Éle Semog no Palavra Aberta: A Poesia como arma de resistência e transformação social

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 09/12/2024 17h22, última modificação 09/12/2024 17h22

A literatura brasileira tem em Éle Semog um de seus maiores expoentes, um poeta cuja trajetória de mais de 50 anos se entrelaça com a luta pela afirmação da identidade negra e o combate ao racismo. O ativista, cujo verdadeiro nome é Luís Carlos Amaral Gomes, foi convidado especialmente do programa Palavra Aberta , da TV Assembleia do Piauí, para discutir o tema "Literatura negra como forma de resistência e afirmação de identidade", com apresentação de Thiago Moraes.

 

Desde os 16 anos, Semog explora os caminhos da poesia, encontrando na palavra uma forma de resistir e registrando as vivências de seu povo. Filho de um pai analfabeto e de uma mãe semianalfabeta, o poeta credita à escola pública o início de sua paixão pela literatura, destacando o impacto transformador dos livros em sua juventude. Para ele, qualquer livro é uma passagem para outro mundo, e que na precariedade da sua família, os livros foram "fantásticos".

 

Para Semog, a literatura não pode ser um exercício diletante ou desconectado da realidade. Sua escrita é profundamente influenciada pela ancestralidade africana e pelo cotidiano do povo brasileiro. “A literatura tem o papel de formar, influenciar e registrar um ponto de vista que nem sempre é contemplado pela tradição clássica”, explicou.

 

Semog se define como um "artivista", alguém que utiliza a arte para transformação social. Seus poemas traduzem as dores e as esperanças de uma sociedade marcada pelo racismo e pelas desigualdades. Em sua obra mais recente, Todo Preto , o autor reúne poesias escritas entre 1977 e 2020, compondo um mosaico de resistências, alegrias e tragédias.

 

"Esse livro é uma busca por um futuro bom, refletindo os desafios e as superações do povo brasileiro. É uma literatura que se conecta diretamente com o cotidiano de jovens e professores, tornando-se uma ferramenta poderosa de transformação", destacou.

 

Semog considera que a literatura tem um papel crucial no enfrentamento ao racismo. Para ele, a solidão imposta pela violência do racismo pode ser combatida com palavras. Reagir, se expressar e transformar a dor em poesia é uma forma de se contrapor a essa violência - acredita.

 

Sua militância literária começou ainda na década de 1970, quando integrou grupos como Garra Suburbana , que unia jovens artistas em torno de causas sociais, e o Bate-Boca de Poesia , que apoiava a luta pela anistia no Brasil. Já nos anos 1980, participou da fundação do jornal Maioria Falante, que deu voz aos movimentos sociais e às lutas identitárias de grupos marginalizados.

 

Hoje, Semog se dedica a levar a literatura para escolas e jovens, acreditando no poder da arte de sensibilizar e abrir caminhos. Sua obra, marcada por um vínculo profundo com a ancestralidade e uma visão crítica do presente, inspira novos escritores e reforça a importância da arte como instrumento de transformação social.

 

Veja a entrevista na íntegra



Fonte: TV Assembleia