A advogada Fabíola Albuquerque, especialista em direito da família, explica sobre essa nova realidade
Nos últimos anos, o Brasil tem observado uma mudança significativa no cenário dos divórcios, especialmente entre casais com mais de 50 anos. Segundo dados do IBGE, cerca de 30% dos divórcios no país ocorrem nessa faixa etária, um aumento expressivo em comparação aos 10% registrados em 2010. Esse fenômeno, conhecido como "divórcio cinza", reflete uma transformação nas dinâmicas familiares e sociais.
Em entrevista a Juliana Arêa Leão no jornal Bom Dia Assembleia desta quarta-feira, 15, a advogada especialista em Direito da Família, Dra. Fabíola Albuquerque, destacou que a questão dos divórcios é multifatorial. A mudança na legislação, que permitiu o divórcio no Brasil a partir de 1977, foi um marco importante. Antes disso, as mulheres que se separavam enfrentavam um estigma social e a marginalização, o que tornava a decisão de se divorciar extremamente difícil. Com a Emenda 66 de 2010, que eliminou a necessidade de comprovar culpa e prazos para a separação, o processo se tornou mais acessível.
Além das mudanças legais, a Dra. Fabíola aponta que a evolução dos papéis de gênero também desempenha um papel crucial. Historicamente, as mulheres eram responsáveis por cuidar da casa e da família, enquanto os homens detinham a independência financeira. Hoje, com o empoderamento feminino e a maior autonomia econômica, as mulheres se sentem mais capacitadas a buscar a felicidade fora de relacionamentos insatisfatórios.
Outro fator que contribui para o aumento dos divórcios entre os mais velhos é a fluidez das relações contemporâneas. A psicóloga Dra. Fabíola Albuquerque observa que muitos casais, após anos de convivência, chegam a um ponto de reflexão sobre suas vidas e relacionamentos. Pequenas discussões podem se transformar em decisões drásticas, levando à separação.
A comunicação, ou a falta dela, é frequentemente citada como a principal causa dos divórcios. Muitas vezes, os casais silenciaram suas insatisfações, acumulando ressentimentos que, eventualmente, se tornam insuportáveis. A Dra. Fabíola enfatiza a importância do diálogo, afirmando que a falta de comunicação pode levar a percepções equivocadas e rupturas irreparáveis.
O "divórcio cinza" é um fenômeno que reflete não apenas mudanças nas relações pessoais, mas também uma evolução cultural e social. À medida que mais pessoas se sentem livres para buscar novos começos, é essencial que a sociedade continue a apoiar e compreender essas transições, promovendo um ambiente onde o diálogo e a compreensão sejam priorizados.