Musculação ajuda a controlar a pressão alta, mostra estudo

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 05/04/2023 13h00, última modificação 05/04/2023 12h26
A prática do exercício, de duas a três vezes por semana, com intensidade moderada pode tratar a hipertensão, mostra pesquisa brasileira

Muitos são os benefícios das atividades físicas à saúde e, a cada estudo desenvolvido, cientistas descobrem novas vantagens da prática. Uma pesquisa brasileira divulgada, ontem, na revista Scientific Reports revela que treinos regulares de musculação, de duas a três vezes na semana, com intensidade moderada podem reduzir a pressão arterial e atenuar quadros de hipertensão, a principal causa de mortes por doenças cardiovasculares.


O estudo liderado por Giovana Rampazzo Teixeira, professora do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual Paulista (Unesp), analisou mais de 21 mil artigos científicos sobre o tema e acompanhou dados de 253 hipertensos com idade média de 59 anos. A investigação, com a participação de cientistas da Universidade de São Paulo (USP), se concentrou nas respostas da hipertensão basal durante a prática da musculação por, no mínimo, oito semanas e os efeitos pós-treinamento.

 

Os resultados efetivos apareceram por volta da 20ª sessão de treinamento, e a pressão arterial permaneceu mais baixa por cerca de 14 semanas depois do término das sessões. "A prevenção continua sendo um bom caminho. Contudo, encontramos resultados robustos de que o exercício físico de força pode ser utilizado como uma terapia não farmacológica para reduzir a pressão arterial", relata a líder da pesquisa.

 

Os mecanismos por trás da redução da pressão arterial pelo exercício aeróbico são bem estudados, mas há poucas pesquisas sobre os efeitos do exercício de força na hipertensão, segundo os autores do novo estudo. Os resultados, segundo Giovana Teixeira, indicam a dose necessária para alcançar esse efeito terapêutico. "O exercício físico de força, realizado com carga moderada a vigorosa, dois ou três dias na semana, é eficiente em reduzir os valores de pressão arterial em indivíduos hipertensos", enfatiza.

 

A análise, que contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), também identificou que indivíduos com menos de 59 anos obtiveram redução mais expressiva da pressão arterial durante o período de treinamento físico. "Aqueles com 60 a 79 anos apresentaram menor efeito, mas, ainda assim, significativo. Dessa forma, salientamos que mesmos os mais idosos podem ser beneficiados pelo treinamento de força", destaca Rampazzo.

 

Novo estímulo

 

Na avaliação de Victor Hugo Espíndola, neurocirurgião especialista em doenças cerebrovasculares, o estudo traz uma visão inovadora dos benefícios da musculação. "A gente sempre estimula que os pacientes façam malhação. Além de conseguir preservar a massa muscular, evitar o envelhecimento, conservar toda a estrutura óssea, garantindo que a pessoa, principalmente os idosos, consiga permanecer independente por mais tempo, essa pesquisa, agora, mostra mais uma grande importância da prática: o controle da hipertensão."

 

O especialista explica que a pressão sob controle deixa o indivíduo menos suscetível a doenças cardiovasculares. Isso porque a hipertensão causa um estresse na parede arterial, predispondo para formação de placas de gordura, que é a principal causa do acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico e do infarto. "Além disso, o pico hipertensivo é a principal causa do AVC hemorrágico, no qual se rompe a artéria cerebral. A pressão arterial constantemente elevada também é um fator de risco para formação de aneurismas cerebrais, outra causa de AVC", completa.

 

Os autores indicam que estudos futuros devem investigar os mecanismos celulares e moleculares que fundamentam a redução da pressão arterial em resposta ao treinamento de força. Hoje, sabe-se que esse tipo de exercício aumenta a frequência cardíaca, a produção de óxido nitroso, que promove a vasodilatação ao expandir o diâmetro dos vasos sanguíneos, e o fluxo sanguíneo.

 

Teixeira lembra que, recentemente, o treinamento de força foi incluído nas diretrizes brasileiras para o manejo da hipertensão arterial. "Mas são necessárias muito mais pesquisas para obter evidências mais robustas", afirma, em nota. "Nossos resultados impactam a sociedade estimulando uma maior qualidade de vida. Quanto maior for a prática de exercício físicos de força, melhor será a regulação da pressão arterial, com isso, menor será o uso de medicamentos e o custo para o SUS."

 

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Fonte: Correio Braziliense

Foto de John Arano na Unsplash

Edição: Site TV Assembleia