Diplomados que trabalham por conta própria são recorde
Graduada em processos gerenciais, Kellen Apuque, 32, é um exemplo desse segundo grupo. Ela resolveu apostar todas as fichas no trabalho por conta própria durante a pandemia. A moradora de Belo Horizonte (MG) é MEI (microempreendedora individual) —ou seja, tem CNPJ.
Em 2020, Kellen decidiu que havia chegado o momento de concentrar seus esforços em uma consultoria para empresas sobre diversidade na área de recrutamento e seleção. Antes da crise sanitária, Kellen tinha emprego com carteira assinada, embora já prestasse serviços de forma autônoma.
Segundo ela, a preocupação das empresas com diversidade cresceu durante a pandemia, o que fez a profissional se dedicar ao seu próprio negócio. Kellen presta serviços a companhias de maneira online.
"Não foi por falta de oportunidade que decidi trabalhar por conta própria. Há necessidade de uma área de recursos humanos mais humanizada nas empresas. Minha proposta é trabalhar pela inclusão e pela diversidade no mercado", conta.
O pesquisador Bruno Ottoni, da consultoria IDados, avalia que, após o tombo gerado pela pandemia, a atividade econômica teve uma reação insuficiente para absorver, em empregos de qualidade, toda a mão de obra à procura de oportunidades no Brasil.
Assim, o trabalho por conta própria tende a ser mais buscado, com ou sem CNPJ, e inclusive por profissionais com mais estudo, indica Ottoni.
"Empregos com carteira assinada têm custos para o empregador. Em um cenário de incerteza elevada na economia, como é o caso atual, o empregador costuma ficar desestimulado a contratar com carteira", afirma.
Conforme o pesquisador, a chamada pejotização também pode ter acelerado na pandemia o trabalho por conta própria —nesse caso, com CNPJ. O fenômeno tende a diminuir os custos sobre as empresas na hora de contratar os serviços de um profissional com registro formal.
"O elevado grau de incerteza na pandemia pode ter acelerado o processo de pejotização", diz Ottoni.
O economista Fábio Pesavento, professor da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) em Porto Alegre, concorda. "Os custos para as empresas ficam menores", aponta.
Na visão Pesavento, ter um CNPJ também facilita a vida dos profissionais que desejam empreender. Em boa medida, esse pode ser o caso dos MEIs.
Por outro lado, o trabalho autônomo sem CNPJ está mais associado aos populares bicos, sinaliza o professor. Ou seja, a atividades que são realizadas por profissionais que não encontram outras oportunidades no mercado e que precisam de alguma fonte de renda com urgência. "A pessoa tem de sobreviver, pagar as contas. A pandemia inflou isso", diz Pesavento.
TRABALHO SEM CHEFE DEVE SEGUIR CRESCENDO EM 2022
Conforme economistas, o trabalho por conta própria tende a seguir em níveis elevados em 2022. A projeção está relacionada com a perspectiva de baixo desempenho econômico neste ano.
O cenário de incertezas eleitorais, inflação persistente e juros mais altos, previsto para os próximos meses, dificulta a absorção de toda a mão de obra sem emprego. No trimestre encerrado em novembro de 2021, período mais recente com dados disponíveis, o Brasil tinha 12,4 milhões de desempregados.
"A projeção é de o mercado de trabalho andar de lado neste ano. Com isso, o trabalho por conta própria tende a continuar expressivo", analisa Ottoni.