Aumentam casos de câncer em pessoas com menos de 50 anos

por Helorrany Rodrigues da Silva publicado 09/09/2023 08h05, última modificação 08/09/2023 15h07
Oncologista destaca pesquisa que apontou crescimento em 79% da incidência da doença entre pessoas nessa faixa etária. Tipos mais comuns no DF são mama, próstata e colorretal

Os pesquisadores da Universidade de Edimburgo, na Escócia, junto com a Escola de Medicina da Universidade de Zhejiang, na China, divulgaram esta semana, relatório revelando pesquisa segundo a qual a quantidade de pessoas com menos de 50 anos diagnosticadas com câncer em todo o mundo aumentou 79%, entre 1990 e 2019. Ao CB.Saúde — parceria do Correio com a TV Brasília —, a médica da Oncoclínica Brasília, Ana Carolina Salles, detalhou à jornalista Carmen Souza que o aumento pode estar relacionado a hábitos ruins e fatores de risco, principalmente porque o número divulgado representa uma alta de 1,82 milhão para 3,26 milhões no número de casos.

 

Quais são os fatores para algo assim?

 

Quando a gente conversa com amigos, com outros profissionais, com as famílias, a maior parte acha que esse aumento na incidência do câncer, tanto nos jovens como em pessoas com idade a partir de 50 anos, está relacionado a fatores hereditários. Não é assim. A pesquisa mostra justamente que as principais causas são ambientais e ligadas ao nosso estilo de vida. Há uma frase que eu gosto muito: 'um bom estilo de vida nos protege contra as principais doenças, como as cardiovasculares e o câncer'.

 

Podemos pensar, dentro desses fatores, qual que é preponderante e quais possuem uma relação mais significativa com a doença?

 

É muito preocupante o sobrepeso e a obesidade. Depois que recebi o convite de estar aqui, procurei uma pesquisa anterior sobre o aumento do número de obesidade. Temos, hoje, quase 30% da população brasileira obesa. De fato, é um grande fator de risco de câncer que temos, como câncer de mama nas mulheres, próstata nos homens e o câncer de intestino, tanto em homens, quanto mulheres. Associado à obesidade e sobrepeso, o sedentarismo é outro fator extremamente importante para esses dados.

 

O que se sabe sobre a relação de questões como a poluição do ar e o contato com microplásticos na alimentação e na água com o desenvolvimento de tumores malignos?

 

Quando falamos de fatores de risco para câncer, o consumo de plástico muito provavelmente está relacionado ao aumento de câncer de intestino. Sabemos dessa provável relação. Já a poluição está ligada ao câncer de pulmão. Ele é extremamente prevalente em homens e mulheres, ainda sendo um grande problema de saúde pública. De fato, são fatores que estão relacionados.

 

Todos os anos, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) realiza um levantamento de projeção de casos. No DF eles citam três até 2025: mama, próstata e colorretal. Esses dados têm chamado a atenção. Poderia falar a respeito?

 

Tivemos os casos recentes das cantoras Preta Gil e Simony, que são pessoas públicas e mesmo passando por uma situação difícil, têm um poder de conscientização muito grande. No caso da Preta Gil, ela vinha sofrendo há seis meses. O câncer de intestino precisa ser muito falado, pois é uma doença prevenível, com alimentação rica em vegetais, frutas e verduras. É importante alertarmos que a obesidade e o sobrepeso são fatores de risco importantes para esse câncer, além do álcool.

 

Em qual medida se recomenda fazer testes e rastreamento genéticos no sentido de prevenção?

 

Depende um pouco do tipo de câncer. Eu não vou, enquanto médica, sair solicitando testes genéticos para saber se existe risco aumentado de vários tipos de câncer para a população em geral. Não devemos fazer isso. Fazemos quando pacientes diagnosticados com câncer chamam a atenção por uma história familiar, rica de casos da doença, ou por se tratar de um paciente jovem. Um exemplo: toda paciente diagnosticada com câncer de mama e com menos de 50 anos de idade, a gente recomenda que faça rastreio genético. Se a gente descobre nessa paciente que tem uma mutação, recomendamos que toda a família dela seja investigada.

 

Estamos no setembro dourado, que é o mês de conscientização em relação ao câncer infanto-juvenil. Estamos tendo aumento de câncer em crianças?

 

Sim. De fato, houve um aumento nos últimos anos. O câncer infanto-juvenil é de leucemia; tumores cerebrais; e tumor de wilms, que acontece nos rins. São tumores que têm fatores de riscos diferentes e, muitas vezes, desconhecidos porque não são tão relacionados para os adultos. A mensagem que eu deixo é para nós, pais, estarmos atentos às nossas crianças. Notar se está com palidez, sangramento gengival, nasal ou convulsões. Tanto crianças quanto adultos. Precisamos estar atentos ao nosso próprio corpo. Se notar algo saindo do habitual, é importante procurar um médico.

 

 

 

Com Informações Correio Braziliense 

Imagem: Oncologista Ana Carolina Salles (crédito: Ed Alves/CB/D.A. Press)

Edição: Site TV Assembleia