Dormir bem diminui riscos de ataque cardíaco e AVC

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 13/09/2022 13h05, última modificação 13/09/2022 12h50
Estudo mostra que pessoas com boas pontuações dormiram entre 7 e 8 horas por noite e não apresentavam insônia, apneia ou outros distúrbios relacionados ao sono

Nove a cada 10 pessoas afirmam que não têm noites tranquilas de sono, segundo dados revelados no congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia, em 2022. Isso é preocupante, segundo especialistas, porque dormir bem pode diminuir os riscos de ataques cardíacos e de acidentes vasculares cerebrais (AVCs), de acordo com um novo estudo.

 

Participaram da pesquisa 7.200 homens e mulheres com idades entre 50 e 72 anos e que não tinham doenças cardiovasculares. Eles precisaram passar por exames físicos e responder a um questionário completo sobre estilo de vida, históricos médicos pessoais e familiares e condições médicas preexistentes. Os pesquisadores verificaram ainda a incidência de doença cardíaca e acidente vascular cerebral a cada dois anos por um total de 10 anos nos pacientes.



A partir disso, os pesquisadores conseguiram traçar cinco hábitos de sono e identificar quais pacientes tinham boas noites de sono. Cada hábito foi considerado como um fator e recebeu a pontuação 1 se era ótimo, e 0 se fosse ruim. Ao final, os pesquisadores calcularam um escore de sono saudável que variava de 0 a 5 — 5 sendo ótimo e 0 ou 1 sendo ruim.

 

Quem teve boas pontuações nos dados coletados dormiu, em média, de 7 a 8 horas por noite e não apresentava insônia, apneia ou outros distúrbios relacionados ao sono. Do total, 10% dos participantes tiveram uma pontuação ótima de sono, enquanto 8% tiveram uma pontuação ruim. Outro dado observado foi que 274 pessoas desenvolveram uma doença cardíaca coronária ou acidente vascular cerebral (AVC) no período do estudo.

 

HÁBITOS DE SONO Para cada aumento de 1 ponto nos hábitos de sono, os riscos de doença cardíaca coronária e acidente vascular cerebral diminuíram 22%. Em comparação, aqueles que tinham pontuação 5 nos hábitos de sono tiveram um risco 75% menor de doença cardíaca ou AVC. Além disso, ao longo de dois acompanhamentos médicos dos pacientes, 48% dos participantes mudaram a pontuação de sono; 25% diminuíram e em 23% melhoraram.



Segundo os pesquisadores, os dados são ainda mais surpreendentes quando observados na proporção de eventos cardiovasculares que poderiam ser evitados. Se todos os participantes tivessem uma pontuação ideal de sono, 72% dos novos casos de doenças cardíacas e acidente vascular cerebral poderiam ser evitados a cada ano.



"Dado que a doença cardiovascular é a principal causa de morte em todo o mundo, é necessária uma maior conscientização sobre a importância de um bom sono para manter um coração saudável", destaca Aboubakari Nambiema, que assina o texto da pesquisa.

 

Os hormônios da vida adulta



Segundo a otorrinolaringologista Melânia Marques, o sono das mulheres pode sofrer alterações ao longo do tempo, tanto com o envelhecimento como em circunstâncias específicas. “As mudanças nos níveis hormonais associadas ao ciclo menstrual, gravidez, menopausa e pós-menopausa podem afetar a qualidade do sono nas mulheres.”



Durante o período menstrual, explica a especialista em medicina do sono, é comum ter um aumento de despertares noturnos e de sonhos vívidos. “Geralmente, esses eventos se resolvem espontaneamente com o fim do período menstrual, porém em algumas mulheres eles podem continuar”, comenta.



Já entre as grávidas, 66% a 94% delas relatam alguma mudança no sono ao longo da gestação. “No primeiro e no segundo trimestres de gravidez, o aumento no nível do hormônio progesterona pode piorar a qualidade do sono, levando as grávidas a se sentirem mais cansadas durante o dia e com maior necessidade de dormir.”



“No terceiro trimestre da gestação, a presença de dores no corpo, câimbras, queimação, idas frequentes ao banheiro durante a noite, ficar desconfortável em algumas posições e os próprios movimentos do bebê podem refletir diretamente em sono de má qualidade.”

 

CHEGADA DO BEBÊ E os desafios relativos ao sono não param por aí, “especialmente após a chegada do bebê e as demandas de amamentação e cuidados. Os estudos sugerem que mulheres com problemas significativos de sono como insônia ou má qualidade de sono estão mais propensas a desenvolver depressão pós-parto”, alerta a médica.

 

Seguindo a linha do tempo, chegamos na menopausa. “Nessa fase, ocorre uma redução do sono profundo e alterações nos níveis de estrógeno – levando a ondas de calor, sudorese e palpitações que interrompem o sono.”



Segundo Melânia Marques, isso resulta em cansaço, alterações do humor e até depressão, que pode acometer 20% das mulheres durante esse período. “Finalmente, na pós-menopausa, a falta da progesterona aumenta o risco de desenvolver apneia obstrutiva do sono, cujos sintomas incluem roncos, engasgos e pausas respiratórias durante o sono, sonolência e cansaço diurnos.”



Em todas essas situações, ela recomenda uma avaliação com um médico do sono, com diagnóstico e acompanhamento de possíveis distúrbios, o que pode trazer de volta noites de sono tranquilas.

 

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Fonte: Estado de Minas

Imagem:  GpointStudio/Freepik

Edição: Site TV Assembleia