Imunidade e nutrição: equilíbrio vital para o organismo

por Helorrany Rodrigues da Silva publicado 28/02/2022 08h50, última modificação 28/02/2022 09h58
Em tempos em que a vida volta ao normal, manter os sistema de defesa em alta é fundamental para ficar saudável. Saiba como

Em um momento em que a maior parte das atividades retorna à presencialidade e, mesmo com as restrições, algumas pessoas planejam comemorar o carnaval — ainda que em casa —, os cuidados com a imunidade devem ser redobrados. Muitas pessoas já começam a rotina de consumo de comprimidos efervescentes de vitamina C diários, limão com mel, chás e outras técnicas conhecidas do senso comum. No entanto, o equilíbrio do sistema imune vai muito além de cuidados esporádicos e está profundamente conectado com diversos hábitos.

O pediatra, imunologista e vice-presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, Victor Nudelman, define a imunidade como o sistema do corpo humano que tem a função de preservar nossa identidade biológica como indivíduo no mundo. Isso significa que é por meio dela que o corpo é protegido de qualquer ser vivo estranho, como bactérias, vírus e parasitas. "Para isso acontecer, o sistema imune conta com uma extraordinária variedade de células que conseguem reconhecer cada substância viva da natureza", explica Victor.

Além desse reconhecimento essencial para avaliação de riscos, o sistema imune possui "células responsáveis pela eliminação desses micróbios e que ainda lembrarão dessa experiência (linfócitos de memória) para que numa próxima ameaça essa resposta seja bem mais rápida". E, para manter esse sistema de defesa funcionando da forma mais adequada possível, é imprescindível que existam práticas saudáveis na rotina que garantam o fornecimento ideal de energia e nutrientes básicos para a formação das células e anticorpos.

Prevenção

Em 2021, após duas semanas do carnaval, a média móvel de novos casos de covid-19 no Brasil aumentou 21%, segundo dados do Ministério da Saúde. No ano em questão, estavam proibidos blocos de rua e aglomerações, e, mesmo assim, ocorreram comemorações e encontros, que levaram à subida de casos. A tendência para 2022 é que o cenário de aumento se repita, principalmente porque muitos relaxaram os cuidados preventivos. A atenção com a alimentação associada a hábitos saudáveis não impedirá a infecção, mas podem ser essenciais na resposta do corpo às doenças.

Turbinando as defesas

Para que o sistema imunológico opere com os melhores níveis possíveis, o sono reparador, as atividades físicas e a atenuação do estresse são pontos de atenção. Além disso, a nutrição equilibrada é uma grande aliada. Nesse sentido, o médico Victor Nudelman reforça a importância de alimentos com função probiótica, como vegetais, legumes, grãos integrais e frutas que contêm fibras e serão digeridas no intestino por bactérias contidas em probióticos e que estimularão de boa forma o sistema imune. Essa dieta também é capaz de diminuir inflamações advindas de outros tipos de bactérias.

Atenção aos excessos

O nutrólogo Guilherme Araújo, do Hospital Brasília, esclarece que não existe somente um nutriente ou item alimentar que garantirá a saúde do indivíduo. O corpo precisa de valores adequados de um conjunto de nutrientes para operar de maneira satisfatória e não somente os modismos, como um nutriente "salvador". Durante a pandemia, devido às inseguranças do período, muitas pessoas começaram a suplementar de forma indevida e sem prescrição com objetivo de manter a saúde em dia. O médico alerta que existe uma série de riscos nessa suplementação desacompanhada, desde não melhorar os níveis em deficiência até sobredoses, que podem causar problemas sérios, como hipercalcemia, no caso da hipervitaminose de vitamina D.

Vitaminas e aminoácidos

Segundo Natasha Ferraroni, médica imunologista e doutora pela USP, os principais nutrientes que orquestram papéis vitais no bom funcionamento das células de defesa são o zinco, a vitamina D, o cálcio, o selênio e o magnésio. Cada um desempenhando sua função individual, por isso, ela alerta, principalmente, pacientes com alergias e restrições que deixarem de consumir algum alimento podem causar algum desbalanço com impacto no sistema imune. "Por exemplo, se essa pessoa tem um menor aporte do cálcio, isso vai trazer consequências para ela. Não só ósseas, como se imagina, mas também imunológicas e neurológicas", informa.

Além disso, Natasha reforça que pessoas não são fórmulas e, ao perceber que existe alguma deficiência ou baixo consumo de algum grupo alimentar, não adianta fazer um cálculo, independentemente de quanto é necessário por dia em média. "Não existe conta específica. Existe um paciente específico, cada um é cada um", afirma. Um exemplo citado pela médica é a vitamina D, que é lipossolúvel, ou seja, precisa ser consumida com fontes de lipídios, de gordura e não terá o mesmo efeito se consumida em jejum. São muitos fatores envolvidos e recomendações que devem ser orientadas e acompanhadas por profissionais da saúde.

O perigo das dietas restritivas

A médica Natasha Ferraroni assiste pacientes contaminados com doenças infecciosas, incluindo coronavírus. Após a contaminação e a recuperação, a recomendação é de que os acometidos não façam dietas de controle, principalmente as muito restritivas. "O principal substrato para produção de anticorpos é a proteína", indica. Por isso, algumas dietas podem ser insuficientes para garantir o aporte necessário de proteínas e nutrientes que formam as células do sistema imune e prejudicam o restabelecimento da imunidade, que já está baixa devido à infecção.

Mesmo sem estar infectado com um vírus, a alimentação não deve ser negligenciada, pois a baixa imunidade aumenta as chances de manifestação de infecções e inflamações, "como herpes, candidíase, sinusite, otite, micoses que não melhoram, entre outros", exemplifica a imunologista. Esses problemas podem ser manifestações da baixa imunidade porque houve algum desequilíbrio ou falta, como nutriente ou anticorpo. "Baixou a sua imunidade porque deixou de comer, não dormiu, se estressou, não se hidratou? Vai aparecer, porque o sistema imune é orquestrado por uma série de fatores, incluindo o emocional", completa Natasha.

Palavra do especialista

Existem nutrientes ou dietas relacionadas à imunidade?

Todos os nutrientes são importantes para a manutenção da imunidade, incluindo todas as vitaminas. Algumas têm ganhado mais atenção, como A, C e D, entretanto, isoladas, não possuem nenhum efeito especial no sistema de defesa. Com relação à nutrição, uma alimentação saudável deve se basear numa refeição balanceada e variada, rica em frutas, legumes e hortaliças com moderação na ingestão de alimentos ricos em gorduras e açúcares.

Polivitamínicos podem ser aliados na busca por manter a saúde e a imunidade em dia?

Não existem estudos que evidenciam uma melhor imunidade relacionada ao uso de polivitamínicos. Ao contrário, pode levar riscos à saúde. Diversos estudos demonstram que o uso de polivitamínicos por pessoas sem deficiências nutricionais pode aumentar o risco de desenvolvimento de câncer. O seu uso deve ser sempre supervisionado por algum médico e indicado quando há deficiências ou redução da absorção, como nos casos de cirurgias bariátricas ou em situações clínicas específicas, como gestação e dislipidemia.

Quais são as particularidades e a importância desses nutrientes para diferentes idades?

Para cada faixa etária, há uma recomendação diferente da quantidade de nutrientes a serem ingeridos para manutenção da saúde e da imunidade como um todo, sendo especial para crianças, que, além da demanda do organismo, devem garantir um crescimento saudável. Em gestantes, é necessário o maior fornecimento de nutrientes para garantir a formação saudável e adequada do feto. Em idosos, há um risco aumentado de deficiências nutricionais dependendo de sua alimentação. E existem algumas doenças que devem receber suplementação de nutrientes, tais como doenças intestinais disabsortivas.

Guilherme Araújo é nutrólogo do Hospital Brasília/Dasa


Com Informações Correio Braziliense
Imagem: Crédito: Valdo Virgo/CB/D.A.Press