Censo 2022: mais da metade da população indígena vive nas cidades; veja números do Piauí

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 19/12/2024 13h15, última modificação 19/12/2024 12h17
A idade mediana da população indígena urbana fora de terras indígenas é de 32 anos

A população indígena residindo em áreas urbanas em 2022 chegou a 914.746 pessoas, ou 53,97% do total de indígenas no país. Em 2010, esta população era de 324.834 pessoas, ou 36,22% do total de indígenas. De 2010 para 2022, a população indígena em áreas urbanas aumentou 181,6%, ou mais 589.912 pessoas frente a 2010. Já a população indígena em situação rural chegou a 780 090 pessoas, ou 46,03% das pessoas indígena do país, crescendo 36,36% desde 2010, o equivalente a mais 208.007 pessoas indígenas.

 

Para Marta Antunes, coordenadora do Censo de Povos e Comunidades Tradicionais do IIBGE, “as variações da população indígena de 2010 para 2022 não se devem exclusivamente a componentes demográficas ou a deslocamentos populacionais entre áreas urbanas e rurais, mas também aos aprimoramentos metodológicos do Censo 2022, que permitiram uma melhor captação da população indígena, inclusive em áreas urbanas”.

 

 

As informações são do Censo Demográfico 2022: Indígenas - Principais características das pessoas e dos domicílios, por situação urbana e rural: Resultados do Universo, divulgado hoje (19) pelo IBGE.

 

O evento de divulgação acontece a partir das 10h na Casa Brasil-IBGE, no Centro do Rio de Janeiro. Haverá transmissão ao vivo pelo IBGE Digital. Os dados poderão ser acessados no portal do IBGE e em plataformas como o SIDRA, o Panorama do Censo e a Plataforma Geográfica Interativa (PGI), sendo que nesses dois últimos poderão ser visualizados, também, por meio de mapas interativos.

 

A divulgação será feita em conjunto com a do Censo Demográfico 2022: Localidades Indígenas. Leia também a notícia sobre localidades indígenas.

 

As divulgações anteriores do Censo 2022 já mostraram que a população do país chegou a 203.080.756 habitantes. A população urbana era de 177.508.417 habitantes (ou 87,41% do total), enquanto 25.572.339 pessoas (ou 12,59% do total) residiam em áreas rurais.

 

Já a população indígena do Brasil era de 1 694 836 pessoas em 2022, correspondendo a 0,83% da população total do país. Em 2010, esta população era de 896 917 pessoas indígenas, ou 0,47% da população do país. Entre 2010 e 2022, a população indígena no país aumentou 88,96%.

 

GO, RJ e DF tinham os maiores percentuais de indígenas em áreas urbanas em 2022


Os maiores percentuais de indígenas residindo em áreas urbanas em 2022 foram observados em Goiás (95,52%), Rio de Janeiro (94,59%) e Distrito Federal (91,84%). Por outro lado, os estados com as maiores proporções de pessoas indígenas residindo em áreas rurais em 2022 foram Mato Grosso (82,66%), Maranhão (79,54%) e Tocantins (79,05%).

 

Dos 5.570 municípios do país, 4.833 têm população indígena. No Amazonas, 59 (95,16%) dos 62 municípios que abrigam 28,44% da população indígena do país tiveram perda percentual de população indígena em áreas rurais. Cenário semelhante de perdas de população indígena em áreas rurais ocorreu em Roraima (11 dos 15 municípios) e no Acre (15 dos 22 municípios).

 

Idade mediana dos indígenas varia de 18 anos em áreas rurais a 32 anos em áreas urbanas


A idade mediana divide uma população em duas partes iguais, separando sua metade mais jovem da metade mais velha. Os indígenas têm idade mediana de 25 anos, menor em 10 anos do que da população do país (35 anos).

 

A idade mediana da população indígena que residia em áreas urbanas e fora de terras indígenas era de 32 anos em 2022. Já os indígenas residindo em áreas rurais e dentro de terras indígenas tinham idade mediana de 18 anos, ou seja, metade desta população tinha até 18 anos de idade.

 

Áreas urbanas fora das terras indígenas têm predominância feminina


A razão de sexo da população indígenas mostra que, dentro de terras indígenas, havia 104,9 homens para cada cem mulheres. Nas terras indígenas em áreas urbanas, havia 101,55 homens para cada cem mulheres. Nas terras indígenas em áreas rurais, havia 105,33 para cada cem mulheres.

 

Além disso, em áreas rurais fora de terras indígenas, havia 106,65 homens para cada cem mulheres. No entanto, em áreas urbanas fora de terras indígenas, havia 89,37 homens para cada cem mulheres.


Analfabetismo na população indígena recuou em todas as áreas, de 2010 para 2022

 

De 2010 para 2020, a taxa de analfabetismo da população indígena recuou de 23,40% para 15,05%. Entre os indígenas residindo em áreas rurais, essa taxa caiu de 32,16% para 20,80%. Para os indígenas em áreas urbanas, essa taxa recuou de 12,29% para 10,86%.

 

Dentro das terras indígenas, a taxa de analfabetismo recuou de 32,30% para 20,80%, de 2010 para 2022. No mesmo período, a taxa de analfabetismo da média da população do país recuou de 9,62% para 7,00%.

 

Proporção de crianças indígenas registradas supera os 90%, mas é inferior à média do país


No Censo 2022, a existência de registros de nascimentos foi pesquisada para todas as pessoas até 5 anos de idade. Na população do país nessa faixa de idade, 99,32% foram registradas em cartório ou possuíam Registro Administrativo de Nascimento Indígena (RANI).

 

As crianças indígenas com até cinco anos de idade que residem fora das terras indígenas e em situação urbana apresentam as maiores proporções de existência de registros de nascimento de cartório ou RANI (97,57%), sendo o registro de nascimento em cartório responsável por 93,33% dos registros de nascimento desse subgrupo indígena. Um patamar de existência de registros de nascimentos mais próximos da população residente, que é de 99,32% em 2022, do que da população indígena como um todo que é de 94,09%.

 

As crianças indígenas com até cinco anos de idade que residem fora das terras indígenas em situação rural apresentam a segunda maior proporção de existência de registros de nascimento de cartório ou RANI com 96,74%, sendo o registro de nascimento em cartório responsável por 93,33% dos registros de nascimento com 91,97% dos registros de nascimento desse subgrupo indígena.


População indígena em áreas urbanas tem menor acesso aos serviços de saneamento


No Brasil, 97,28% da população urbana residia em domicílios conectados à rede geral de abastecimento de água ou a poço, fonte, nascente ou mina canalizada até dentro do domicílio. Entre os indígenas residentes em áreas urbanas e fora das terras indígenas, esse percentual era de 89,92%. Ou seja, 13,33% da população indígena residindo em áreas urbanas e fora de terras indígenas tinha acesso a água em condições de maior precariedade, enquanto para a média da população urbana do país esse percentual era 2,72%.

 

 

Situação similar ocorre em relação ao esgotamento sanitário. Cerca de 83,05% da população urbana do país reside em domicílios conectados à rede geral ou pluvial de esgoto, ou com fossa séptica ou fossa filtro, modalidades que são consideradas adequadas. No entanto, apenas 59,24% da população indígena residindo em áreas urbanas e fora das terras indígenas tinham acesso a esse tipo de saneamento básico em 2022.

 

Além disso, mesmo fora de terras indígenas e residindo em áreas urbanas, a proporção dos moradores indígenas com precariedades na destinação do lixo (5,83%) é quatro vezes superior à da população urbana do país (1,43%).

 

Para Marta Antunes, “os povos tradicionais residindo em territórios remotos, com predominância em áreas rurais não poderiam apresentar os mesmos percentuais de acesso ao saneamento básico que a média da população do país. No entanto, o Censo 2022 mostra que, mesmo residindo em áreas urbanas e fora de seus territórios oficialmente reconhecidos, a população indígena tem menor acesso aos serviços de saneamento básico que o conjunto da população do País”.

 

Média de moradores por domicílio particular permanente entre os indígenas varia de 3,32 a 4,63


Em 2022, o Brasil tinha cerca de 72,5 milhões de domicílios particulares permanentes, com 2,79 moradores por domicílio. A média de moradores dentro de terras indígenas era de 4,59 pessoas. Nos domicílios particulares permanentes dentro de terras indígenas e em situação rural, essa média é um pouco maior: 4,63 pessoas.

 

No entanto, nos domicílios particulares permanentes localizados fora de terras indígenas e em situação urbana, a média de moradores era mais baixa (3,32 pessoas), assim como a média de moradores fora de terras indígenas e em situação rural (3,62 pessoas).

 

Domicílios da população indígena têm maior presença de netos


Na distribuição percentual dos moradores em unidades domésticas com pelo menos um morador indígena, destaca-se a quase ausência das categorias cônjuge ou companheiro(a) do mesmo sexo, pensionista, empregado(a) doméstico(a) e parente do(a) empregado(a) doméstico(a), inclusive em Terras Indígenas. Nas unidades domésticas com pelo menos um morador indígena, a proporção de cônjuges do mesmo sexo era de 0,54%, sendo de 0,12% nas unidades em terras indígenas. Na população total do país, esse percentual era de 0,54% em 2022.

 

Já a presença de neto(a)s está em torno de 7,0%, denotando a existência de uma convivência intergeracional no interior das unidades domésticas com pelo menos uma pessoa indígena. Essa proporção de netos encontra-se 3 pontos percentuais acima da proporção nas unidades domésticas da população do país (4,0%).

 

Importante observar o peso relativo dos(as) filhos(as) do responsável e do cônjuge nas unidades domésticas com presença indígena, que é mais elevado quando o responsável é indígena (26,36%) do que quando é não indígena (21,16%). Essa distância amplia-se dentro das terras indígenas, sendo o peso relativo dos(as) filhos(as) do responsável e do cônjuge de 37,88% quando o responsável é indígena e de 28,34% quando não é indígena. Para fins de comparação, esse peso no total das unidades domésticas é de 19,2%.

 

52% da população indígena no Piauí reside em áreas urbanas


No Censo Demográfico realizado em 2010, o IBGE registrou um total de 2.944 pessoas que se reconheciam como indígena no Piauí, onde 2.357 pessoas indígenas residiam em áreas urbanas, o equivalente a 80,06% do total, enquanto 587 pessoas residiam em áreas rurais, cerca de 19,94%. Contudo, o Censo Demográfico realizado em 2022 registrou um cenário bem diferente do observado em 2010, com um expressivo crescimento de 144,63% no número de pessoas que passaram a se reconhecer como indígena no estado. Assim, em 2022, um total de 7.202 piauienses informaram ser indígenas, onde 3.721 pessoas residiam em áreas urbanas, 51,67% do total, e 3.481 pessoas residiam em áreas rurais, 48,33% do total. Ante esses novos dados obtidos pelo Censo Demográfico, percebe-se que a maior parte das pessoas que passaram a reconhecer-se como indígena no estado em 2022 residia em áreas rurais.

 

Em 2022, quando comparamos a população indígena do Piauí com a população total do estado, quanto à situação do local de domicílio, se urbana ou rural, percebemos que a população indígena tem um perfil bem menos urbano que o total da população. Assim, no estado, 69,44% da população residia em áreas urbanas, enquanto na população indígena essa proporção era de 51,67%, uma diferença de 17,77 pontos percentuais. No tocante à população rural, o estado apresentou uma proporção de 30,56%, enquanto que para a população indígena era de 48,33%.

 

No Brasil, em 2022, a proporção da população total do país que residia em área urbana era de 84,36%, enquanto que entre a população indígena era de 53,97%, uma diferença de 30,39 pontos percentuais. Por sua vez, a proporção da população do país que residia em áreas rurais era de 15,64%, enquanto que entre a população indígena era de 46,03%.

 

Entre as unidades da federação, as maiores proporções da população indígena residindo em áreas urbanas foram as de: Goiás (95,52%), Rio de Janeiro (94,59%) e Distrito Federal (91,84%). As menores proporções foram as de: Mato Grosso (17,34%), Maranhão (20,46%) e Tocantins (20,95%).

 

Taxa de analfabetismo entre indígenas que moram em área rural é 70% maior que a daqueles que moram em área urbana no Piauí

 

O Censo Demográfico 2022 apontou que a taxa de analfabetismo entre a população indígena no Piauí foi de 22,38%, superior à média registrada para o total da população do estado, que foi de 17,23%. Ao analisarmos o analfabetismo da população indígena quanto à situação do local do domicílio, se na área urbana ou rural, percebemos uma diferença substancial nos indicadores. A taxa de analfabetismo para a população indígena piauiense que mora na área urbana foi de 17,03%, enquanto a da população residente na área rural foi de 28,6%, terceiro maior indicador do país, e que revelou-se 70% superior ao indicador registrado para a população indígena urbana.

 

No Brasil, a taxa de analfabetismo entre a população indígena foi de 15,05%, superior à média registrada para o total da população do país, que foi de 7,0%. Da mesma forma que observou-se para o Piauí, a taxa de analfabetismo da população indígena residente em áreas urbanas foi inferior à da população residente em áreas rurais. Assim, nas áreas urbanas verificouse uma taxa de analfabetismo para a população indígena de 10,86% e nas áreas rurais, de 21,14%.

 

Entre as unidades da federação, as maiores taxas de analfabetismo na população indígena nas áreas rurais foram do: Maranhão (31,09%), Rio Grande do Norte (29,02%) e do Piauí (28,6%). As menores taxas ficaram com: Espírito Santo (9,22%), Santa Catarina (10,61%) e Amapá (11,57%).

 

Proporção de pessoas indígenas quanto ao sexo em áreas urbanas e rurais Em 2022, o Censo Demográfico registrou que, no Piauí, os homens eram maioria entre a população indígena residente em áreas rurais, com 51,42% do total da população, enquanto as mulheres indígenas representavam 48,58%. Já na área urbana, as mulheres indígenas eram maioria, com 53,18%, contra 46,82% dos homens. No Brasil observou-se uma situação equivalente, onde os homens indígenas também foram maioria na áreas rurais, com 51,39% da população indígena rural, contra 48,61% das mulheres. Já nas áreas urbanas, as mulheres indígenas igualmente apresentaram indicador maior, com 52,56%, enquanto os homens registraram 47,44%.

 

Acesso a serviços de saneamento para a população indígena em área urbana e rural são equivalentes ao disponibilizado à população total do estado O Censo Demográfico 2022 apontou que o esgotamento sanitário e a coleta de lixo têm indicadores semelhantes, tanto para o total da população do Piauí como para o total da população indígena do estado, seja na área urbana ou na rural.

 

O acesso ideal ao serviço de esgotamento sanitário para a população é através da rede geral/pluvial ou através de fossa séptica/fossa filtro. Para a população total do estado, esse serviço foi disponibilizado a 46,46% dos domicílios, sendo especificamente de 58,12% para os domicílios urbanos e de 19,71% para os domicílios rurais. Já para a população total indígena do estado, o acesso ao mesmo serviço foi de 44,06% do total de domicílios, sendo que para os indígenas residentes em área urbana esse serviço estava disponível em 58,16% dos domicílios e para os residentes em área rural, em 18,44% dos domicílios.

 

Quando comparamos os indicadores de esgotamento sanitário registrados para o Brasil, os indicadores são mais díspares, sendo substancialmente superiores para o total da população do país em relação ao total da população indígena. Assim, o acesso ao esgotamento sanitário pela rede geral/pluvial ou através de fossa séptica/fossa filtro foi de 77,41% do total de domicílios do país, sendo de 84,25% para os domicílios urbanos e de 25,58% para os domicílios rurais.

 

Para o total da população indígena brasileira, esse indicador de esgotamento sanitário foi de 49,43% para o total de domicílios, sendo de 66,32% para os domicílios urbanos (superior à média da população indígena do Piauí, de 58,16%), e de 13,2% para os domicílios rurais (inferior à média da população indígena do Piauí, de 18,44%).

 

No tocante ao acesso a serviço de coleta de lixo no domicílio ou através do depósito em caçamba de limpeza, para o total da população do Piauí e para a população indígena do estado, os indicadores também ficaram muito próximos quando observados na área urbana e rural. Assim, o indicador para a população do estado foi de 73,67% do total de domicílios, sendo especificamente de 97% para os domicílios urbanos e de 20,15% para os domicílios rurais. Já para a população indígena do estado, esse indicador foi de 68,39% para o total de domicílios indígenas, sendo especificamente de 95,25% para o total de domicílios urbanos e de 19,62% para o total de domicílios rurais.

 

Comparando-se os indicadores de coleta de lixo no domicílio ou através de depósito em caçamba de limpeza, os indicadores observados para o total da população do Brasil e para o total da população indígena do país são mais desiguais. Assim, 91,71% do total dos domicílios do país têm acesso àquele tipo de coleta de lixo, sendo 98,7% dos domicílios na área urbana e 38,77% na área rural. Por sua vez, 70,32% do total dos domicílios da população indígena brasileira têm acesso àquele serviço, sendo 94,44% dos domicílios na área urbana e 18,45% na área rural.

 

Fonte: IBGE - Imagem: Fábio Rodrigues-Pozzebom