Brasil teve 1.161 desastres naturais em 2023

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 25/01/2024 08h00, última modificação 24/01/2024 14h07
Municípios brasileiros precisam ficar mais alertas sobre riscos de desastres naturais.

Os deslizamentos de terra em São Sebastião (SP), em fevereiro do ano passado, com 64 mortes, e no Vale do Taquari (RS), em setembro, que registrou 53 mortes e 5 pessoas desaparecidas, não foram ocorrências isoladas.

 

Desastres socioambientais como transbordamentos de rios e deslizamentos de terra fizeram com que o ano de 2023 tivesse o maior número de ocorrências desses gêneros, segundo apontou o  Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). O órgão somou 1.161 eventos como esses de origem hidrológica (716 registros) e geológica (445 casos).

 

Segundo o Cemaden, as ocorrências seguiram o padrão de concentração em capitais e regiões metropolitanas. O levantamento mostrou que a maior parte está localizada na faixa leste do país.

 

Além dos desastres, o Cemaden emitiu um total de 3.425 alertas para os municípios monitorados ao longo do ano passado. Foram 1.813 registros hidrológicos e 1.612, geohidrológicos. O órgão aponta que foi o terceiro maior quantitativo de emissão de alertas de desastres desde a criação do Centro em 2011.

 

A instituição monitora 1.038 municípios (18,6% das cidades do país e 55% da população nacional). O trabalho é realizado 24 horas por dia. O Cemaden explicou que a maior parte dos alertas emitidos foi enviada para regiões metropolitanas, ao Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul, Vale do Itajaí, em Santa Catarina. Petrópolis lidera o ranking de municípios, tendo recebido 61 alertas, seguido de São Paulo com 56, e Manaus 49.

 

O Cemaden explica que a temperatura média global em 2023 ficou 1.45 ºC acima dos níveis pré-industriais (1850-1900). “As temperaturas mais quentes contribuem globalmente para a intensificação de chuvas e enxurradas, intensificação de ciclones extratropicais com potencial destrutivo, mortes e prejuízos econômicos”, ponderou o órgão.

 

Municípios brasileiros precisam ficar mais alertas sobre riscos de desastres naturais

 

Quase dois mil municípios estão suscetíveis a deslizamentos, enxurradas e enchentes no Brasil, de acordo com um estudo realizado pela Casa Civil. O número representa mais que o dobro do último levantamento, de 2012, quando 821  cidades estavam sob risco.

 

O Brasil 61 confirmou o número com a pasta, que informou que os dados completos ainda não podem ser disponibilizados, já que a nota técnica foi elaborada apenas para subsidiar o trabalho interno das equipes e basear o processo de seleção de obras do Novo PAC, que contempla intervenções de drenagem e encostas. 

 

Apesar do número alto, o cenário parece ser um pouco melhor do que o país enfrentou entre 2013 e 2022, quando 93% das cidades brasileiras sofreram com desastres naturais, segundo a Confederação Nacional de Municípios (CNM) — um total de 5.199. Mais de 4,2 milhões de pessoas foram afetadas. 

 

Esses dados alertam para a necessidade de os municípios estarem cada vez mais preparados para eventos como esses. Por isso, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou o projeto Construindo Cidades Resilientes (MCR2023) para ajudar os municípios na redução de riscos e desenvolvimento da resiliência, oferecendo acesso a ferramentas de conhecimento, diagnóstico, monitoramento e relatórios. 

 

O trabalho da professora Gislaine dos Santos, que coordena o Programa de Análise da Resiliência a Desastres no Contexto Municipal, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), é justamente traduzir para a realidade dos municípios brasileiros essas ferramentas. 

 

O programa foi criado em 2022 e busca possibilitar que as prefeituras ofereçam aos seus servidores e agentes públicos informações mais objetivas, a fim de capacitar e prepará-los para agir antes e durante os desastres. 

 

Na opinião da pesquisadora, todas as estruturas de governo devem trabalhar, mas ela defende que quando se fala em desastres naturais, é preciso focar no município, que é onde se sente os maiores impactos. 

 

“É importante ter essa percepção, essa responsabilidade local, porque quando a gente vivencia um desastre, a gente visualiza como os outros níveis de governo podem ajudar, mas é a comunidade que vai continuar naquele local do desastre, que vai vivenciar um processo de recuperação lenta”, analisa. 

 

Desde o início da parceria com a ONU, Gislaine conta que foram muitos estudos para trazer para o âmbito dos municípios brasileiros as recomendações e metas da iniciativa. A primeira cidade selecionada para participar da capacitação oferecida pela UFJF é Franco da Rocha, em São Paulo. O processo dura 18 meses.

 

Desafios

 

A pesquisadora explica ainda que o objetivo de todo o trabalho realizado na universidade atualmente é transformar a mentalidade dos gestores. 

 

“A visão do escritório da ONU para redução do risco de desastres não é colocar um núcleo específico, como a defesa civil. Aqui no Brasil se remete muito a uma secretaria. Aqui [no programa] a gente trata esse assunto de forma bastante holística, dentro de uma prefeitura e também de outras instituições que precisam estar em contato com o governo local”, observa.

 

No período de dez anos analisado pela CNM, o prejuízo em todo o país com danos em habitação ultrapassa os R$ 26 bilhões. Gislaine dos Santos afirma que a mudança da ordem dos investimentos é urgente.

 

“Eu gostaria muito de ouvir de forma antecipada que o recurso está chegando para preparar a comunidade, para desenvolver a capacidade de resiliência. Isso ainda é muito falho”, opina. 

 

Para Luís Eduardo Grisotto, presidente da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental - Seção São Paulo (ABES-SP), o problema é amplo, mas para resolver é preciso investir, primeiramente, em estudo.

 

“É difícil a gente ter recurso, em um país que está em desenvolvimento como o Brasil, para prevenir qualquer acidente, em qualquer local do país. A gente sabe que a questão social é um problema sério, é muito difícil da gente conter a ocupação de encostas, porque tem um problema social atrelado, então não é simples”, avalia. 

 

Ainda de acordo com o levantamento da CNM, mais de 2,2 milhões de casas foram danificadas entre 2013 e 2022, em 4.334 municípios e, destas, 107.413 foram totalmente destruídas.

 

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Fonte: Agência Brasil/Brasil 61 - Imagem: Rovena Rosa

Edição: Site TV Alepi