Festa junina volta mais cara; veja os 34 vilões deste ano

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 07/06/2022 08h00, última modificação 06/06/2022 16h55
De 35 itens, só o arroz teve queda; preços do tomate e do açúcar dispararam

Nem o retorno das tradicionais festas juninas, após dois anos de pandemia de Covid-19, escapa da disparada da inflação no país. O motivo é a alta dos preços de alimentos usados no preparo de receitas típicas dos arraiás.

 

Em uma cesta com 35 alimentos e bebidas medidos pelo IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15), 34 ficaram mais caros no acumulado de 12 meses até maio.

 

O tomate, que pode ser aproveitado em lanches como o cachorro-quente, teve a maior disparada no período: 80,48%.

 

Açúcar refinado (36,28%), açúcar cristal (34,70%), óleo de soja (33,80%), mandioca (31,26%) e cebola (30,34%), ingredientes de receitas diversas, vêm na sequência.

 

Leite longa vida (28,04%), farinha de trigo (25,39%), fubá de milho (24,67%), maçã (24,28%) e maionese (23,98%) tampouco escaparam da alta.

 

Outros alimentos associados ao cardápio do período festivo, como milho em grão (23,55%) e bolo (18,49%), também avançaram.

 

A carestia ainda alcançou bebidas consumidas nas festas. O refrigerante e a água mineral subiram 11,70%, enquanto a cerveja aumentou 9,11%, de acordo com o IPCA-15.

 

Da amostra com 35 produtos analisados, o arroz (usado no preparo do arroz-doce) foi o único que registrou queda em 12 meses. O alimento recuou 10,80% até maio, após ter disparado na fase inicial da pandemia.

 

O IPCA-15, divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), subiu 12,20% em termos gerais no mesmo período.

 

 

Segundo analistas, o consumidor tende a encontrar pratos juninos mais caros devido a uma combinação de fatores neste ano.

 

Um deles é a alta dos custos de produção de alimentos, desde o campo até as cidades. Insumos passaram a custar mais na pandemia, e o gasto com o transporte da comida subiu em meio à disparada dos combustíveis no Brasil.

 

O clima também pressionou parte dos preços nos últimos meses, já que fenômenos extremos danificaram plantações. Houve seca no Sul, além de fortes chuvas no Sudeste e no Nordeste. Com a oferta reduzida, parte dos preços aumentou.

 

Por fim, commodities agrícolas, incluindo milho, soja e trigo, tiveram valorização no mercado internacional, o que contribuiu para as pressões ao longo das cadeias produtivas.

 

"É uma inflação deflagrada", diz o economista Jackson Bittencourt, coordenador do curso de economia da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).

 

Ele acrescenta que a Guerra da Ucrânia também teve impacto na subida de commodities como o trigo, matéria-prima para pães, massas e bolos.

 

"Vivemos um momento de inflação alta. Assim, é até natural que os alimentos acompanhem a elevação dos preços", aponta o economista Luca Mercadante, da Rio Bravo Investimentos.

 

Após as restrições forçadas pela pandemia, o ano de 2022 marca a retomada de festas juninas que costumam atrair multidões.


O Ministério do Turismo afirma que os eventos devem movimentar cerca de R$ 2 bilhões nos principais destinos do país no período. Municípios do Nordeste como Campina Grande (PB) e Caruaru (PE) fazem parte dessa lista.

 

"Os dois grandes eventos do Nordeste são o Carnaval e o São João. O retorno dos festejos é fundamental para a economia local", afirma o economista Werton Oliveira, da consultoria Ekonomy, de João Pessoa (PB).

 

Ele também associa o avanço no preço de alimentos típicos das festas juninas a fatores como o clima adverso, a alta nos custos de produção e a valorização das commodities.

 

PREÇOS PRESSIONADOS AO LONGO DO ANO

 

Na visão de economistas, a tendência é que os preços dos alimentos permaneçam pressionados ao longo deste ano, mas com avanços menos intensos do que os vistos nos últimos meses.

 

"A política monetária [com aumento de juros] deve ter mais efeitos sobre a inflação no segundo semestre. Assim, a perspectiva é que a inflação de modo geral desacelere", diz Mercadante, da Rio Bravo.

 

O economista, porém, avalia que ainda há riscos no caso dos alimentos. "A gente pode ter novas incertezas com eventuais choques de oferta devido ao clima e à Guerra da Ucrânia."

 

Bittencourt, da PUC-PR, vai na mesma linha. Segundo ele, riscos continuam no radar, mas é possível que a carestia da comida desacelere.

 

"A tendência é que os preços comecem a subir com menos intensidade."

 

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Fonte: Folha de São Paulo

Imagem: Adriano Vizoni/Folhapress

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