A suspensão da menstruação, com orientação médica, pode ser saudável

por Helorrany Rodrigues da Silva publicado 05/12/2022 08h15, última modificação 04/12/2022 11h52
Suspender o fluxo pode ser uma opção para as mulheres que se sentem incapacitadas durante esses dias, mas demanda orientações adequadas de um especialista

A discussão em torno da menstruação, tema historicamente considerado tabu e, por vezes, tido como sinônimo de impureza ou fragilidade, tem ganhado corpo com as novas gerações, que visam democratizar diferentes métodos de lidar com o fluxo. Tais avanços, inclusive, abarcam também formas de cessar o sangramento mensal, tão particular a cada mulher.

 

Nesse sentido, vale considerar que, por razões diversas, esse período pode ser incapacitante e suspendê-lo significa ter melhor qualidade de vida. Além disso, existem condições de saúde nas quais é imprescindível parar de menstruar, como a endometriose, a adenomiose e o transtorno disfórico pré-menstrual, conforme explica Marina Almeida, ginecologista e coordenadora de Laparoscopia Ginecológica do Hospital Santa Lúcia.

 

Para além das técnicas temporárias, que incluem os contraceptivos orais e injetáveis, o DIU e os implantes subcutâneos, há maneiras definitivas de interromper o fluxo. Trata-se da histerectomia (retirada do útero) e da ablação (cauterização do endométrio), comumente consideradas quando situações graves — câncer no útero ou grandes perdas de sangue — interferem no bem-estar feminino.

 

E para as mulheres que recorrem a receitas caseiras ou a remédios com outras prescrições com o fim de cessar a menstruação imediatamente, Almeida deixa o alerta: “Toda medida não regulada é arriscada. Afinal, a quem vamos responsabilizar caso haja complicações? Como tratamos os efeitos de substâncias que não sabemos sobre as quantidades e os efeitos? Sugiro consultar um médico antes de usar qualquer método”. 

 

 

    (foto: Valdo Virgo)

 

 

Possibilidades e precauções

 

As alternativas para interromper, de forma segura, a menstruação são muitas, mas cada uma exige cuidados diferentes, assim como apresenta efeitos colaterais. Lauriene Pereira, ginecologista e obstetra na Unna Vitta, cita alguns métodos e lembra que nenhum suspende o fluxo total e definitivamente, dado que sempre podem ocorrer escapes.

 

1. Contraceptivos orais


A pílula funciona estabilizando o ciclo hormonal, afinando o endométrio e tornando o ciclo menstrual estável. Existem dois tipos: o anticoncepcional de uso contínuo — método mais comum, no qual há a combinação dos hormônios estrogênio e progesterona — e o anticoncepcional que contém apenas progestogênio, prescrito, normalmente, para lactantes e pacientes em idade avançada. Este último, por não conter estrogênio, não aumenta o risco de trombose nem AVC. Ambos devem ser usados de modo contínuo. Normalmente vêm em 28 ou 30 comprimidos e o efeito colateral mais comum é o sangramento de escape.

 

 

PHILIPPE HUGUENPHILIPPE HUGUEN(foto: PHILIPPE HUGUEN)

 

 


2. Anticoncepcionais injetáveis


Possuem progesterona e são injetados a cada 90 dias. É uma das técnicas que mais causa amenorreia, isto é, a ausência da menstruação. Pode ter como implicações inchaço, mastalgia (dor nas mamas), retenção de líquido, dor de cabeça, além da suspensão poder ultrapassar seu tempo de ação, fazendo com que a mulher fique até seis meses sem menstruar. Trata-se, por esse último fator, de um procedimento bastante imprevisível. Para a especialista, é um “método obsoleto e pouco utilizado”.

 


3. DIU de levonorgestrel


Pequeno objeto de plástico em formato de T inserido no útero para atuar como contraceptivo. Age de forma semelhante às pílulas, mas nem sempre impede a ovulação. Afina o endométrio, mas não interfere tanto no ciclo hormonal. Assim, a mulher tem as variações do ciclo, pode ovular, mas, como o endométrio fica fino, a menstruação é interrompida. Tem duração de cinco anos. Retenção de líquido, dores de cabeça, pele mais oleosa e acne são alguns dos efeitos esperados.

 

 

O dispositivo intrauterino (DIU) é um método contraceptivo O dispositivo intrauterino (DIU) é um método contraceptivo(foto: Reprodução/Internet)

 

4. Implantes contraceptivos subcutâneos


O implante de etonogestrel é, atualmente, a técnica mais usada e sua eficácia, como contraceptivo, gira em torno de 99,8%. Entre as vantagens estão o fato de não sair do lugar nem necessitar de um acompanhamento via ultrassom. A duração é de três anos e a taxa de amenorreia é cerca de 30%, tornando sua adesão menor quando para esta finalidade. Entre os efeitos colaterais, pode-se citar: oleosidade na pele e aumento da acne, queda de cabelo, retenção de líquido e maior probabilidade de escapes.

 

Palavra do especialista

 

Por que muitas mulheres optam por cessar a menstruação?


Muitas mulheres optam pela interrupção, pois a menstruação pode ser um evento incômodo e incapacitante, devido às dores, ao forte fluxo e a possíveis alterações de humor durante o mês.

 

Há problemas em escolher parar de menstruar? Essa decisão acarreta quais implicações ao organismo?


Não existe problema em cessar a menstruação temporariamente, desde que haja a orientação de um profissional, de preferência, um ginecologista. É preciso, entretanto, que existam motivos certos para isso, dado que os efeitos colaterais para essa interrupção são imensos. Por exemplo, a prescrição da medicação chamada Gosserrelina, semelhante à indução de uma menopausa artificial, apresenta consequências como calores intensos e ressecamento vaginal.

 

A partir de qual idade é aconselhável recorrer a métodos de interrupção da menstruação, se este for o desejo?


Hoje, temos métodos que reduzem ou cessam a menstruação e podem ser usados desde a menarca, sem prejuízo para o crescimento da adolescente. Um exemplo é o implante de etonogestrel, que reduz de 40% a 60% o fluxo e, em alguns casos, até zera a menstruação. Outra opção é o DIU Mirena, que diminui em até 90% o fluxo ou mesmo o zera. Evitamos, entretanto, anticoncepcionais hormonais combinados de baixa dose, que podem prejudicar a saúde feminina devido à falta do estrogênio em quantidades adequadas, interferindo no crescimento

 


Brunely Galvão é ginecologista, especialista em sexualidade pela USP e fellowship em videolaparoscopia pelo Instituto de Endometriose de Brasília


Com informações Correio Braziliense 

Imagem: Antonio Diaz/Freepik

Edição Site TV Assembleia