60 anos da pílula anticoncepcional: principais dúvidas sobre ela

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 01/08/2022 13h00, última modificação 01/08/2022 11h00
Confira respostas de especialistas sobre efeitos colaterais, formas de uso, eficácia, tipos de pílula, contraindicações...

Há 60 anos a pílula anticoncepcional chegava ao Brasil, e muita coisa mudou de lá para cá. O medicamento que ajudou a impulsionar a revolução sexual e a liberdade da mulher agora também é encontrado em outras formas, como a injetável e o implante. E pode até ser substituída por outros métodos – que às vezes dispensam os hormônios.

 

No entanto, seis décadas depois, as próprias pílulas ainda geram dúvidas e polêmicas. Uma pesquisa encomendada pela Bayer ao Ipec ouviu mil mulheres de diferentes regiões do Brasil, entre 16 a 45 anos, que já engravidaram. Uma das revelações é que 62% não havia planejado a gravidez, 54% não usavam nenhum método contraceptivo e 65% gostariam de ter recebido mais informações sobre o tema antes.

 

Vergonha de ir ao médico para discutir a vida sexual e a falta de informação contribuem para que mulheres passem por gestações não desejadas.

 

Por outro lado, há quem arrisque tomar pílulas anticoncepcionais por conta própria: ¼ das mulheres da pesquisa admitiram que fazem isso – o que pode envolver riscos. Embora segura na maioria dos casos, elas oferecem riscos adicionais de trombose a mulheres com certas características genéticas, e também para as que fumam, por exemplo.

 

É importante consultar um médico antes de adotar qualquer estratégia contraceptiva, inclusive para verificar qual mais se adequa ao seu dia a dia.

 

Hora de entender os detalhes desse método contraceptivo:

 

Quando surgiu a pílula anticoncepcional?


Ainda no século 20. Nos Estados Unidos, uma enfermeira feminista chamada Margaret Sanger (1879-1966) atuava contra a legislação da época, pregando métodos contraceptivos para mulheres. Para a sociedade, na época, era um absurdo recusar-se ser mãe, e a ativista chegou a ser presa após abrir a primeira clínica de controle de natalidade daquele país.

 

O nome dela é lembrado nas enciclopédias por influenciar cientistas a criarem uma solução simples para a mulher evitar gestações indesejadas. E deu certo. Por volta de 1960, surgia a primeira pílula anticoncepcional nos Estados Unidos. Dois anos depois, ela já estava no Brasil.

 

O que mudou da antiga pílula para a que se toma hoje?

 

Daniela Nogueira Barros Rocha, ginecologista e obstetra da Clínica First, em São Paulo, conta que na primeira versão era necessário colocar altas doses de hormônios sintéticos nos comprimidos – da ordem de 150 microgramas (mcg).

 

“Por este motivo, os riscos de trombose, infarto e acidente vascular cerebral eram muito maiores”, lembra a ginecologista e obstetra Nilka Donadio, consultora de Reprodução Humana e Medicina Fetal da Dasa Genômica. “Com o tempo, foram desenvolvidas novas formulações, com menores doses. Elas caíram atualmente para 20 ou 15 microgramas, mas sem perder a eficácia”, completa.

 

Há ainda as fórmulas que contêm estrogênios naturais, como o estradiol, que promoveriam menores efeitos colaterais (principalmente enjoos e dor de cabeça).

 

O que é a pílula anticoncepcional e como ela funciona?

 

A pílula faz uma combinação de hormônios com o objetivo de “enganar o organismo e evitar que a mulher ovule”, conta a ginecologista e especialista em reprodução humana Karen Rocha De Pauw, de São Paulo.

 

Esses hormônios são o estrogênio e a progesterona, em suas formas sintéticas. Para ser mais exato, eles interferem na hipófise, um glândula localizada na base do cérebro. “A paciente ovula porque a hipófise produz FSH [hormônio folículo-estimulante] e LH [hormônio luteinizante], que agem no ovário. Mas as pílulas bloqueiam essa liberação”, especifica Adriana Campaner, ginecologista do Alta Excelência Diagnóstica, da Dasa.

 

“A medicação ainda altera o muco cervical, um líquido que facilita o avanço dos espermatozoides”, acrescenta Daniela.

 

Quais são os tipos de pílula?


Existem várias formulações. Nilka nos ajuda a entender essa classificação:

 

  • Quanto à quantidade de estrogênio: aquelas com mais de 50 mcg são consideradas de alta dose. Abaixo desse valor, são de baixa dose. Atualmente, existem anticoncepcionais orais combinados com 20 ou 15 mcg, considerados de ultra baixa dose.
  • Quanto ao tipo de progesterona. Aí, há as pílulas de diversas gerações. As mais modernas vêm com doses baixas.
  • Outra classificação se dá em relação às quantidades diferentes de hormônios entre os comprimidos de cada cartela. Ou seja, o regime pode ser monofásico (uma dose igual em todas as pílulas), bifásicas (duas doses, em períodos diferentes do mês) ou trifásicas (três doses diferentes).
  • Algumas pílulas têm em sua formulação unicamente o progestagênio – essas são as de uso contínuo, tomadas sem intervalos. Elas param a menstruação.

 

Como escolher a pílula?


A composição das diferentes pílulas é complexa, e isso afeta o organismo da mulher muito além da ovulação.

 

Quando a ideia é só evitar a gravidez, o médico pode optar por uma pílula com doses menores. Mas se a ideia for também tratar espinhas ou pelos indesejados, isso às vezes muda.

 

“É importante pontuar que, entre os tipos de contraceptivos, há os que combatem certos sintomas ou mesmo doenças”, reforça Daniela. A endometriose é uma dessas encrencas. Há ainda alternativas que são utilizadas durante a amamentação, e outros para quem possui contraindicação para o estrogênio.

 

Só uma avaliação da mulher e de seus desejos para definir qual a melhor opção de contraceptivo – que, aliás, pode ir além das pílulas.

 

Para que serve a pílula de uso contínuo?


Ela é a do tipo que interrompe a menstruação. Mulheres que não desejam mais os ciclos ou que não podem tê-los por motivos de saúde são candidatas ao método.

 

“Elas são frequentemente prescritas para tratar endometriose e diminuir crescimento dos miomas. As de uso contínuo somente com progestagenos também são indicadas para prevenir uma gestação no período da amamentação”, explica Nilka.

 

Há mulheres com receio de parar de menstruar, mas as profissionais afirmam que isso não é um problema para a saúde. “O motivo pode ser só pelo conforto de não passar pelo ciclo. Ou para lidar com episódios de muito sangramento, que podem até causar anemia pela perda de ferro e cólicas muitos fortes”, defende Karen.

 

Quais são os riscos de tomar a pílula por contra própria?


“O profissional entende os antecedentes da paciente para avaliar possíveis problemas de saúde, dos remédios que ela toma, além de predisposições familiares para certas doenças”, pontua Adriana. Todos esses itens são critérios divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

 

Quem toma medicamentos anticonvulsivante pode ter a eficácia da pílula reduzida, por exemplo. Aí é preciso escolher outro método. Como dissemos, o histórico de trombose também é preocupante.

 

Vale a pena lembrar, no entanto, que a própria gestação aumenta o risco de trombose – e em magnitude maior do que a pílula.

 

Tomar pílula engorda?


O medicamento em si não provoca ganho de peso, mas há fatores que podem dar a impressão de que a mulher está acumulando gordura, segundo as especialistas. “Ela pode causar retenção de líquido, o que repercute na balança”, explica Daniela. Mas isso não significa um ganho de gordura, e sim de líquido.

 

Além da contracepção, para que mais serve a pílula?


Ela pode ser usada em casos de adenomiose, endometriose, sangramento uterino disfuncional, miomas, síndrome do ovário policístico etc. Algumas dessas questões também são tratadas com o DIU hormonal.

 

Há estudos até que veem a pílula como forma de reduzir o risco de diabetes. É que alguns tipos favorecem o aumento de glicemia, e outras que ajudam a reduzir esses índices.

 

O que difere a pílula em comprimido da forma injetável?


O contraceptivo injetável é utilizado em intervalos de 30 ou 90 dias. A primeira vantagem, de cara, é não precisar lembrar dos comprimidos diários.

 

Esse formato também tem variações de hormônios (a menstruação pode ser mantida ou não). “Há uma injeção que tem só progesterona de aplicação trimestral, que pode ser usada por quem tem fluxo intenso e não quer ficar dependente da cartela de remédios”, explica Adriana.

 

Uma desvantagem é receber de uma vez só as doses de hormônio. “Quando a mulher não se incomoda em tomar a pílula convencional, é preferível ficar com ela, porque, se surgirem efeitos colaterais, dá para suspender o uso”, defende Karen.

 

Quem toma pílula também deve usar camisinha?


Sempre. “O preservativo previne contra as infecções sexualmente transmissíveis, como sífilis, gonorreia, HPV, hepatite B, hepatite C, HIV”, enumera Karen.

 

Além disso, ela reduz ainda mais o risco de uma gestação indesejada.

 

Qual o risco de engravidar tomando pílula?


A pílula anticoncepcional tem eficácia de 99% quando ingerida corretamente, segundo as bulas dos medicamentos. “ Mas esse número pode cair, porque um dos grandes problemas da pílula é justamente seu uso incorreto”, conclui Nilka.

 

Quem não pode tomar pílula?


Algumas quadros não são compatíveis com esse método contraceptivo:

 

  • Casos prévios de trombose
  • Embolia pulmonar
  • Alguns problemas de fígado
  • Cânceres como o de mama e endométrio.

 

Adriana lembra que há o DIU sem hormônios – os de prata e de cobre – para esses e outros casos. Em algumas mulheres, ele pode causar cólicas e desconforto.

 

Mas não faltam outros métodos: camisinhas masculinas e femininas, diafragma, anel vaginal, implante, adesivos…

 

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Fonte: Saúde Abril

Imagem: Reproductive Health Supplies Coalition/Unsplash/Divulgação

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