Cuidados com os olhos previnem a úlcera de córnea em pets

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 02/08/2022 08h15, última modificação 01/08/2022 19h07
A úlcera de córnea é uma doença comum em animais de estimação e se não for tratada de forma correta, pode levar à perda do globo ocular

A úlcera de córnea, também chamada de ceratite ulcerativa, é uma doença ocular de grande incidência nos consultórios veterinários que atendem animais de pequeno porte. Ela é causada por uma lesão, seguida de inflamação, da camada mais externa dos olhos, a córnea.


Com função refrativa importante, a córnea é uma barreira protetora entre o olho e o meio ambiente, sendo muita exposta nos animais, principalmente nos mais agitados, explica a médica veterinária, Hanna Silva. Quando ferida, causa dor intensa e muitas vezes insuportável para os pets.

 

Como na catarata, a proptose do globo ocular e a blefarite (inflamação das pálpebras), a úlcera é uma das afecções oftálmicas que mais atinge os cães e gatos domésticos.

 

Normalmente causadas por trauma, como brigas, coceira, quedas ou até mesmo arranhões provocados por galhos e vegetação, pode atingir qualquer animal. Entretanto, existem fatores que tornam algumas espécies mais suscetíveis a essa inflamação.

 

A raça, o porte e o sexo, não influenciam tanto nesse caso. A predisposição a infecções oftalmológicas está mais relacionada com as características anatômicas do animal.

 

Pacientes braquicefálicos, como shih-tzus, bulldogs, lhasa-apsos e persas, têm o focinho mais achatado e olhos protuberantes, logo ficam mais propensos à condição por terem os olhos mais expostos. Animais com muita pele, como sharpei e chow chow, também têm maior predisposição à doença. "A pele em excesso contribui para que a pálpebra dobre para dentro do olho, provocando maior irritação", explica a médica veterinária.

 

Além disso, os olhos secos, devido a baixa produção de lágrimas, têm a lubrificação natural reduzida se tornando mais sensíveis e favoráveis à condição, acrescenta a médica veterinária Sarah Borges.

 

O grau do ferimento determina se a úlcera vai ser considerada superficial ou profunda. Os sintomas costumam ser os mesmos nos dois casos, produção excessiva de lágrimas (epífora), lacrimejamento frequente, olhos mais fechados, coceiras regulares, sinais de inflamação (rubor, dor, calor, edema, perda de função), sensibilidade à luz, diminuição do tamanho da pupila (miose), opacidade da córnea, vermelhidão pela dilatação dos vasos (eritema) e deslocamento da membrana nictitante.

 

Em casos mais duradouros e com infecção secundária, também é possível notar secreção com pus, alertam as médicas.

 

As superficiais, porém, costumam ser menos perigosas, com rápida cicatrização e menor incômodo aos animais. Já as profundas, por terem as camadas abaixo da córnea atingidas, apresentam os sintomas mais intensos e, normalmente, a intervenção cirúrgica se torna necessária.

 

"É importante destacar, porém, que uma lesão superficial pode evoluir para profunda caso o animal coce frequentemente a região ou ocorra uma infecção secundária simultaneamente", explica Hanna.

 

A classificação da profundidade é extremamente essencial durante o estágio de diagnóstico visto que a escolha do tratamento está diretamente relacionada com o grau de lesão. 

 

Esse é feito por meio da avaliação clínica do animal. Dependendo da profundidade da úlcera é possível visualizar logo no consultório, a olho nu. Porém, em todos os casos é necessário realizar o exame oftalmológico completo, juntamente com teste com fluoresceína para a confirmação da doença.

 

Sarah esclarece que nas úlceras superficiais, a limpeza do local associada ao tratamento com colírio antibiótico e lubrificante costuma ser suficiente e satisfatória. Os cães continuam enxergando e, na maioria das vezes, não surge cicatriz no tecido corneano. 

 

Já nas úlceras profundas, ou em casos que a terapia clínica não surtiu o efeito esperado, existe uma vasta gama de opções de procedimentos, como a flap de terceira pálpebra para proteção córnea e auxílio da cicatrização, a tarsorrafia e outras cirurgias mais específicas como os enxertos de córnea.

 

"Independentemente de qual o protocolo terapêutico escolhido é indispensável a utilização do colar elisabetano em todos os pacientes diagnosticados com ceratite ulcerativa", acrescenta Hanna

 

O colar impede que o animal retire os medicamentos ou encoste na região acometida na tentativa de aliviar o incômodo."Em caso de não utilização do colar, o animal está sujeito a contaminar a córnea, agravar a lesão e até mesmo causar uma ruptura da camada mais externa do olho".

Outra dica interessante é manter o controle de pulgas, carrapatos e tratar adequadamente as doenças de pele que provocam coceiras, como alergias alimentares e atopias.

 

Olhar atento

 

Tutora do cãozinho Chico, Janaína Cunha, 27 anos, conta que após tratar uma lesão ocular, o animal começou a apresentar coceira excessiva nos dois olhos. Em pouco tempo, ela percebeu novos sinais de inflamação. 

 

Preocupada com a possibilidade de uma nova lesão, levou Chico ao veterinário e descobriu que o pet havia desenvolvido úlcera córnea nos dois olhos. Por sorte e pelo cuidado atento de Janaína que o levou rápido para avaliação, a infecção não chegou a evoluir para o próximo grau e a visão não foi prejudicada. 

 

Por normalmente se tratar de um acidente, não existem muitas formas de prevenção. Muitas doenças e fatores externos, porém, podem gerar desconforto, fazendo com que o animal coce a região ocular, então é fundamental levá-lo ao veterinário assim que aparecer qualquer alteração perceptível nos olhos, para diminuir ao máximo as chances do animal desenvolver a úlcera.

 

A doença apresenta altas taxas de recuperação quando os tutores seguem adequadamente o tratamento, caso contrário pode evoluir para quadros mais graves resultando em perda visual e até mesmo do globo ocular.

 

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Fonte: Correio Brasiliense

Imagem: Arquivo pessoal

Edição: Site TV Assembleia