibição diante de estímulos distrativos, que deflagram a impulsividade. Os jovens também responderam a uma série de perguntas sobre hábitos alimentares e forneceram amostras de sangue para medir os níveis de glóbulos vermelhos dos micronutrientes.

 

Os resultados mostram que níveis mais altos de DHA estão associados a maior atenção seletiva e sustentada e atenção inibitória. Em contraste, o ALA não foi relacionado a esse desempenho, mas parece reduzir a impulsividade. "O papel do ALA no controle da atenção ainda não está claro, mas essa descoberta pode ser clinicamente relevante, pois a impulsividade é uma característica de várias condições psiquiátricas, como o transtorno do deficit de atenção e hieperatividade (TDAH)", explica Ariadna Pinar-Martí, primeira autora do estudo.

 

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Fonte: Correio Brasiliense

Imagem: Zami Zahari/Divulgação

Edição: Site TV Assembleia