Estudo revela aumento da pressão arterial durante pandemia

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 17/06/2022 08h05, última modificação 16/06/2022 18h04
A hipertensão pode prejudicar o coração, cérebro, os vasos sanguíneos, rins, olhos e a função sexual

O primeiro ano de pandemia foi difícil. Os americanos enfrentaram uma pandemia global, a perda de entes queridos, bloqueios que fragmentaram as redes sociais, estresse, desemprego e depressão.

 

Provavelmente não causa surpresa que a pressão sanguínea do país tenha disparado.

 

Cientistas relataram que as medições de pressão arterial de quase 500 mil adultos apresentaram um aumento significativo em 2020 em comparação com o ano anterior.

 

Essa medição descreve a pressão do sangue contra as paredes das artérias. Com o tempo, o aumento da pressão pode prejudicar o coração, cérebro, os vasos sanguíneos, rins e olhos. A função sexual também pode ser afetada.

 

"São dados muito importantes que não surpreendem, mas são chocantes", disse o dr. Donald M. Lloyd-Jones, presidente da Associação Cardíaca Americana, que não participou do estudo.

 

"Mesmo pequenas mudanças na pressão arterial média da população", acrescentou ele, "podem ter um enorme impacto no número de derrames [acidente vascular cerebral], eventos de insuficiência cardíaca e infartos que provavelmente veremos nos próximos meses."

 

O estudo, publicado no final do ano passado como uma carta de pesquisa na revista Circulation, é um lembrete gritante de que, mesmo em meio a uma pandemia que matou mais de 785 mil americanos e prejudicou o acesso aos tratamentos de saúde em geral, as condições crônicas de saúde ainda devem ser cuidadas.

 

Quase a metade de todos os adultos americanos têm hipertensão, uma condição crônica conhecida como "assassino silencioso" porque pode ter consequências fatais, embora produza poucos sintomas.

 

A hipertensão também pode colocar as pessoas em maior risco de doenças graves se estiverem infectadas com o coronavírus. (As evidências dessa ligação são mistas, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças do governo americano).

 

O novo estudo, realizado por pesquisadores da Clínica Cleveland e da Quest Diagnostics, examinou dados de centenas de milhares de funcionários e familiares em programas de bem-estar que monitoraram a pressão arterial e outros indicadores de saúde, como o peso.

 

Os participantes, de todos os 50 estados americanos e do Distrito de Columbia, incluíam pessoas que tinham pressão arterial elevada e outras com pressão arterial normal no início do estudo.

 

"Observamos que as pessoas não estavam se exercitando tanto durante a pandemia, não estavam recebendo cuidados regulares, estavam bebendo mais e dormindo menos", disse o dr. Luke Laffin, principal autor, cardiologista preventivo e codiretor do Centro de Distúrbios da Pressão Arterial na Clínica Cleveland. "Queríamos saber se a pressão arterial delas estava mudando durante a pandemia."

 

Os pesquisadores descobriram que as leituras de pressão arterial mudaram pouco de 2019 para os primeiros três meses de 2020, mas aumentaram significativamente de abril a dezembro de 2020, em comparação com o mesmo período de 2019.

 

A pressão arterial é medida em unidades de milímetros de mercúrio (mm Hg) e consiste em dois números. O primeiro número refere-se à pressão sistólica, quando o coração se contrai, e o segundo número refere-se à pressão diastólica, quando o coração descansa entre os batimentos. Acredita-se que a pressão arterial normal é de 120/80 mm Hg (a chamada 12 por 8) ou menos, embora haja décadas de disputa sobre os níveis ideais.

 

O novo estudo descobriu que a mudança média mensal de abril de 2020 a dezembro de 2020, em comparação com o ano anterior, foi de 1,10 mm Hg a 2,50 mm Hg para pressão arterial sistólica e 0,14 a 0,53 para pressão arterial diastólica.

 

Os aumentos foram reais em homens e mulheres de todas as faixas etárias. Aumentos maiores na pressão arterial sistólica e diastólica foram observados em mulheres.

 

A idade média dos participantes do estudo foi de pouco mais de 45 anos, e pouco mais da metade deles eram mulheres. Mas os críticos disseram que a falha em incluir informações sobre a #raça e a etnia dos participantes foi um problema significativo no estudo, já que a hipertensão é muito mais prevalente entre os negros americanos do que entre os brancos ou hispânicos.

 

Os negros também foram desproporcionalmente afetados pela pandemia. Laffin disse que as informações sobre raça e etnia estavam disponíveis apenas para 6% dos participantes do estudo, portanto, uma análise não seria significativa.

 

Mas há uma grande diferença entre americanos negros e americanos brancos e hispânicos quando se trata de hipertensão, disse Kim Williams, cardiologista do Centro Médico da Universidade Rush em Chicago e autor das diretrizes nacionais de pressão arterial publicadas em 2017.

 

"O estado hipertensivo tem sido epidêmico na população afro-americana há décadas", disse ele. "Nossas terapias melhoraram e nossa tentativa de chamar a atenção para isso melhorou, mas a lacuna está aumentando. E sabemos que a pandemia atingiu diferentes culturas e diferentes aspectos da sociedade de maneiras diferentes."

 

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

 

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Fonte: Folha de São Paulo/The News York Times

Imagem: Kateryna_Kon/Adobe Stock

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