Os homens, segundo ela, teriam mais recursos próprios e mais facilidade de obter capital. “A prioridade nos partidos vai para os candidatos que eles acreditam serem mais competitivos, terem mais chances de ganhar e, infelizmente, as mulheres não são maioria nessa lista”, aponta Maiane.
Um caso que ilustra esse cenário é o da disputa eleitoral no Ceará. A atual governadora, Izolda Cela, mesmo estando no controle do Executivo, não foi a escolhida pelo seu partido, o PDT, para concorrer às eleições de 2022, sendo preterida pelo ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio, apoiado por Ciro Gomes.
O caso contrariou o PT, que apoiava a reeleição da governadora, e a presidente da legenda, Gleisi Hoffmann, disse que a troca teve teor machista. Após o episódio, Izolda deixou o PDT.
As mulheres são maioria no país. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados em julho pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 51,1% da população brasileira em 2021 era do sexo feminino. O dado representa 4,8 milhões de mulheres a mais que homens no Brasil.
Apesar disso, o número de candidatas mulheres ainda está longe de espelhar a sociedade. O estado, por exemplo, com a maior proporção de candidatas é o Rio Grande do Norte, com 194 mulheres (35,54% do total). Já a unidade da federação com menos candidatas é o Rio de Janeiro, com 868 mulheres (31,89%).
Entre as legendas, o PL do presidente Jair Bolsonaro lidera o ranking de partidos com mais candidatas, tendo 501 mulheres. O número ainda é a metade das candidaturas dos homens: 1.077. O PCB, apesar de ter lançado Sofia Manzano à Presidência da República, fica na base do ranking, com 30 mulheres – e 53 homens.
Cota feminina nas eleições
O menor destaque dado pelos partidos às mulheres foi o que motivou a elaboração da lei que os obriga a terem ao menos 30% de candidaturas femininas. “Para cumprir a cota, as mulheres estavam entrando como candidatas laranjas e isso só mudou quando isso foi descoberto e começaram a caçar os mandatos”, diz a pesquisadora.
A coordenadora da área de Justiça Racial e de Gênero da Oxfam Brasil, Tauá Pires, acrescenta que, outra estratégia utilizada agora para driblar a cota é inscrever as candidatas a cargos de vice. Em 2022, são quatro candidatas à Presidência e sete candidatas à vice-presidência.
No Executivo estadual, a diferença fica nítida. São 38 mulheres concorrendo ao cargo de governadora e 89 ao cargo de vice-governadora.
Para a disputa presidencial, são quatro candidatas entre os 12 postulantes. Para o cargo de governador, são 38 mulheres e 185 homens. Para o Senado, 53 mulheres e 179 homens. Já para deputado federal, 3.543 mulheres dividem espaço com 6.729 homens. Por fim, para deputado estadual, são 5.330 mulheres e 10.906 homens.
Tauá Pires destaca que, para que a quantidade de candidaturas de homens e de mulheres se iguale, nesse ritmo, seriam necessários 144 anos. O número é resultado da pesquisa divulgada pelo relatório “Desigualdade de Gênero e Raça na Política Brasileira”, produzido pela Oxfam Brasil e pelo Instituto Alziras. O documento analisa as eleições de 2016 e 2020 e foi lançado em julho de 2022.
A pesquisadora lembra que é preciso destacar ainda o número de mulheres eleitas, e não só as que se candidatam. Em 2018, por exemplo, as mulheres representaram 31,6% dos concorrentes a postos políticos, mas somente 15% acabaram eleitas.
“O país tem mais mulheres do que homens, mas isso não se reflete na política e não é por falta de competência ou interesse por parte delas”, aponta Tauá.
A coordenadora da Oxfam Brasil acrescenta que o relatório atesta que as candidatas têm maior nível educacional que os homens, ou seja, os homens não seriam escolhidos por serem mais competentes, mas, sim, por terem melhores condições de competir. Para as eleições de 2022, 90,7% das candidatas mulheres têm ao menos ensino médio completo, enquanto 89,17% dos homens estão na mesma condição.
As eleições de 2022 vão contar com a Emenda Constitucional 117, promulgada em abril deste ano, que institui que os partidos políticos devem direcionar, no mínimo, 30% de seu Fundo Especial de Financiamento de Campanha e seu tempo de propaganda eleitoral em rádio e TV às suas candidatas.
Além disso, a norma indica que as legendas devem destinar ao menos 5% de seu fundo partidário à “criação e manutenção de programas de promoção e difusão da participação política das mulheres”.
Tauá afirma acreditar que a lei poderá aumentar o número de mulheres eleitas, mas pondera que, se não houver cobrança por parte da sociedade para que os partidos promovam mudanças, não haverá avanço efetivo.
“O cenário atual é resultado de como os partidos encaram as questões de gênero; isso não é prioridade para eles, está sendo uma obrigação a ser cumprida. Temos avançado, mas é uma pena que seja dessa forma e a passos tão lentos”, finaliza.