Estudos clínicos levam em conta diferenças entre homens e mulheres

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 31/05/2023 13h18, última modificação 31/05/2023 13h18
Segundo endocrinologista, boa parte das respostas aos remédios e tratamentos são específicas de cada sexo

Historicamente mulheres são sub-representadas em estudos e análises sobre saúde. Isso faz com que menos tratamentos estejam disponíveis para doenças especificas do sexo feminino, além de impedir que as particularidades do corpo feminino sejam observadas no desenvolvimento de medicamentos. O endocrinologista Flavio Cadegiani destaca que a diferença de gênero na pesquisa médica resulta em desvantagens concretas para pacientes mulheres, visto que ao longo dos anos os estudos estiveram mais voltados para os homens.

 

“Os homens já tiveram muito remédio, muita pesquisa para muita doença que foi analisada para eles exclusivamente, na história. Então não é justo agora a gente não ter essa análise sendo feita específica para mulheres. A partir do momento que você não estuda o sexo feminino, você tem terapias que deixam de ser usadas que seriam especificamente para mulheres. E  aí como você não consegue estratificar por sexo, você não consegue definir a eficácia para a mulher”, explicou o especialista, que é doutor em endocrinologia clínica pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

 

Cadegiani analisa que separar os resultados das pesquisas por gênero traria resultados mais efetivos e poderia dar a chance de se criar tratamentos mais eficazes para as mulheres, levando em conta as diferenças fisiológicas entre os sexos, e portanto a reação deles aos medicamentos. 

 

“Pouquíssimas pesquisas analisam os resultados por sexo, deveria ser obrigatório, porque nós sabemos que as respostas da maioria das medicações é específica de cada sexo, tanto na área da psiquiatria, oncologia, endocrinologia. As respostas são diferentes. Então essa análise por sexo deveria se tornar obrigatória”, concluiu, destacando que com a mistura dos dados relativos a mulheres e homens nas análises, a eficácia desses medicamentos pode se perder nas estatísticas.

 

Diferenças hormonais

 

Entre as principais razões que levaram pesquisadores a excluir o sexo feminino dos estudos clínicos estão as mudanças hormonais e a possibilidade de mulheres engravidarem. 

 

Contudo, o endocrinologista ressalta que, em pesquisas de curto prazo, cujos tratamentos duram até 10 dias, isso deveria servir de incentivo para estudar cada fase feminina, inclusive devendo ampliar a quantidade de mulheres nas pesquisas para retratar todas as variações hormonais.

 

O especialista enumera cada um dos perfis da mulher que pode ser estudado, segundo as questões hormonais. “As mulheres têm várias fases: há aquela na fase folicular do ciclo, a que está na fase lútea, a que usa anticoncepcional e a que está na menopausa. Então, temos quatro perfis de mulheres”, explica.

 

Por isso, o endocrinologista entende que os estudos deveriam incluir até mesmo maior quantidade de mulheres do que de homens em pesquisas, para representar esses diferentes grupos de forma igual, em especial em estudos cujos impactos são potencialmente significativos para o público feminino. “As mulheres deveriam representar três quartos ou quatro quintos dos grupos de pesquisa, porque cada um desses grupos deveria ser igualmente representado nos estudos”, considera o dr. Flavio Cadegiani.

 

Já quanto à possibilidade de gravidez, o endocrinologista defende que os estudos poderiam incluir uma prescrição de anticoncepção para a mulher que deseja participar da pesquisa clínica, indicando que isso não é razão para excluir as mulheres.

 

Legislação 

 

Neste sentido, o deputado federal Célio Silveira (MDB-GO) apresentou o Projeto de Lei 3611/2019, que trata da paridade percentual dos gêneros, buscando equiparar a quantidade de homens e mulheres em pesquisas clínicas. “Estudos mostram uma representação deficitária das mulheres na coleta de amostras. Apresentei esse importante projeto que tem por objetivo aumentar a representatividade feminina nas pesquisas clínicas ou biológicas realizadas em seres humanos”, contextualizou.

 

O projeto já foi aprovado na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher. Agora, está aguardando parecer do relator na Comissão de Ciência, Tecnologia e Inovação da Câmara dos Deputados.

 

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Fonte: Brasil 61

Imagem: Foto de Lucas Vasques na Unsplash

Edição: Site TV Assembleia