Médicos avaliam dificuldade no diagnóstico da varíola dos macacos

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 28/07/2022 08h10, última modificação 27/07/2022 18h32
Doença, às vezes, aparece com uma única lesão, diferentemente de quadros mais graves descritos na literatura científica

No dia 14 de julho, o arquiteto Rodrigo (nome fictício), 39, viu algo parecido com um pelo encravado na região genital. Não deu muita bola. Três dias depois, no domingo, ele teve febre e calafrios, mas, após tomar paracetamol, sentiu-se melhor.


Na segunda, amanheceu ainda indisposto e imaginou que pudesse ser uma queixa. À tarde, porém, surgiu outra aparição, com uma espinha, na palma da mão. "Aí, como eu nunca vi pelo encravado ou espinha na palma da mão, corri atrás de um infectologista já com a certeza de que era a variola dos macacos. "


Na terça, quando se consulta ou, eram cinco pústulas no total: duas na região genital, duas nas mãos e uma no pé. No dia seguinte, ele fez o exame e veio o diagnóstico: era o vírus monkeypox , que já infectou mais de 800 pessoas no Brasil .


"O pior foi o susto de estar diante de uma doença nova. Procurando na internet, as imagens muito feias. Para mim não foi nada, nem pela quantidade de problemas, pelo tamanho ou aparência", conta Rodrigo, que se tratou em casa e está curado. Ele tem um parceiro que não foi infectado. Ambos se relacionam sexualmente com outros homens.


O caso do arquiteto não é exceção. Infecções frequentes que têm sido os casos de sintomas relacionados mais sutis, que não lembram a clássica variola dos casos descritos na literatura, com macaco que inclui febre, dor de cabeça, inflamação dos gânglios linfáticos, seguidos de pústulas em várias partes do corpo, que, depois, viram crostas.


Essa diferença pode retardar a busca de ajuda médica, os profissionais de saúde não foram pensados para o diagnóstico e a ajuda para a disseminação dos casos, segundo os casos.


A pesquisadora tanto Rosana Richtmann, do Instituto Emílio Ribas, conta que tem atendido no SUS quanto não há consultórios específicos de pacientes com a varíola dos macacos que apresentam bem mais sutis do que como que parecem nos artigos científicos e nas notícias sobre a doença.


Em geral, são pequenas pústulas com conteúdo meio amarelado que podem ocorrer em várias partes do corpo, como no rosto e nas regiões genital e anal, mas não necessariamente todas ao mesmo tempo.


"Os grupos HSH homens [homens que fazem sexo] estão mais ligados em qualquer lesão que aparecem na pele e nos queixa com logo. Mas, em geral, não questionado por febre, calafrios, nada disso."


O infectologista Alexandre Naime Barbosa, professor da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, conta que atendeu um que tinha apenas uma pequena lesão no rosto, na região abaixo do lábio, que parecia uma espinha.


"Mas, como ele já faz Prep [terapia de prevenção ao HIV] comigo e tinha oral com vários parceiros, ficou preocupado, fez sexo uma consulta, testamos e era [o vírus] monkeypox."


O infectologista Esper Kallás, professor da USP e colunista da Folha , também tem observações atípicas em pacientes ou pacientes da folha de macacos com a varínicas.


"Às vezes, aparece uma pontinha inflamada na perna e o sujeito acha que é um pelo encravado. Aí passa uma semana e está com um gânglio vermelho, febre alta, passando mal. Essa evolução não permite a pessoa fazer um diagnóstico rápido."


De acordo com ele, estão sendo observados os problemas de todos os tipos. "Umas muito claras, capacidades genitais, vesículas, mas têm outras lesões.


Para Richtmann, há muitas diferenças na apresentação clássica dos macacos na África e que foi observada entre a Europa, nos Estados Unidos e atualmente no Brasil que a doença já merece um outro nome.


Segundo os médicos, como frequentemente se infectam porque funcionam como porta de entrada para bactérias. "Por isso é importante não ligar a lesão para não virar uma lesão secundária", explica a médica.


Em geral, a cicatrização ocorre no período de duas a quatro semanas. Nesse período, é fundamental que a pessoa infectada se mantenha isolada.


Uma vez que estão preocupados com os especialistas são os de pessoassintomáticas que, sem saber que estão com uma doença, continuam transmitindo-a. Um estudo feito na Bélgica mostrou que até 13% das pessoas podem ter o vírus detectado no ânus ou no pênis e estar sem sintomas.


"É uma doença de incubação longa, a infecção pode demorar três semanas depois da alteração dos sintomas. Isso tudo dificultará muito. bolha, tem que ser considerada suspeita", afirma Barbosa.


Mas, segundo o infectologista, isso não está disponível. "Esses pacientes precisam ser isolados e testados para que se quebre a cadeia de transmissão. A própria definição do Ministério da Saúde sobre a varíola dos macacos precisa ser atualizada diante da apresentação clínica da doença atual", diz.


"O governo federal, um exemplo do que ocorreu na Covid, continua com uma falta de percepção de risco . Estão sendo feitas suspeição de testes."


Para o médico, é preciso deixar mais que não se trata de uma doença que só afeta a população de homens que fazem sexo com homens. "Ela começou nessa população e ainda tem uma altíssima prevalência, mas o mundo já registra mais de 70 casos em crianças. A doença é democrática."


Ele diz que a população HSH é a que menos causa preocupação porque ela já conhece os riscos e ajuda rapidamente quando algo de errado se encontra. "Já a população em geral, por causa da estigmatização e do mesmo erro que cometemos em relação ao HIV, não se sente em risco."


Na sua opinião, é preciso que o país agilize o acesso à vacina para conseguir frear a transmissão nos grupos de maior risco . "Como você vai falar para as pessoas não se tocarem, não se abraçarem, não se beijarem e não fazerem sexo?"


No sábado (23), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que o governo federal com a Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) a aquisição de vacinas por meio do fundo rotatório, um mecanismo internacional de cooperação técnica para acesso a vacinas, mas que ainda não há prazo para isso.


Esper Kallás também considera fundamental vacinar os grupos de maior risco, como a população HSH e os profissionais de saúde, a exemplo do que já fazem a Europa e os EUA. "Também é preciso mais informação para reforço das cadeias de notificação e notificação, além de fazer um mapeamento da distribuição epidemiológica."


Outro ponto é a oferta de remédios para outros casos ou tratamento de alguns casos mais complicados de monkeypox. O tecovirimat e o brincidofovir são medicamentos indicados para esse fim, mas nenhum deles está disponível no Brasil.

 

.....................................................

 

Fonte: Folha de São Paulo

Imagem: Arquivo pessoal

Edição Site TV Assembleia