1 em cada 5 crianças e adolescentes tem transtornos alimentares

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 21/02/2023 14h13, última modificação 21/02/2023 14h13
Causas podem ser psíquicas e de difícil diagnóstico; estar atento a mudanças no comportamento é importante para evitar distúrbios

Por Ana Bottalho

 

Folha de São Paulo - Um em cada cinco jovens de 6 a 18 anos apresenta desordem alimentar. Se não tratado, o quadro pode levar a distúrbios como bulimia, anorexia nervosa e transtorno de compulsão alimentar.

 

Em meninas, a proporção é ainda maior, chegando a quase um terço (30%) em comparação aos meninos (17%) de mesma idade.

 

Os dados são de um estudo global, que avaliou mais de 63 mil crianças, publicado nesta segunda (20) na revista científica Jama Pediatrics. O trabalho foi liderado por José Francisco López-Gil, do Centro de Pesquisa Social e Médica da Universidade de Castilla-La Mancha (Espanha), e Héctor Gutiérrez-Espinoza, da Universidade das Américas (Equador).

 

A pesquisa consiste em uma meta-análise (análise de dados de pesquisas já publicadas, sem fazer novos estudos empíricos) de 32 estudos com um público na faixa de 6 a 18 anos em 16 países, incluindo o Brasil.

 

Distúrbios alimentares são desordens psiquiátricas caracterizadas pela alimentação anormal ou comportamento que afetam o controle do peso, podendo resultar em sérios problemas de saúde. Como existem diversas causas possíveis que podem levar ao quadro e por ter origem psíquica, seu diagnóstico é dificultado.

 

Apesar de serem mais frequentes em adultos jovens e adolescentes, as desordens alimentares em crianças podem evoluir para transtornos na idade adulta.

 

A incidência varia de país a país e é mais comum em nações de média e alta renda, sendo que nas de baixa renda outros fatores, como desnutrição e insegurança alimentar, são mais frequentes em crianças e adolescentes.


Para avaliar a prevalência de distúrbios alimentares na infância, os pesquisadores incluíram apenas estudos com crianças de 6 a 11 anos ou adolescentes de 12 a 18 e que tinham como desfecho principal uma desordem alimentar. Do total de participantes, 51,8% eram meninas.

 

Uma metodologia eficaz para encontrar sinais de desordem alimentar é o questionário SCOFF ("sick", "control", "one", "fat", "food", em inglês doente, controle, um, gordura, comida). Ele consiste em cinco perguntas com respostas do tipo sim e não que contam pontos para saber se há alguma desordem. Se a criança ou adolescente somar dois pontos ou mais, poderá ser encaminhado para uma avaliação psiquiátrica de distúrbio alimentar.

 

A pesquisa, então, incluiu somente estudos que tinham essa metodologia em sua análise inicial.

 

Cerca de 14 mil (23,5%) do total de 63.181 crianças e adolescentes considerados no estudo tinham demonstrado algum sinal de desordem alimentar, e essa proporção foi significativamente maior em meninas do que em meninos.

 

Um outro ponto observado é que a proporção de crianças e adolescentes com desordem alimentar aumentava conforme a idade (três pontos percentuais a cada dois anos) e índice de massa corporal (3 p.p. a cada 5 kg/m2).

 

Os autores concluem que, utilizando a ferramenta SCOFF, cerca de um quinto das crianças em 16 países têm alguma condição de distúrbio alimentar. Essa proporção é preocupante para políticas de saúde pública e acende um alerta para a necessidade de estratégias de prevenção.

 

De acordo com o estudo global do peso das doenças psiquiátricas no mundo, de 1990 a 2019, os distúrbios alimentares estão entre as condições de saúde mental que mais provocam anos de vida perdidos, com uma média de 318 mortes em 2019 por essa causa.

 

O mesmo estudo avaliou que 3 milhões de crianças podem ter desordem alimentar em todo o mundo.

 

Segundo uma pesquisa recente feita pela Universidade de Oxford, o número de crianças com peso saudável que tenta emagrecer cresceu entre 1997 e 2016.

 

Muitas das compulsões ou desordens alimentares podem ser tratadas, embora cada caso deva ser avaliado com psiquiatras e médicos para tratamentos específicos.



FIQUE ATENTO AOS SINAIS

 

Podem ser sinais de anorexia:


  • apresenta perda exagerada e rápida de peso;
  • recusa-se a participar das refeições familiares;
  • leva o prato para o quarto, mas, não come;
  • preocupa-se exageradamente com o valor calórico dos alimentos;
  • mantém atividade física intensa, rígida e exagerada ;
  • tem pele muito seca e coberta por lanugo (pelos parecidos com os de recém-nascidos).

Podem ser sinais de bulimia:


  • visita com frequência o banheiro logo após as refeições;
  • tem dentes manchados ou amarelados;
  • usa frequentemente laxantes e diuréticos;
  • mantém atividade física intensa, rígida e exagerada;
  • tem rituais relacionados à comida ou à alimentação (comer apenas um alimento ou um grupo específico de alimentos, mastigar excessivamente a comida ou evitar que o alimento toque os lábios ao ser colocado na boca);
  • ingere porções muito pequenas de comida;
  • pula refeições com frequência;
  • Usa roupas folgadas para esconder os contornos do corpo.
Fontes: Fátima Vasconcelos, diretora da Associação Brasileira de Psiquiatria; Sophie Deram, nutricionista do Ambulim; Veruska Lastória Amigo, psiquiatra do Programa de Atenção aos Transtornos Alimentares (Proata/Unifesp); Camila Junqueira, terapeuta do Projeto Anorexias e Bulimias do Instituto Sedes Sapientiae; Alexandre Pinto de Azevedo, coordenador do grupo de Atendimento a Homens com Transtornos Alimentares do Ambulim

 

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Fonte: Folha de São Paulo

imagem: Photographee.eu/Adobe Stock

Edição: Site TV Assembleia