Fazer exercício em lugar com poluição pode anular benefícios para o cérebro; entenda
Os estudos, que envolveram dezenas de milhares de homens e mulheres britânicos, constataram que, na maioria do tempo, pessoas que correm e pedalam vigorosamente têm um volume cerebral maior e enfrentam risco menor de demência, comparadas aos menos ativos.
Há indicações consideráveis de que, no geral, os exercícios físicos fortificam o cérebro. Em estudos, as pessoas ativas em geral exibem mais massa cinzenta em muitas partes de seus cérebros do que as pessoas sedentárias. A massa cinzenta é formada pelos neurônios essenciais e funcionais do cérebro.
As pessoas que estão mais em forma também tendem a apresentar massa branca, ou seja, as células que sustentam e conectam os neurônios, mais saudável. A massa branca muitas vezes se desgasta com a idade, encolhendo e desenvolvendo lesões parecidas com os buracos em um queijo suíço, mesmo em adultos saudáveis. Mas a massa branca das pessoas que estão em boa forma exibe menos lesões, e lesões menores.
Parcialmente como consequência dessas mudanças no cérebro, o exercício apresenta forte correlação com um risco menor de demência senil e outros problemas de memória quando uma pessoa envelhece. Mas a poluição do ar tem o efeito oposto sobre o cérebro.
Um estudo revela, por exemplo, que americanos mais velhos que vivem em áreas nas quais o nível de poluição do ar é elevado mostram distúrbios na massa branca de seus cérebros, em exames de tomografia, e tendem a apresentar níveis de declínio mental mais altos do que os de pessoas idosas que vivam em outras áreas.
E um estudo sobre ratos alojados em jaulas colocadas perto de um túnel de tráfego pesado e que acumula grande volume de gases de escapamento, no norte da Califórnia, demonstra que as cobaias não demoraram a desenvolver demência. A maioria dos animais envolvidos foram criados com uma predisposição a um análogo animal do mal de Alzheimer, mas a mesma conclusão se aplica a outro conjunto de ratos que não têm inclinação genética à doença.
Poucos estudos, porém, estudaram de que maneira o exercício e a poluição do ar podem interagir dentro de nossos crânios, e se fazer exercícios no ar poluído serviria para proteger nossos cérebros contra os vapores nocivos ou solaparia os benefícios que a atividade física traz.
Assim, no primeiro dos novos estudos, publicado em janeiro pela revista científica Neurology, pesquisadores da Universidade do Arizona e da Universidade do Sul da Califórnia obtiveram registros de 8,6 mil adultos de meia-idade cujos dados constam do UK Biobank.
BENEFÍCIOS DESAPARECEM
Os dados demonstraram que quanto mais as pessoas se exercitassem, menor a probabilidade de que desenvolvessem demência, com o tempo —desde que o ar dos locais em que vivem seja limpo. Em lugares onde o ar era moderadamente poluído, no entanto, existia risco ampliado de demência em longo prazo, quer a pessoa se exercitasse, quer não.
CONSTATAÇÃO "ALARMANTE"
"Esses dados são significativos em termos de nossa compreensão sobre fatores de risco modificáveis quanto ao envelhecimento do cérebro", disse Pamela Lein, professora de neurotoxicidade na Universidade da Califórnia em Davis, que comandou o estudo anterior sobre ratos e poluição do ar. Ela não participou dos novos estudos.
FORTIFICANDO A SAÚDE DO CÉREBRO
Na prática, diversas medidas podem ajudar a fortificar os benefícios do exercício físico para o cérebro, dizem os especialistas.
- "Mantenha-se afastado de vias de tráfego pesado, se possível", disse Raichlen. Os escapamentos dos automóveis respondem por uma das formas de poluição mais prejudiciais à saúde humana.
- Verifique as condições locais no site airnow.gov, que usa um código de cores para classificar as condições de ar nos Estados Unidos, com base em códigos postais A maioria dos apps de meteorologia também oferece informações sobre o nível local de qualidade do ar. O objetivo é fazer exercícios em locais nos quais a qualidade do ar seja verde, o que equivale a boa. A qualidade do ar muda ao longo do dia; portanto, volte a verificar depois de algumas horas se as condições parecem desfavoráveis em um primeiro momento.
- Fazer exercícios em ambientes fechados pode não ser melhor. "As indicações disponíveis apontam que os níveis de poluição em ambientes fechados são mais ou menos semelhantes aos que prevalecem do lado de fora", disse Raichlen, a menos que um edifício, por exemplo uma academia de ginástica, tenha instalado sistemas extensos de filtragem de ar. Poluentes podem entrar em edificações facilmente por portas ou janelas abertas, ou rachaduras na estrutura, e o governo não monitora regularmente a qualidade do ar em ambientes fechados. Há mais informações disponíveis no site da Agência de Proteção Ambiental (EPA) americana.
- O uso de máscaras pode ajudar. Tanto máscaras cirúrgicas quanto máscaras N95 filtram alguns particulados insalubres, como fuligem e outros materiais, disse Melissa Furlong, epidemiologista ambiental na Universidade do Arizona e uma das autoras dos dois estudos. "Se você não se incomoda em usar uma máscara durante o exercício", ela disse "é provável que a prática resulte em uma redução da exposição a particulados".
- O mais importante é continuar a fazer exercícios. O exercício tem múltiplos benefícios para a saúde cardiovascular e "não queremos desencorajar as pessoas de serem fisicamente ativas", disse Raichlen, mesmo que as condições do ar estejam abaixo do ideal. Nos novos estudos, os cérebros de pessoas que se exercitam no ar poluído não parecem melhores mas tampouco parecem piores do que os das pessoas que não se exercitam de todo, ele apontou.