Dormir pouco aumenta risco para doenças crônicas na velhice
Correio Brasiliense - Noites maldormidas podem resultar não só em cansaço e improdutividade no dia seguinte. Segundo uma pesquisa publicada ontem na revista científica Plos Medicine, adultos acima de 50 anos que dormem cinco horas ou menos têm maior risco de desenvolver mais de uma doença crônica. Comparadas a pessoas da mesma idade que usufruem de uma rotina de sete horas de descanso, as chances de multimorbidades podem ser até 40% maiores.
Liderado por pesquisadores da University College London, o estudo observacional analisou dados de mais de 7 mil homens e mulheres moradores de Londres, com idades entre 50 a 70 anos. Eles foram acompanhados por meio de um questionário de saúde regular e registros eletrônicos médicos entre 1985 e 2019.
Os pesquisadores investigaram a relação entre quanto tempo cada participante dormia, a taxa de mortalidade e se a pessoa havia sido ou não diagnosticada com duas ou mais doenças crônicas, condição chamada de multimorbidade. "O objetivo foi examinar se a duração do sono está relacionada à multimorbidade, e se essa associação é semelhante, dependendo da idade, na medição do sono", afirma Séverine Sabia, principal autora do estudo.
Os resultados mostraram que a parcela da população na faixa de 50 anos que relatou dormir cinco horas ou menos por noite tinha chance 20% maior de desenvolver uma doença crônica quando saudável e 30% de ser diagnosticada com duas ou mais enfermidades, quando já possuía uma. Os dados desses adultos foram comparados aos de outros da mesma idade que descansavam até sete horas no período noturno, ao longo dos anos observados.
Mortalidade
O sono mais curto representou risco 32% maior de multimorbidade naqueles com 60 anos, e chegou a predizer 40% de chance de isso acontecer com os participantes acima dos 70. O repouso de cinco horas ou menos aos 50 anos também foi ligado a uma probabilidade 25% maior de mortalidade, o que pode ser explicado justamente pela associação com o desenvolvimento de doenças crônicas que aumentam o perigo de morte.
De acordo com Marcelo Lobo, neurologista do Hospital Santa Lúcia de Brasília, a Academia Americana de Medicina do Sono recomenda que a duração ideal de repouso para pessoas entre 18 e 64 anos seja de, no mínimo, sete horas por noite. A população acima dos 65 pode dormir seis horas, mas ainda considera-se ideal o descanso noturno com uma hora a mais.
O médico, especialista em sono, ainda explica as consequências em longo e curto prazos. "A pessoa que tem privação de sono por uma noite, chamada de aguda, pode sofrer com falta de concentração, lentificação do raciocínio, irritabilidade e sonolência durante o dia. No caso do indivíduo que tem privação crônica, essa condição pode implicar alterações de pressão arterial, aumento do apetite, dificuldade maior de controle de hipertensão, enfraquecimento do sistema imunológico, favorecendo infecções, e lentidão de raciocínio e memória."
Como parte do estudo, os pesquisadores também avaliaram se dormir muito, por nove horas ou mais, afeta os resultados de saúde. Segundo eles, aos 50 anos, não houve associação direta entre o hábito e a multimorbidade em pessoas saudáveis. Porém, se um participante já havia sido diagnosticado com uma condição crônica, o repouso mais prolongado teve relação com um risco 35% maior de desenvolver outra enfermidade.
Segundo os pesquisadores, isso pode acontecer devido a condições de saúde subjacentes que afetam o sono, oriundas da própria enfermidade presente. "Encontramos maior associação de taxas de multimorbidades quando o sono foi medido aos 60 e 70 anos, e quando foi feito esse controle após o início de uma primeira doença crônica", resume a autora.
Limitações
Os pesquisadores admitem que o estudo tem certas limitações. Por ser observacional, a pesquisa traça uma associação estatística, mas não pode apontar uma relação de causa e efeito. Além disso, foram utilizados dados autorrelatados — ou seja, sem monitoramento preciso, apesar de que cerca de 4 mil dos participantes tiveram o repouso noturno mensurado por meio de um dispositivo eletrônico.
Outro ponto é que o trabalho envolve apenas um grupo específico de pessoas que trabalhavam no serviço público de Londres, provavelmente mais saudáveis do que a população em geral desse e de outros países. Para Séverine Sabia, "a principal barreira que encontramos é que não havia muitos 'dorminhocos' para permitir conclusões mais precisas. Isso porque o estudo é composto por uma pequena proporção de pessoas não caucasianas, não permitindo generalização das descobertas para outros grupos étnicos".
*Estagiária sob a supervisão de Carmen Souza
Para dormir bem
* Estabeleça horários para adormecer e acordar todos os dias, incluindo os fins de semana;
* Mantenha uma rotina nos dias de semana. Seguir as mesmas etapas todas as noites, como colocar o pijama e escovar os dentes, reforça para a mente que é hora do repouso;
* Evite os cochilos diurnos. A exceção só é válida em dias que você estiver precisando muito repor as energias. Porém, evite uma duração superior a 30 minutos;
* É importante ter colchão, travesseiros e roupas de cama confortáveis, pouca ou nenhuma iluminação, desligar os aparelhos que possam causar ruídos e ajustar a temperatura de forma agradável;
* Antes de se deitar, procure antecipar e impedir situações que possam atrapalhar seu descanso. Converse com quem mora com você para diminuir os ruídos após certo horário;
* O jantar não deve ser muito próximo da hora de se deitar. Dê preferência aos alimentos mais leves, evitando cafeína;
* Invista em hábitos saudáveis: não fume, reduza o álcool, tome sol pela manhã e faça exercícios;
* Desligue-se do mundo digital de 30 a 60 minutos antes de dormir. Se precisar utilizar os aparelhos à noite, ajuste as configurações que reduzem ou filtram a luz das telas;
* Reserve a cama somente para o seu descanso e, claro, para as relações íntimas.
Fonte: Instituto do Sono
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Fonte: Correio Brasiliense
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