Mulher vive vulnerabilidade desde o momento que sai de casa, mostra pesquisa

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 24/11/2021 15h26, última modificação 24/11/2021 15h26
Elas também são a parcela da população que declara sentir mais medo. E, para isso, não importa o meio de transporte que utilizem

Do momento em que saem até a hora de voltar para casa, as mulheres brasileiras são o grupo mais vulnerável à violência durante o percurso. Elas também são a parcela da população que declara sentir mais medo. É o que revela a pesquisa "Percepções sobre segurança das mulheres nos deslocamentos pela cidade", realizada pelo Instituto Patrícia Galvão e pelo Instituto Locomotiva, com apoio da Uber e suporte técnico e institucional da ONU Mulheres.

Os dados do levantamento demonstram que 69% das mulheres já foram alvo de olhares insistentes e cantadas inconvenientes ao se deslocarem pela cidade. Nada menos que 35% já sofreram importunação/assédio sexual, e 67% das negras relataram ter passado por situações de racismo quando estavam a pé.

 

Apesar de consideravelmente maior no sexo feminino, há uma sensação geral de insegurança durante os deslocamentos urbanos. Apenas 16% das mulheres e homens que circulam pela cidade utilizando as mais diversas modalidades de transporte sentem-se plenamente seguros.

A pesquisa aponta, ainda, que antes de sair de casa, as mulheres tomam muitas medidas preventivas e de segurança. Evitar o uso de alguns acessórios, dispensar um caminho mais longo ou demorado e evitar locais escuros estão entre os recursos que as brasileiras recorrem nos seus trajetos.

Os números do estudo revelam que pelo menos oito em cada 10 brasileiras fazem uso de alguma medida de segurança nos seus trajetos: 92% evitam sair à noite, 87% escolhem o lugar em que vão se sentar no transporte coletivo pensando na sua segurança e 96% evitam passar em local.

As porcentagens de outras medidas de segurança adotadas pelas mulheres em comparação com homens também são altas. Oitenta e cinco por cento das entrevistadas pedem para que outras pessoas as esperem em casa ou aguardam notícias delas quando chegam ao destino, enquanto que no caso dos homens isso só é verificado por 68%. Além disso, enquanto 82% das mulheres evitam usar alguns tipos de roupa ou acessórios, a porcentagem masculina é de 72%.

Não importa se em transportes individuais ou coletivos, públicos ou particulares, as mulheres são abusadas e assediadas nos diversos meios de deslocamento pela cidade. A pé e de ônibus são as formas com maior incidência de casos, de acordo com a pesquisa. Ao menos 69% das mulheres já foram alvo de olhares insistentes e cantadas inconvenientes durante o trajeto e 78% temem isso no meio de transporte que utiliza.

Racismo

O levantamento mostra, também, que questões raciais são determinantes para a insegurança de mulheres durante seus trajetos em meios de transporte em espaços públicos. A sensação de insegurança durante os deslocamentos é ainda mais acentuada para as negras: 67% delas relataram ter passado por situações de racismo quando estavam a pé; em ônibus, os casos de preconceito e discriminação foram de 34%. Além disso, a maioria (80%) das mulheres que se desloca teme ser vítima de crime racial.

As consequências do isolamento social para frear a transmissão da covid-19 e os desdobramentos da pandemia impactaram as mulheres profundamente. Medo de sair de casa, receio de se ausentar à noite e menor possibilidade de se deslocar pela cidade estão entre as mudanças de hábito das brasileiras. O levantamento mostra, ainda, que, para quase 30% das entrevistadas, a cidade ficou mais perigosa na pandemia. Agora, 77% das mulheres dizem sentir mais medo de sair de casa e 29% delas mudaram hábitos de deslocamento porque a cidade pareceu mais perigosa no período.

O estudo foi realizado em outubro de 2021 pelo ambiente on-line. Foi feito com 2.017 pessoas (1.194 mulheres e 823 homens), com 18 anos de idade ou mais.

Com informações Correio Brasiliense
Imagem: Zach Guinta