Leishmaniose permanece como doença infectocontagiosa de impacto

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 13/07/2022 13h24, última modificação 13/07/2022 13h24
A enfermidade infecciosa é comum na região das Américas

Doença que atinge principalmente a população negligenciada, a leishmaniose ainda representa um desafio para a saúde pública e requer ação conjunta de autoridades, profissionais de saúde e população para a implementação de ações de vigilância, prevenção e controle. A enfermidade infecciosa é comum na região das Américas. No Brasil, grande parte dos registros ocorre no meio rural, onde a carência de investimentos estruturais em saneamento, atenção à saúde e educação básica são mais frequentes. Com o objetivo de controlar e eliminar as leishmanioses, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), por meio do Programa Regional de Leishmanioses, presta apoio aos países endêmicos e estabelece cooperações técnicas a fim de promover o fortalecimento de ações que possam reduzir o número de casos.

 

Causada por parasitas do gênero Leishmania, transmitidos por algumas espécies de insetos flebotomíneos, também conhecidos como mosquito palha, tatuquira ou birigui, a doença pode ser classificada em duas formas: leishmaniose tegumentar ou cutânea (LT), que ataca a pele e as mucosas; e a visceral ou calazar, que sobrecarrega os órgãos internos, como o fígado, baço e medula óssea. Por ser uma enfermidade que não é transmitida de humano para o outro, não é contagiosa e tem cura. No entanto, quando não tratada, a leishmaniose visceral pode levar à morte.

 

Por isso, o avanço da leishmaniose tem preocupado especialistas. De acordo com o Ministério da Saúde, mais de 16 mil pessoas anualmente apresentaram leishmaniose cutânea no Brasil entre 2015 e 2020, sendo o maior número de casos registrados nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste. Além disso, nos últimos 20 anos, foram notificados à Opas mais um 1 milhão de casos de leishmaniose cutânea nas Américas, com média de 50 mil casos anuais. 

 

Esses dados são importantes para o monitoramento e perfil das diferentes formas clínicas, bem como a implementação de estratégias que visam à eliminação da doença. A complexidade epidemiológica da leishmaniose traz desafios para a prevenção e controle. Entretanto, as principais medidas preventivas devem focar no inseto flebotomíneo que transmite a parasitose. Esses insetos vivem principalmente nas matas ou áreas próximas a elas, e se multiplicam em material orgânico, principalmente nas épocas mais úmidas do ano. 

 

“Evitar penetrar em matas e construir as casas em local distante das matas ou de árvores frutíferas, utilizar telas de malha fina em portas e janelas ou mosquiteiros de malha fina, já que os flebotomíneos são pequenos e podem atravessar telas ou malhas mais largas, usar roupas de mangas compridas e calças compridas, utilizar repelentes em áreas não cobertas pelas roupas e reaplicar regularmente”, assinala Maria Inês Fernandes Pimentel, chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Leishmanioses do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), da Fiocruz. 

 

Além disso, é importante também evitar o acúmulo de lixo e o uso de coletores de lixo sem tampa, já que podem atrair animais como roedores e gambás, que são reservatórios dos protozoários para os insetos flebotomíneos. 

 

A pesquisadora do INI ressalta que o tratamento das leishmanioses deve ser bem avaliado pelo médico e o uso de medicamentos deve ter acompanhamento clínico e a realização de exames antes, durante e logo após o tratamento. “Atualmente, os medicamentos indicados ou a via de administração variam conforme o tipo de leishmaniose, o número, tamanho e localização das lesões, a espécie do protozoário, a idade do paciente, e também para gestantes, pacientes com doenças do coração, fígado ou rins ou transplantados desses órgãos, pacientes infectados pelo vírus HIV, por exemplo”, explica.

 

O papel do cão no controle da leishmaniose visceral 

 

Na leishmaniose visceral a transmissão ocorre de forma diferente: o flebotomíneo pica um hospedeiro infectado, geralmente o cão, e depois pica o ser humano. Dessa forma, os cães acabam sendo os responsáveis pela manutenção da transmissão da doença, que tem período de incubação de 3 a 8 meses, e prevalência em humanos de cerca de 3.000 casos por ano no Brasil. 

 

Com relação à prevalência, a doença está presente em todos os estados brasileiros e tem como sintomas perda de peso, febre e inchaço na barriga. Em geral, o início e a evolução da doença são agudos ou subagudos e os quadros mais graves ocorrem em crianças, idosos e pessoas imunodeficientes (com doenças pré-existentes). Exames de sangue ou pesquisa dos parasitas na medula óssea são utilizados para a comprovação da doença. Apesar de grave, pode ser tratada em humanos por meio do Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, ainda é comum o diagnóstico tardio.

 

Quanto ao tratamento de cães com a leishmaniose visceral, ele pode ser realizado por meio de medicamento que não é utilizado para o tratamento da doença em humanos, como a miltefosina, aprovado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento em 2016. Entretanto, por ser caro e o cão necessitar de exames e consultas regulares, muitos donos abandonam o tratamento de seus animais. 

 

O pesquisador Sandro Pereira, chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Dermatozoonoses em Animais Domésticos (Lapclin-Dermzoo), afirma que o medicamento reduz o risco de transmissão da doença, mas não garante que o cão não vai voltar a se infectar. Nos casos de animais que apresentam o exame parasitológico positivo e que não estejam em tratamento, o Ministério da Saúde recomenda a prática da eutanásia. De acordo com estudos, a eliminação de cães tem o pior desempenho quando comparada com outras estratégias de controle, como o uso de inseticidas, por exemplo, e até mesmo a vacinação canina, como medida de proteção ao animal e população em áreas de risco. 

 

Por outro lado, o uso da coleira com efeito repelente é medida complementar recomendada para minimizar a transmissão leishmaniose visceral, com eficácia de mais de 90% contra a picada do flebotomíneo. “A utilização de coleiras impregnadas com deltametrina impede a picada por ação repelente e inseticida”, enfatiza a pesquisadora Maria Inês Fernandes Pimentel.

 

A vacinação canina é outra forma de prevenir a infecção, mas estudos científicos ainda avaliam o custo-benefício em programas de saúde pública. “Ela funciona como forma de tratamento, mas o cão nunca deixa de ter o parasita e deve ser monitorado até o fim da vida. Além disso, é uma medida de proteção controversa”, afirma Elisa Cupolillo, pesquisadora do Laboratório de Pesquisa em Leishmaniose do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e curadora da Coleção de Leishmania do IOC. 

 

Para Sandro Pereira, Lapclin-Dermzoo, a atuação do médico veterinário na atenção básica à saúde e nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasf) também são medidas que podem auxiliar no controle das zoonoses endêmicas no País.

 

Novo padrão de transmissão 

 

O desmatamento e a modificação de áreas de matas em decorrência da construção de grandes obras podem aumentar os riscos para a ocorrência das leishmanioses, assim como migração de pessoas do campo para as cidades, levando seus animais de estimação. 

 

Segundo Elisa Cupolillo, do IOC, a leishmaniose visceral já tem sido vista em áreas urbanizadas em várias regiões do Brasil. “Isso ocorre porque os insetos vão se adaptando às condições ecológicas e ambientes urbanos. Por isso, precisamos entender como se dá essa dispersão para a implementação de medidas mais efetivas de controle”. 

 

Atualmente, capitais como Teresina (PI) Belo Horizonte (MG), Campo Grande (MS) e Rio de Janeiro (RJ) têm registrado casos da doença, devido ao papel do cão doméstico como reservatório da leishmaniose.

 

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Fonte: Fiocruz

Imagem: Fiocruz

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