Clínicas de diálise mantêm medidas da pandemia após vacinação

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 15/09/2022 08h10, última modificação 14/09/2022 19h31
Protocolos são necessários para proteção de pacientes com sistema imunológico comprometido

Mesmo com o alto índice de vacinação, clínicas de hemodiálise decidiram manter, em suas rotinas, protocolos adotados com a chegada da Covid. A intenção é proteger pacientes que, além de fazer terapia de substituição renal, podem ter alterações em outros sistemas do corpo.

 

Pessoas que precisam realizar diálise geralmente têm comorbidades que afetam o sistema imunológico, como hipertensão e diabetes. O tratamento é indicado quando há perda da função renal —quando o rim funciona com menos de 15% da sua capacidade.

 

Bruno Haddad, especializado em gestão de saúde pela Harvard Business School e presidente da rede DaVita Tratamento Renal, explica que os impactos das doenças renais não se restringem à função de filtragem do rim.

 

"Os problemas de saúde dos pacientes têm impacto no sistema endócrino, na produção de sangue, na capacidade de manutenção da massa muscular, na composição óssea e até na regulação térmica."

 

Essas questões se somam ao comprometimento do sistema imune —debilitado em pacientes renais devido ao acúmulo de toxinas no organismo—, aumentando a possibilidade de infecções virais e bacterianas. Apesar dos riscos maiores, Américo Cuvello, coordenador do Centro de Nefrologia e Diálise do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, esclarece que as orientações são as mesmas de toda a população.

 

"Os cuidados dos pacientes imunodeprimidos são semelhantes àqueles impostos à população geral na pandemia. Eles devem evitar aglomerações, usar máscaras em lugares fechados, lavar frequentemente as mãos ou higienizá-las com álcool em gel e evitar contato com indivíduos sabidamente doentes", diz Cuvello.


As medidas adotadas nas clínicas continuam: uso de equipamento de proteção individual completo por parte dos funcionários; uso de máscaras pelos pacientes durante todo o processo, que pode durar até quatro horas; acompanhantes só em casos de extrema necessidade e sem refeições durante a hemodiálise.

 

"As clínicas se adaptaram para continuar os tratamentos adotando essas medidas", diz Washington Eduardo, paciente em hemodiálise há sete anos e tesoureiro da Associação dos Pacientes Renais de Balneário Camboriú (SC). "Para os casos positivos de Covid foram criadas salas específicas e áreas de isolamento. Outras doenças infectocontagiosas mantêm os protocolos de isolamento", completa.

 

Antes da vacinação, existia o risco de interrupção dos tratamentos devido ao afastamento de profissionais infectados, mas essa ameaça é menor agora. A média de infecções de coronavírus continuam em queda e os casos reportados têm menor gravidade. No entanto, especialistas da área seguem alertando para os riscos de infecções nos indivíduos mais vulneráveis.

 

A baixa imunidade celular vem acompanhada, nos pacientes renais crônicos, pela redução da imunidade humoral, responsável pela produção de anticorpos. Segundo o nefrologista Cuvello, essa situação prejudica a resposta às vacinas, tornando esse grupo mais vulnerável a qualquer infecção.

 

Somados à presente circulação do vírus, esses fatores fazem com que as recomendações para prevenção do contágio continuem mesmo que as vacinas tenham sido tomadas por esses pacientes.

 

O aumento dos casos de varíola dos macacos acendeu um outro alerta para o setor, mas sem a mesma preocupação. A transmissibilidade da doença é menor comparada com a Covid, pois requer contato prolongado com sintomáticos. Espera-se que a higienização imposta pela pandemia seja suficiente para evitar o contágio na hemodiálise.

 

O presidente da SBN (Sociedade Brasileira de Nefrologia), Osvaldo Vieira Neto, diz que não tem visto muita movimentação na nefrologia. "Transmite muito pouco a varíola dos macacos, diante do atual cenário é [uma questão] bem secundária".

 

O quadro citado pelo médico envolve a sustentabilidade financeira da hemodiálise no país. Os serviços são, em sua maioria, feitos por empresas privadas em parceria com o SUS. Mas, segundo essas companhias, os repasses financeiros não são suficientes para cobrir a operação.

 

Clínicas alegam que o novo piso salarial da enfermagem, em julgamento pelo STF (Supremo Tribunal Federal) até sexta-feira (16), pode agravar a crise do setor —já que o aumento salarial elevará os custos.

 

........................................

 

Fonte: Folha de São Paulo

Imagem: Divulgação

Edição: Site TV Assembleia