Doenças eliminadas podem voltar a assombrar o Brasil

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 22/12/2022 08h20, última modificação 21/12/2022 21h28
Diminuição da sensação de medo da doença e disseminação de informações falsas estão entre os motivos

O Brasil pode voltar a registrar doenças que foram consideradas eliminadas no passado devido às baixas coberturas vacinais nos últimos cinco anos.

 

O país chegou a receber o selo de erradicação da poliomielite no início da década de 1990, tornando-se um país exemplo para o mundo.

 

Assim como a poliomielite, o sarampo era uma doença considerada eliminada no país pela Organização Mundial da Saúde, a OMS, em 2015. Porém, os surtos recentes de sarampo que ocorreram no Brasil de 2017 para cá fizeram com que o país perdesse esse selo.

 

Os índices de cobertura recomendados pelas autoridades de saúde são de 95% das crianças vacinadas de até 5 anos.

 

imunização contra a polio teve 100% de cobertura pela última vez em 2013. Desde 2016, ficou abaixo dos 90%, chegando a 76,1% em 2020 e a 69,9% em 2021.

 

A tríplice viral D1, que previne contra o sarampo, caxumba e rubéola, também vem registrando constante diminuição, saindo da total cobertura em 2014 para 79,7% em 2020.

 

Dificuldade de acesso aos locais de vacinação, desconhecimento da importância da vacinação e a disseminação de informações falsas sobre vacinas estão entre alguns dos motivos que têm contribuído para a queda na imunização.

 

"A fake news é uma doença digitalmente transmissível e faz mais vítimas que o próprio vírus", afirma Renato Kfouri, infectologista e presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, a SBP.

 

Isabella Ballalai, pediatra e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, também aponta a diminuição da sensação de medo da doença. "Precisamos falar sobre os riscos, já que esses pais de crianças pequenas, graças à vacinação, nunca viram muitas dessas doenças", destaca.

 

Motivos para a baixa vacinação

 

Uma pesquisa encomendada pelo Ministério da Saúde aponta o receio e a desinformação como causas para a queda da cobertura vacinal: 18% das famílias entrevistadas afirmam ter medo de reações ao imunizante e 14% dizem que vacinas para doenças que não existem mais são desnecessárias.  

 

“Podemos pensar que o próprio sucesso das políticas de vacinação no Brasil, considerado um modelo no passado, seja paradoxalmente responsável pela redução do estado de alerta das pessoas em relação a algumas doenças. Como convencer pessoas a se vacinarem contra uma doença de que nunca ouviram falar?”, ressalta o médico e gestor em uma operadora de saúde Gustavo Landsberg.

 

Gustavo Landsberg afirma que a queda da cobertura vacinal no Brasil se agravou durante a pandemia, mas é um fenômeno observado desde 2015.

 

“Fomos de 95%, em 2015, para 59%, em 2021. Temos atualmente, taxas semelhantes àquelas observadas na década de 80. É um retrocesso evidente que traz o risco real de observarmos o ressurgimento de diversas doenças graves, que já haviam sido declaradas eliminadas ou controladas no país.”

 

Segundo a infectologista Lessandra Michelin, a pandemia da Covid-19 acendeu o alerta da população sobre a importância das vacinas. “Mas como nós não vemos tantas doenças imunopreveníveis com frequência, muitas vezes não nos lembramos da importância da prevenção. Então, é muito importante que nós tenhamos a carteira de vacinação em dia”, ressalta.

 

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Fonte: Folha de São Paulo/Brasil 61

Imagem: Freepik

Edição: Site TV Assembleia