Capitais perdem espaço e economia fica menos concentrada

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 18/12/2023 08h15, última modificação 15/12/2023 13h49
Pesquisa do IBGE aponta, por exemplo, que Catas Altas, em Minas, tem maior PIB per capita do país.

Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, entre 2020 e 2021, os cinco municípios com os maiores ganhos de participação no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil foram Maricá (RJ), com crescimento de 0,5 ponto percentual; Saquarema (RJ), +0,3 ponto percentual; Niterói (RJ), com +0,2 ponto percentual; São Sebastião (SP) e Campos dos Goytacazes (RJ), ambos com +0,1 ponto percentual. Na lista dos 25 municípios com maior participação no PIB, as novidades foram as entradas de Maricá (RJ) e Itajaí (SC), e as saídas de Sorocaba (SP) e Uberlândia (MG). 

 

Já as cinco quedas de participação mais intensas foram de São Paulo (SP), com perda de participação de 0,6 ponto percentual; Rio de Janeiro (RJ), -0,4 ponto percentual; Brasília (DF), -0,3 ponto percentual; Belo Horizonte (MG) e Porto Alegre (RS), ambos com -0,1 ponto percentual. 

 

“Os resultados expressam uma recuperação econômica das capitais e outras agregações com maior participação no PIB brasileiro que, por terem como atividade principal os serviços presenciais, foram fortemente afetadas pela pandemia de COVID-19. No entanto, apesar do aumento nominal desse grupo de municípios em 2021, a participação deles no PIB ainda está aquém do patamar de 2019”, explica Luiz Antonio de Sá, analista de Contas Regionais do IBGE. 

 

“O bom desempenho de Maricá (RJ) se deve à extração de petróleo e gás. Já os cinco municípios que diminuíram sua participação foram influenciados pelos Serviços, sobretudo as Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados em São Paulo e Porto Alegre, Administração pública em Brasília e Belo Horizonte, e Atividades profissionais, científicas e técnicas, administrativas e serviços relacionados no Rio de Janeiro”, destaca Luiz Antonio. 

 

Em 2021, 11 municípios responderam por quase 25% do PIB nacional e 16,6% da população brasileira, enquanto as 87 cidades com os maiores PIBs representavam, aproximadamente, 50% do PIB total e 36,7% da população do país. Em 2002, apenas quatro municípios somados representavam cerca de ¼ da economia nacional. 

 

Os municípios que responderam por cerca de ¼ do PIB em 2021 foram: São Paulo (SP), com 9,2%; Rio de Janeiro (RJ), 4,0%; Brasília (DF), 3,2%; Belo Horizonte (MG), 1,2%; Manaus (AM), 1,1%; Curitiba (PR), 1,1%; Osasco (SP), 1,0%; Maricá (RJ), 1,0%; Porto Alegre (RS), 0,9%; Guarulhos (SP), 0,9% e Fortaleza (CE), 0,8%. 

 

Entre 2002 e 2021, Manaus (AM) subiu da sétima posição para a quinta; Curitiba (PR), passou da quinta para a sexta; Osasco (SP), da 16ª para a sétima; Maricá (RJ), da 354ª para a oitava; enquanto Porto Alegre (RS) passou da sexta para a nona; Guarulhos (SP), da 14ª para a décima e Fortaleza (CE), da 12ª para a 11ª. 

 


Desconcentração econômica intensificada em 2020 se mantém 


A tendência histórica de redução relativa da importância econômica dos grandes centros urbanos continuou em 2021. As duas maiores concentrações urbanas do Brasil somaram 23,2% de participação no PIB, após totalizarem 23,6% em 2020. São Paulo/SP passou a responder por 15,4% do PIB brasileiro, contra 16,2% em 2020. Tal resultado foi o recuo mais expressivo dentre todas as concentrações urbanas. O Rio de Janeiro/RJ, porém, aumentou sua participação, passando de 7,4% para 7,8% do PIB brasileiro em 2021. Esse foi o maior avanço verificado dentre as concentrações urbanas que expandiram sua participação no PIB de 2020 para 2021. 

 

Dentre as 185 concentrações urbanas existentes no país em 2021, 132 perderam e 53 aumentaram sua participação no PIB nacional, confirmando a tendência de desconcentração. As grandes concentrações urbanas foram as que tiveram as maiores perdas. Entre as 53 que ganharam peso, somente 6 eram consideradas grandes concentrações urbanas (de um total de 26). Dentre as médias concentrações urbanas, o resultado também foi de redução, porém menos acentuada. Somente 47 médias concentrações urbanas ganharam participação em 2021 (de um total de 159). 

 


Centro-Sul tem PIB per capita superior à média brasileira


Em 2021, os três municípios do país com os maiores PIB per capita foram Catas Altas (MG), com R$ 920.833,97, Canaã dos Carajás (PA), com R$ 894.806,28 e São Gonçalo do Rio Abaixo (MG), com R$ 684.168,71. Os três municípios têm nas indústrias extrativas a sua principal atividade econômica. 

 

Três municípios maranhenses tinham os menores PIB per capita em 2021: Santana do Maranhão (MA), com R$5.407,66, Primeira Cruz (MA), com R$ 5.732,25 e Matões do Norte (MA), com R$ 5.737,04. Nos três municípios, a atividade econômica predominante era a Administração pública. 

 

Os maiores valores do PIB per capita, em 2021, pertencem aos grandes centros urbanos do Centro-Sul e a algumas regiões em que ocorre a combinação de atividade Agropecuária significativa e pequena população, como a borda Sul da Amazônia Legal, na região central de Mato Grosso e, ainda, municípios do sul de Goiás e leste de Mato Grosso do Sul, no oeste baiano e no alto curso do Rio Parnaíba. O cálculo do PIB per capita dos municípios utiliza as estimativas de população residente em 1º de julho de 2021, enviada pelo IBGE ao Tribunal de Contas da União (TCU). 

 

Nas grandes concentrações urbanas, a maior razão do PIB per capita foi registrada na concentração urbana de Campinas/SP, seguida pelas de Brasília/DF, São Paulo/SP, Sorocaba/SP e São José dos Campos/SP. Tal cenário é semelhante ao verificado em 2002, ainda que se observe uma alteração na ordem das grandes concentrações urbanas no ranking, além da saída de Curitiba/PR da lista para a inclusão de Sorocaba/SP. Ao longo da série histórica, as maiores razões do PIB per capita tiveram redução relativa, convergindo para a média nacional. 

 

Em 2002, 13 grandes concentrações urbanas apresentavam PIB per capita maior que a média nacional. À exceção de Brasília/DF e Manaus/AM, as demais se encontravam nas Regiões Sudeste e Sul. Já em 2021 o número de grandes concentrações urbanas com razão acima de 1,0 foi de 14, com a inclusão de Cuiabá/MT. 

 

Algumas das grandes concentrações urbanas do Nordeste e uma do Norte, que já possuíam razão do PIB per capita inferior a 1,0 em 2002, distanciaram-se da média nacional ao longo do período, com destaque para Aracaju/SE, Natal/RN e Salvador/BA na Grande Região Nordeste, Goiânia/GO na Grande Região Centro Oeste e Belém/PA na Grande Região Norte. 

 

A redução da desigualdade regional do PIB per capita em 2021 pode ser vista também nas regiões do Semiárido, da Amazônia Legal e da Cidade-Região de São Paulo. Em 2002, a razão do PIB per capita do Semiárido e da Amazônia Legal eram, respectivamente, 0,33 e 0,58. Em 2020, o Semiárido apresentava razão do PIB per capita de 0,43 e a Amazônia Legal, de 0,75. 

 

Em 2021, por sua vez, essas regiões apresentaram índices de 0,41 e 0,76, respectivamente. A razão do PIB per capita seguiu avançando na Amazônia Legal, mas oscilou para baixo em 2021 no Semiárido. A Cidade-Região de São Paulo, por outro lado, correspondia a 1,85 do valor nacional em 2002, 1,61 em 2020 e 1,55 em 2021. 

 


Cidade-Região de São Paulo concentra 22,6% do PIB nacional 

 

A Cidade-Região de São Paulo apresentou perda de participação no total do PIB nacional, saindo de 23,5% do PIB do Brasil, em 2020, para 22,6%, em 2021, o que representou uma queda de 0,9 ponto percentual. No sentido oposto, a Amazônia Legal aumentou sua participação de 9,9% para 10,1%, uma expansão de 0,2 ponto percentual. O Semiárido, por sua vez, viu sua participação ser reduzida de 6,4%, em 2020, para 6,2% em 2021. 

 

“A Cidade-Região de São Paulo vem perdendo participação ao longo da série histórica e reforçou essa tendência em 2021. No caso da Amazônia Legal, o crescimento da Agropecuária foi um fator importante. Já o Semiárido, que desde 2013 ganhava participação, desta vez perdeu. A queda da participação de Serviços no PIB nacional afetou os municípios que têm essa atividade como a mais relevante, caso da maior parte do Semiárido”, observa Marcelo Araujo, geógrafo do IBGE.

 

Administração pública e Demais serviços predominam no país


Em relação ao perfil econômico dos municípios, a principal atividade em 43,2% (2 409 municípios) deles foi Administração, defesa, educação e saúde públicas e seguridade social. Em Amazonas, Roraima, Amapá e Paraíba esse percentual ultrapassou 90,0%. O Paraná, no entanto, teve só 6,3% de seus municípios com essa característica. 

 

Dos 358 municípios cuja atividade principal, em 2021, foi Indústrias de transformação, 293 estavam nas Regiões Sudeste e Sul, o que equivale a 81,8%. Mato Grosso obteve o maior percentual de cidades em que a Agricultura, inclusive apoio à agricultura e a pós-colheita figurou como a atividade de maior destaque (56,0%), seguido por Mato Grosso do Sul (53,2%) e Rio Grande do Sul (48,9%). 

 

Excluindo dessa análise a Administração, defesa, educação e saúde públicas e seguridade social, a atividade Demais serviços se destacou em 3 075 municípios, seguida pela Agricultura, inclusive apoio à agricultura e a pós-colheita, principal atividade em 1 272 municipalidades. Ante 2020, houve crescimento expressivo no número de cidades com Agricultura como atividade principal, de 1 049 em 2020 para 1 272 em 2021, o que está relacionado ao aumento de preços de alguns dos produtos agrícolas mais relevantes na economia nacional em 2021.

 

Concentrações urbanas perdem participação no cenário nacional desde 2002


De 2002 a 2021, São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ) registraram as maiores quedas de participação entre os municípios brasileiros, mostrando uma tendência de desconcentração do PIB municipal. São Paulo (SP) perdeu 3,5 pontos percentuais de participação na economia nacional, influenciado, principalmente, pela redução relativa de Atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados. 

 

Na capital fluminense, a perda de 2,3 pontos percentuais ocorreu em razão da diminuição de seu peso nos Serviços, sobretudo em Atividades Imobiliárias e Informação e Comunicação. Em seguida aparece Brasília (DF), com decréscimo de 0,4 ponto percentual, devido principalmente à Indústria, com influência da Construção. Campos dos Goytacazes (RJ) e Belo Horizonte (MG) vêm em sequência, ambos também com decréscimo de 0,4 ponto percentual, provocado pela extração de petróleo e gás no primeiro município e pelas Atividades Imobiliárias no segundo. 

 

O município com maior ganho de participação no PIB nacional de 2002 a 2021 foi Maricá (RJ), com aumento de 0,9 ponto percentual, devido à extração de petróleo e gás. Os municípios paraenses Parauapebas e Canaã dos Carajás aumentaram 0,5 e 0,4 ponto percentual, respectivamente, com a expansão da extração de minério de ferro, ocupando o segundo e quinto lugares em ganho de participação. Em Saquarema (RJ), o aumento de 0,4 ponto percentual também foi devido à extração de petróleo e gás. Itajaí (SC), quarto lugar em ganho de participação, também com 0,4 ponto percentual, ganhou destaque devido ao Comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas. 

 

Entre os recortes selecionados, a Cidade-Região de São Paulo, reduziu de 27,0% para 22,6% a sua participação no PIB nacional, não só em função da diminuição do peso da capital paulista no PIB, mas também pela perda relativa de outros municípios que a compõem e que têm representatividade na indústria brasileira. Por outro lado, a Amazônia Legal (3,2 p.p.) e o Semiárido (0,9 p.p.) ganharam participação desde 2002. 

 

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Fonte: Agência IBGE de Notícias

Imagem: Freepik Free

Edição: Site TV Alepi