Especialista destaca a fragilidade da investigação criminal no Brasil

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 20/01/2025 18h29, última modificação 20/01/2025 18h29
Jordão Santana foi o convidado desta segunda-feira, 20, do programa Palavra Aberta

A edição Palavra Aberta desta segunda-feira, 20, com o jornalista Thiago Moraes na apresentação, trouxe à tona um tema sensível e de grande impacto na sociedade brasileira: os erros nos processos judiciais e os danos causados às vítimas desses equívocos. O caso discutido foi o de uma mulher presa em Parnaíba, acusada de envenenar cajus, cuja investigação pericial só foi concluída cinco meses depois, revelando falhas graves que causaram danos irreparáveis.

 

O criminólogo Jordão Santana, convidado do programa, destacou que o caso de Parnaíba é um reflexo de problemas estruturais e históricos no sistema de investigação criminal brasileiro. Ele apontou que o Brasil tem priorizado, desde 1945, um policiamento ostensivo em detrimento de um trabalho científico e investigativo. No Piauí, por exemplo, a polícia científica é a mais mal remunerada do país, o que impacta diretamente a qualidade das investigações. O criminólogo criticou também a condução coercitiva da acusada, feita de forma espetacularizada, o que contribuiu para seu pré-julgamento público. “Ela foi tratada como uma vilã fictícia, com todos os elementos para encarnar uma ‘bruxa má’, sem que houvesse qualquer evidência concreta contra ela,” afirmou Jordão.

 

Outro ponto central discutido foi a responsabilidade da imprensa e das redes sociais. Canais sensacionalistas e redes sociais muitas vezes amplificam a pressão pública por resultados imediatos, contribuindo para o pré-julgamento de suspeitos. Esses canais chegam a acompanhar operações policiais em tempo real, criando uma narrativa que não apenas distorce os fatos, mas também compromete o direito à presunção de inocência. João Jordão ressaltou que a busca por “suspeitos imediatos” é prejudicial tanto para as investigações quanto para a sociedade. A pressa em apontar culpados cria situações de injustiça, como o linchamento moral e social da acusada, que teve sua casa incendiada e quase foi linchada.

 

O Brasil enfrenta um desafio crônico na área de segurança pública, caracterizado por uma abordagem reativa e de contenção que pouco impacta na prevenção dos crimes. Segundo o pesquisador Jordão Santana, o fenômeno que ele denomina de "Síndrome da Rainha Vermelha" ilustra como as políticas de segurança muitas vezes se limitam a soluções paliativas, como o enfrentamento direto e o policiamento ostensivo, em vez de atacar as causas estruturais do problema.

 

Santana destaca que o modelo policial brasileiro tem um caráter predominantemente reativo, esperando que crimes ocorram para então agir. “Nós não temos uma atividade de prevenção eficaz; o que se vê é uma mera contenção, algo comparável a enxugar gelo”, afirma o pesquisador.

 

Acompanhe a entrevista na íntegra



Fonte: TV Assembleia