Anvisa aprova uso emergencial do antiviral Paxlovid contra a Covid-19

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 01/04/2022 08h00, última modificação 31/03/2022 17h44
Enfim, temos um tratamento precoce para frear o coronavírus. Em estudo, ele demonstrou reduzir em 89% o risco de agravamento da infecção
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o uso emergencial do antiviral Paxlovid, da Pfizer, contra o coronavírus. O medicamento é indicado nos primeiros dias de sintomas, somente para indivíduos em alto risco de desenvolver quadros graves de Covid-19. 
Entram na lista de indicações indivíduos com o sistema imunológico comprometido, idosos e portadores de certas comorbidades, como câncer e doenças renais. Para indivíduos jovens e saudáveis, o remédio não é necessário porque a doença tende a se resolver sozinha na grande maioria dos casos – em especial com o advento das vacinas. 
O Paxlovid é o primeiro comprimido aprovado no país para ser usado nos primeiros dias de sintomas. Ou seja, um tratamento precoce. Era uma fase da doença para a qual não tínhamos opções eficazes, com exceção dos anticorpos monoclonais, que são caros e devem ser aplicados via infusão intravenosa. 
Pode chegar nos próximos meses, ainda, o antiviral molnupiravir, da Merck, que havia sido pensado originalmente contra o vírus ebola. Ele também demonstrou bons resultados em estudos e está em análise pela Anvisa.
Como funciona o Paxlovid 
Ele é uma combinação de dois princípios ativos,  o nirmatrelvir e o ritonavir. O primeiro já era testado contra a Sars, parente do Sars-Cov-2, e o segundo utilizado no tratamento das infecções por HIV e hepatite C. 
A nova molécula é da classe dos inibidores da protease, enzima acionada pelos vírus para eles se replicarem. Quando o patógeno entra no organismo, sequestra nossas células para fazer cópias de si mesmo. É isso que causa a doença e seus sintomas. 
O que os antivirais em geral fazem é interromper algum dos mecanismos usados pelo vírus no processo – nesse caso, a ação da enzima protease. 
O estudo de fase 2/3 que confirmou a eficácia do medicamento avaliou 2,2 mil pacientes não vacinados, considerados de alto risco para Covid-19 grave. Os voluntários foram divididos em dois grupos, metade tomando placebo, metade tomando o comprimido. 
Foram administrados três comprimidos, duas vezes ao dia, durante cinco dias. No fim da análise, quem tomou Paxlovid apresentou uma redução de 89% no risco de hospitalização ou morte relacionado à doença em comparação com o pessoal do placebo. Os achados foram publicados no respeitado New England Journal of Medicine.
Mas atenção: a medicação só tem efeito nos primeiros dias de sintomas, quando o problema é a replicação do vírus em si. Quando o quadro já se agravou e a tempestade inflamatória está instalada, o foco do tratamento passa a ser controlar o sistema imune do paciente.
Paxlovid tem a mesma ação da ivermectina? 
Nos últimos meses, tem circulado nas redes sociais uma fake news dizendo que o Paxlovid e o molnupiravir funcionariam da mesma maneira que a ivermectina. Mas os novos remédios têm mecanismos de ação diferentes dos do antiparasitário, comprovados por estudos. 
Como vimos, o Paxlovid foca na enzima protease, produzida pelo coronavírus e outros agentes virais. Já o molnupiravir insere erros no código genético do patógeno. A ivermectina até foi testada como inibidora da protease do Sars-Cov-2, mas não se saiu bem fora dos trabalhos em células isoladas. 
Aliás, recentemente saiu outra prova de sua ineficácia. O estudo, conduzido por brasileiros e também publicado no New England Journal of Medicine, é considerado um dos maiores sobre o tema. Foram analisados mais de 1,2 mil pacientes em alto risco de Covid-19 grave, metade tomando ivermectina, metade tomando um placebo. 
Mais uma vez, o fármaco não demonstrou nenhum efeito em impedir o agravamento ou acelerar a recuperação dos infectados. 

Com informações Saúde Abril

Imagem: Otávio Silveira e Rodrigo Damati/SAÚDE é Vital