Até 2030 o câncer será a principal causa de morte no mundo
As perspectivas de cura e qualidade de vida dos pacientes com câncer cresceram exponencialmente nos últimos anos. O desenvolvimento de tecnologias e protocolos de diagnóstico que auxiliam na detecção precoce dos mais variados tipos de câncer, a descoberta de tratamentos mais eficazes e menos agressivos aliados a uma atenção especial à reinserção do paciente à vida produtiva, sexual e afetiva têm ampliado a sobrevida, sem perda significativa de qualidade de vida dos pacientes com câncer.
Os avanços começam na detecção do tumor. Novos protocolos mostram que a inclusão de exames simples, como a colonoscopia, quando adotados para pacientes de grupos que são mais propensos à doença, são decisivos para a descoberta precoce e, consequentemente, um tratamento mais assertivo. Essa descoberta fez com que a colonoscopia fosse recomendada para pacientes com mais de 50 anos, por exemplo. Outros fatores simples de prevenção estão na imunização contra HPV e hepatite B, por meio de vacinas disponíveis na rede pública de saúde, contra doenças praticamente erradicadas e que têm alto impacto na prevenção ao câncer.
Descobertas no campo da genética também têm contribuído para tratamentos mais eficazes e, até mesmo, para evitar que pacientes cheguem a desenvolver a doença. Ficou conhecido o caso da atriz norte-americana Angelina Jolie, que, após um exame detectar uma predisposição genética, somado ao seu histórico familiar, optou por retirar as mamas, antes que o câncer surgisse. O procedimento é envolto em polêmicas e, definitivamente, não deve ser a regra geral, mas mostra como já é possível avançar na identificação e prevenção.
Os tratamentos caminham para uma personalização que reduz os impactos negativos amplamente conhecidos. Exames genéticos, uso de células do próprio paciente para incentivar a imunização - como as Car-T Cells e as terapias-alvo - estão entre alguns dos avanços tecnológicos que trazem maior assertividade ao tratamento.
Esses avanços também são importantes para redução do custo. As terapias-alvo, por exemplo, atacam especificamente células cancerígenas, evitando danos a células saudáveis, mas os valores operacionais iniciais tornavam praticamente impossível sua adoção em larga escala. O mesmo ocorre com as terapias que utilizam Car-T Cells. Pesquisas nacionais, ligadas ao Instituto Nacional do Câncer, têm contribuído para tornar o tratamento mais barato e, portanto, mais acessível, embora nem todas essas terapias estejam, ainda, disponíveis no Sistema Único de Saúde.
Embora pesquisas e novas tecnologias contribuam para detecção da doença e melhor qualidade de vida do paciente com câncer, o ideal ainda é prevenir. Condições ambientais e individuais, como estresse, obesidade, má alimentação (fatores não genéticos relacionados ao estilo de vida), têm sido frequentemente associadas ao surgimento do câncer. É o caso do câncer de pulmão que tem crescido entre não-fumantes. Uma das explicações é o aumento da poluição.
Uma vida saudável, equilibrada, com uma rotina que inclua a prática de atividades físicas, uma alimentação com alta ingestão de frutas, legumes, verduras, feijões, cereais integrais e que evite alimentos prontos para o consumo ou prontos para aquecer e carnes processadas, como embutidos, compõem uma forma de viver que estudos apontam como fatores que evitam o câncer e que estão disponíveis para grande parte da população. Mudar a forma como lidamos com o alimento, o trabalho, a rotina, em geral, é fundamental para reduzir as chances de contrair um câncer.
A boa qualidade de vida é também fundamental para o sucesso do tratamento do paciente já acometido pela doença. Não é por acaso que meditação, ioga e acompanhamento psicológico cada vez mais têm feito parte da terapia de pacientes em que a doença já foi detectada. É o que chamamos de medicina integrativa. Está cientificamente comprovado que é mais eficaz para o tratamento médico analisar o paciente de maneira integral do que apenas tratar o tumor.
Em oito anos, o câncer será a principal causa de mortes no mundo. Entretanto, sabemos que os avanços na área médica nos permitem (e permitirão) tratá-lo de maneira cada vez mais eficaz. O dado de que haverá muitas mortes por câncer não pode ser motivo de pânico. Precisa ser um convite ao autocuidado, à busca pela qualidade de vida e ressignificação de relações pessoais e profissionais que coloquem a saúde em primeiro lugar.