Educação de Surdos e Libras: datas celebram conquistas e alertam para desafios

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 23/04/2025 10h35, última modificação 23/04/2025 10h35
O professor de Libras Wesley Veloso é o entrevistado do Bom Dia Assembleia sobre o tema

Nos dias 23 e 24 de abril, o Brasil celebra duas datas fundamentais para a comunidade surda: o Dia Nacional da Educação de Surdos e o Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais (Libras), respectivamente. As datas têm como objetivo sensibilizar a sociedade para os desafios enfrentados pelas pessoas surdas e, ao mesmo tempo, celebrar as conquistas de uma luta histórica por inclusão, acessibilidade e respeito à identidade linguística.

 

Em entrevista ao programa Bom Dia Assembleia, apresentado pela jornalista Juliana Arêa Leão, o professor de Libras Wesley Veloso destacou a importância desses marcos e fez um alerta: apesar dos avanços legislativos, como a Lei nº 10.436/2002, que reconhece a Libras como meio legal de comunicação no país, os desafios para a plena inclusão ainda são muitos — especialmente na educação.

 

"O nosso principal desafio hoje é a capacitação de profissionais bilíngues. Não adianta ter apenas intérpretes se não temos professores e outros profissionais capacitados para tornar acessíveis os conteúdos e espaços escolares para crianças surdas", afirmou o professor.

 

Inclusão começa pela base


A inclusão de crianças surdas nas escolas públicas e privadas ainda é marcada por dificuldades estruturais e falta de preparo. Segundo Veloso, não basta apenas garantir a matrícula dessas crianças: é preciso garantir um ambiente acessível, com professores bilíngues, materiais didáticos adaptados e um compromisso coletivo da comunidade escolar.

 

"Muitas vezes, a criança só consegue frequentar a escola após solicitação direta da família por um profissional capacitado. Isso revela que a inclusão ainda não é uma política naturalizada, e sim algo que precisa ser exigido caso a caso", destacou.

 

Além disso, o professor chama atenção para o fato de que em Teresina, capital do Piauí, ainda não há escolas bilíngues para surdos — a única unidade com essa proposta fica em Parnaíba, no litoral do estado.

 

Libras nas universidades e na sociedade


Apesar das dificuldades, há avanços significativos. O professor Wesley Veloso ressaltou que hoje o Piauí conta com quatro polos de formação em educação bilíngue na Universidade Federal do Piauí (UFPI), voltados à formação de professores e profissionais surdos. Também existem cursos gratuitos voltados à comunidade em geral, o que amplia o acesso à Libras e fortalece a comunicação entre ouvintes e surdos.

 

"Quanto mais pessoas tiverem acesso à Libras, mais conseguiremos vencer as barreiras de comunicação. Esse é um ganho fundamental para a inclusão", completou.

 

Libras é brasileira — e cada país tem a sua


Um ponto importante levantado na entrevista é que Libras é exclusiva do Brasil, assim como cada país possui sua própria língua de sinais. Portanto, uma pessoa surda brasileira que viaja para o exterior precisará aprender a língua de sinais local para se comunicar — como a ASL (American Sign Language), nos EUA.

 

Apesar disso, segundo o professor, as línguas de sinais têm elementos visuais e expressivos comuns, o que facilita a comunicação entre surdos de diferentes nacionalidades, ainda que falem “idiomas” distintos.

 

Datas para celebrar — e continuar lutando

Para Wesley Veloso, os dias 23 e 24 de abril são mais do que datas comemorativas: são marcos de resistência e celebração para uma comunidade que reúne mais de 10 milhões de pessoas no Brasil e ainda enfrenta desafios diários em busca de inclusão.

 

"Essas datas nos lembram das conquistas que tivemos, mas também das barreiras que ainda precisam ser superadas: linguísticas, comunicacionais e de acessibilidade. É um momento de luta e de festa, por tudo o que já foi alcançado e por tudo o que ainda podemos conquistar", argumenta o professor.

 

Confira a entrevista na íntegra



Fonte: TV Assembleia