Fisioterapia dá qualidade de vida aos animais de estimação
Fisioterapia ou reabilitação animal é uma especialidade na medicina veterinária que visa estabelecer o bem-estar físico e alívio de dores para todos os bichos, independentemente do que tenha levado o bicho a necessitar dos cuidados especiais. Essa vertente vem crescendo na última década e, embora os motivos de cada vez mais animais necessitarem de cuidados fisioterapêuticos ainda não estejam completamente mapeados em artigos científicos, pode ter relação com a total desconexão do animal com sua natureza e rotinas modernas.
A veterinária Fernanda Gazzinelli, que trabalha com fisioterapia há mais de cinco anos, percebe esse aumento de casos em animais cada vez mais jovens em sua prática clínica: "Tenho observado animais de cinco a seis anos de idade apresentando problemas e disfunções antes típicas de animais idosos". Nesse contexto, a reabilitação animal se torna essencial para garantir que o animal não viva a maior parte de sua vida com fortes dores, sem disposição ou condicionamento físico.
Muitos animais são direcionados por outros profissionais para esse tipo de tratamento, em sua maioria, para melhor recuperação de cirurgias para solução de problemas ortopédicos e motores, como luxação na patela, fratura, ruptura de ligamento e tratamento de hérnias de disco, artrites e artroses. Após acidentes, por exemplo, também pode ser necessário um cuidado intensivo e reabilitação, dependendo dos impactos no corpo do animal. Para alguns, após eventos como atropelamentos, pode nunca mais haver a movimentação de algum membro e, para isso, associada à próteses, a fisioterapia é uma grande aliada para facilitar a adaptação.
Apesar de, para muitas pessoas, a fisioterapia ser sinônimo de esteira e água, a especialidade vai muito além desse método, o tratamento consiste em exercícios terapêuticos voltados para uma melhora em inflamações, em disfunções e até mesmo na performance física. Nesse último caso, não necessariamente animais com doenças crônicas ou lidando com pós-cirúrgicos podem se beneficiar, pode ser importante para animais acima do peso ou em idades avançadas, que dessa forma se mantêm em movimento, um dos pilares para uma vida saudável.
Existem muitas possibilidades dentro da fisioterapia e a veterinária Gazzinelli reforça que como cada caso é específico, o cuidado também é individualizado. Existem os exercícios passivos e ativos, a hidroesteira, a cinesioterapia e a aparelhagem, com tratamentos que incluem a magnetoterapia, a laserterapia, a eletroterapia e até mesmo o uso de ultrassom e acupuntura. Melhores resultados podem ser atingidos com uma associação estratégica de métodos, que podem ser complementares e apresentar progresso mais rápido no tratamento.
Recuperação inesperada
Quando um profissional qualificado, dedicado e experiente entra em cena, até mesmo uma recuperação inesperada pode acontecer, como é o caso do Snow, cão com dez anos de idade, adotado há três anos pela Karyne Cortes. Ela conta que conheceu o animal quando foi realizar uma doação de ração para uma ONG brasiliense, a Toca Segura. Chegando ao local, realizou a contribuição e se encantou por um cachorro do abrigo, de temperamento dócil e alegre. No entanto, ele não tinha o movimento das patas traseiras, motivo pelo qual o animal tinha passado por mais de vinte feiras de adoção sem encontrar uma família que o acolhesse.
Karyne conta que a condição do animal não fazia nenhuma diferença no amor e companhia que ele poderia oferecer e, mesmo sabendo que por sua idade avançada os anos ao lado dele não seriam longos, quis fornecer a melhor vida possível, digna e cheia de afeto. Logo no início da adoção, já o levou para diferentes profissionais avaliarem a saúde física, e ouviu de todos que a perspectiva de recuperação dos movimentos era praticamente inexistente. Snow possui artrite e artrose, por isso, a fisioterapia era recomendada no controle da dor crônica, no fortalecimento dos músculos e para evitar o agravamento dos problemas já existentes.
O tratamento multidisciplinar no Centro de reabilitação VetSpa (@vetspa.fisiatria) começou com o objetivo de permitir que ele realizasse as necessidades básicas sozinho, mas obteve um resultado muito além das expectativas. Hoje, além de ter uma certa independência, ele consegue andar novamente e os passeios costumam chegar até 2 quilômetros, respeitando os limites do cachorro. A veterinária responsável pelo tratamento afirma que o sucesso não se trata de um "milagre" ou acaso, que as boas práticas e dedicação da tutora também contribuíram com a melhora significativa.
É importante ressaltar que, segundo a profissional, todo o procedimento é feito em conjunto com o tutor, pois, o animal precisa ser cuidado e estimulado em casa também, não somente uma ou duas vezes na semana na clínica. O processo é como uma academia de ginástica, a ida uma ou duas vezes na semana pode não ter grandes efeitos ou pode demandar mais tempo para que seja perceptível se o padrão do resto dos dias for o sedentarismo completo. Por isso, a veterinária recomenda que o cuidado em casa ocorra também, de acordo com a instrução do profissional de confiança que o acompanha, assim tendo o impacto desejado, sem oferecer riscos.
ONG e superação
Além das consultas particulares de animais, a clínica tem uma parceria com a ONG Toca Segura, que é recebida duas vezes por semana nas instalações. Soraia Daher, voluntária que realiza o transporte dos bichos, ressalta que percebe a enorme diferença no antes e depois dos exercícios, os animais ficam mais tranquilos, dispostos e alegres — o que ela relaciona com a redução das dores. Outro fator que ela percebe melhora significativa é no sono e no apetite dos cachorros que ela transporta, além da animação para ir para a clínica. Segundo ela, os profissionais passam muita segurança e para os cães acaba se tornando uma espécie de brincadeira.
A Toca Segura só cuida de cachorros e entre os que fazem tratamento fisiátrico com frequência estão: Filó, Diamante, Ísis, Dengo, José e Lipe — todos disponíveis para adoção. Soraia se emociona contando as histórias de alguns deles, mas uma delas a marcou profundamente, a Madonna, que faleceu há um tempo. Ela foi de um prognóstico nada otimista, tetraplégica, para voltar a caminhar, mesmo com limitações, mas com uma qualidade de vida incomparável. Outro animal que passou por uma superação foi Ísis "foguetinho", que já recebeu alta da fisioterapia e hoje utiliza prótese nas patas traseiras.
Fisioterapia preventiva
Os métodos transformadores na vida dos animais não são restritos para cães e gatos, podem ser aplicados em todos os animais, como cavalos, coelhos, aves e até roedores, como porquinhos-da-índia. A veterinária Catherine Lara informa que todos podem ser tratados, até mesmo os não convencionais, mas que demandam cuidados particulares com veterinários especializados. Ela também reforça que para iniciar as atividades terapêuticas os tutores não precisam esperar atingir quadros graves e praticamente irreversíveis, a intervenção pode ocorrer em diagnósticos em estágio inicial, para prevenir a evolução e diminuir o risco de novas lesões.
Em animais idosos também pode ser muito importante, para aumentar a expectativa de vida e o bem-estar, pois são animais que tendem a ficar cada vez mais parados e fragilizados. Na fisioterapia podem fazer exercícios de fortalecimento e baixo impacto nas articulações, controlando, assim, o sobrepeso e o sedentarismo. Outra recomendação importante da veterinária Catherine é de adaptar a casa à medida que o companheiro envelhece, principalmente se for um local com muitas escadas e locais altos que fazem com que o animal suba e desça com muita frequência. Os pisos lisos e tapetes escorregadios também podem ser perigosos pois podem causar acidentes e piorar o estado de um bicho enfraquecido ou em recuperação.
*Estagiária sob supervisão de Taís Braga