Em dez anos, segmento de informação e comunicação perde espaço no setor de serviços
O segmento de informação e comunicação perdeu participação no setor de serviços do país em dez anos. Em 2013, esse segmento era predominante na receita bruta de serviços de 14 unidades da federação e, em 2022, não prevalecia em nenhuma delas. Os dados são da Pesquisa Anual de Serviços (PAS) e foram divulgados nesta quarta-feira (28) pelo IBGE.
Essa retração do segmento está relacionada principalmente ao desempenho de uma de suas cinco atividades. “Um dos motivos para isso ter ocorrido foi a perda de receita da atividade de telecomunicações, que é composta pelas empresas de telefonia. Nós observamos uma mudança de comportamento de pessoas que param de usar o telefone como forma de se comunicar e passam a usar mais a Internet, com os aplicativos de mensagens”, explica o analista da pesquisa, Marcelo Miranda.
Por outro lado, em 2022, o segmento de serviços profissionais, administrativos e complementares era predominante na receita bruta de serviços da maior parte (22) das unidades da federação. Em 2013, esse setor predominava em 10 UFs.
O total estimado para a receita bruta apurada pelas empresas prestadoras de serviços não financeiros foi de R$3,1 trilhões, sendo 97,4% desse total gerado pela atividade de prestação de serviços e o restante, pelas atividades secundárias dessas empresas, o que inclui operações industriais, de construção e de revenda de mercadorias.
A perda de participação do segmento de informação e comunicação também ocorreu na receita operacional líquida (ROL) dos serviços, quando se subtraem as vendas canceladas, os descontos incondicionais e os impostos incidentes, estimada em R$ 2,7 trilhões em 2022. “No início da série histórica, em 2007, esse segmento era o mais relevante. Ele correspondia a 31,2% da receita operacional líquida no setor de serviços do país e desde então vem caindo gradativamente. No período da pandemia, ficou estável de 2019 para 2020, mas veio caindo pouco a pouco nos anos seguintes”, destaca o pesquisador.
Foi um movimento parecido com o da própria atividade de telecomunicações, que, em 2013, tinha participação de 13,4% na geração de receita operacional líquida, a maior entre as atividades, e caiu 6,7 pontos percentuais (p.p.) desde então.
Em 2022, o segmento de informação e comunicação representava 19,4% da ROL, ficando em terceiro lugar em termos de participação, atrás de Transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (29,8%) e de serviços profissionais, administrativos e complementares (27,8%).
“No início da série histórica, o segmento de Transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio representava a segunda maior participação na receita operacional líquida entre os sete segmentos e ficou estável ao longo dos anos. Com a queda dos serviços de informação e comunicação, os outros segmentos não ganharam muita participação e ele ficou em primeiro por causa dessa estabilidade”, explica.
Analisando as 34 atividades pertencentes aos sete grandes segmentos dos Serviços, o setor de tecnologia de informação, que também faz parte dos serviços de informação e comunicação, foi o que teve maior ganho de participação em dez anos (3,4 p.p.). Nesse mesmo período, o transporte rodoviário de cargas cresceu 2,5 p.p., o que o elevou à atividade com maior participação na receita operacional líquida (13,1%).
“Essa é uma questão da nossa cultura de infraestrutura. Nós usamos muito o transporte rodoviário para fazer transporte de cargas, por meio de caminhões. A malha rodoviária do país é muito extensa e isso acaba influenciando o crescimento dessa atividade nos últimos dez anos”, avalia Miranda.
Nos Serviços prestados principalmente às famílias, houve concentração na geração de receita essencialmente em duas de suas cinco atividades: Serviços de alimentação (64,7% da receita gerada nesse segmento); e Serviços de alojamento (13,7%). O segmento foi o quarto com maior participação na receita (10,7%).
Com 14,2 milhões de pessoas, ocupação nos serviços atinge recorde em 2022
Em 2022, havia 1,6 milhão de empresas prestadoras de serviços não financeiros ativas no país, que ocupavam 14,2 milhões de pessoas. Esse contingente cresceu 5,8% em relação ao ano anterior e foi o maior já registrado na série histórica da PAS. As empresas pagaram R$518,0 bilhões em salários, retiradas e outras remunerações.
Com o crescimento na ocupação, o emprego no setor ficou 10,3% acima do patamar pré-pandemia, o que representa um aumento de 1,3 milhão de ocupados ante o registrado em 2019. Esse crescimento foi influenciado especialmente pelo segmento Serviços profissionais, administrativos e complementares, com destaque para as atividades de Serviços técnico-profissionais (353,8 mil), de Serviços de escritório e apoio administrativo (248,3 mil) e de Seleção, agenciamento e locação de mão-de-obra (203,7 mil).
Por outro lado, houve queda de 92,4 mil ocupados nos serviços prestados principalmente às famílias nesse período, com o impacto da retração da atividade de serviços de alimentação (-112,5 mil pessoas).
“Os serviços prestados principalmente às famílias englobam, por exemplo, os serviços de alimentação e os serviços de acomodação. No período da pandemia, essas atividades que são muito ligadas ao aspecto presencial, como restaurantes e hotéis, acabaram perdendo pessoal ocupado de uma forma muito intensa. E, apesar de eles terem crescido nos últimos dois anos, ainda não conseguiram chegar ao patamar pré-pandemia”, ressalta.
Em um período de dez anos, a publicação mostrou um aumento de 1,7 milhão de pessoas ocupadas no setor de serviços não financeiros como um todo. Foi uma alta de 13,9%, impactado especialmente também pelos Serviços técnico-profissionais (508,0 mil) e Serviços de escritório e apoio administrativo (393,5 mil). Outro setor de destaque foi o de Tecnologia da informação (244,6 mil).
Em situação oposta, o transporte rodoviário de passageiros perdeu 213,2 mil ocupados em dez anos, a maior queda entre as atividades. Uma possível explicação para esse resultado é a diminuição da demanda por algumas profissões do setor. “Antes você tinha nos ônibus municipais, por exemplo, a figura do cobrador, que hoje em dia é bem menos presente”, observa.
Em 2022, os trabalhadores do setor de serviços não financeiros estavam concentrados especialmente nos Serviços profissionais, administrativos e complementares (6,2 milhões), Serviços prestados principalmente às famílias (2,8 milhões), Transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (2,6 milhões) e Serviços de informação e comunicação (1,3 milhão).
Já entre as 34 atividades desagregadas, a de Serviços de alimentação foi a que mais empregou, concentrando 11,6% dos ocupados. Em seguida, aparecem Serviços técnico-profissionais (11,4%), Transporte rodoviário de cargas (8,4%), Serviços para edifícios e atividades paisagísticas (8,2%) e Serviços de escritório e apoio administrativo (7,7%). Essas cinco atividades responderam por quase metade (47,3%) dos empregos no setor.
Porte médio é maior nas empresas do setor de transportes
Ainda em relação à ocupação do setor de serviços não financeiros, a publicação traz o cálculo do porte médio das empresas, medido pela razão entre o número de pessoas ocupadas e o número de empresas. Em 2022, houve uma média de nove pessoas por empresa, o que indicou estabilidade ante 2013, quando essa média era de 10 pessoas.
As atividades de alguns segmentos apresentavam médias bem maiores, como o de Transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio: Transporte ferroviário e metroferroviário (952 pessoas), Transporte dutoviário (551 pessoas) e Transporte aéreo (223 pessoas). Já os setores ligados às Atividades imobiliárias e de Serviços de manutenção e reparação tinham os menores valores de porte médio (entre 2 e 4 pessoas por empresa).
O salário médio do setor de serviços foi de 2,3 salários mínimos (s.m.). As empresas que pagaram as maiores médias eram do segmento de Transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio: Transporte dutoviário (18,5 s.m.), Transporte aquaviário (6,9 s.m.) e Transporte aéreo (6,1 s.m.).
Os salários médios mais baixos foram pagos em Atividades culturais, recreativas e esportivas, com 1,3 s.m., e Serviços de alimentação, Serviços para edifícios e atividades paisagísticas; Compra, venda e aluguel de imóveis próprios, Manutenção e reparação de veículos e Manutenção e reparação de objetos pessoais e domésticos, que empataram com salário médio de 1,4 s.m.
Setor de serviços chega ao menor nível de concentração da série histórica
Outro indicador que a publicação traz para analisar o setor de serviços é a análise de concentração de mercado. A razão de concentração de ordem 8 (R8), utilizada pela pesquisa, calcula a proporção da receita líquida capturada pelas oito maiores empresas do setor. Quanto maior o R8, mais alta é a concentração. Em 2022, o R8 foi de 6,8%, queda de 2,7 p.p. em dez anos, o que representa o menor valor de concentração da série histórica da pesquisa.
“O setor de serviços vem crescendo cada vez mais e, com o aumento no número de empresas, as grandes empresas acabam perdendo um pouco de sua participação para as menores. Essa pulverização das atividades de serviços pode explicar essa redução da concentração”, afirma o analista.
A maior concentração foi do segmento de Serviços de informação e comunicação, com R8 de 30,8%, embora tenha apresentado a maior queda entre 2013 e 2022 (-5,1 p.p.). Os outros segmentos com maiores concentrações foram Outras atividades de serviços (26,3%), Transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio (12,7%), Serviços de manutenção e reparação (11,5%), Serviços prestados principalmente às famílias (8,2%), Atividades imobiliárias (7,2%) e Serviços profissionais, administrativos e complementares (5,5%).
Já entre as 34 atividades que compõem o setor de serviços, os maiores níveis de concentração de mercado estavam no segmento de Transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio: Transporte dutoviário (100,0%), Transporte aéreo (94,4%), Correio e outras atividades de entrega (82,5%) e Transporte ferroviário e metroferroviário (76,9%).
Sudeste concentra 65,4% da receita bruta de serviços
Em 10 anos, composição da receita bruta de serviços em relação às grandes regiões ficou praticamente estável, com aumento de 0,4 p.p. no Sul, e de 0,1 p.p. no Centro-Oeste e no Sudeste. Já o Nordeste (-0,6 p.p.) e o Norte (-0,2 p.p.) tiveram queda. Com isso, o Sudeste respondeu por 65,4% do total dessa receita. As demais regiões tiveram as seguintes participações: Sul (14,7%), Nordeste (9,8%), Centro-Oeste (7,4%) e Norte (2,6%).
O Nordeste concentrou 15,1% dos ocupados no setor de serviços do país em 2022, mas respondeu por apenas 10,7% dos salários pagos. Já o Sudeste concentra 56,4% dos ocupados e 64,7% dos salários.
O Nordeste também tem a menor remuneração paga aos ocupados em toda a série histórica da pesquisa, quando comparado às outras regiões. Em 2022, a média salarial foi de 1,6 salário mínimo, enquanto a média nacional foi de 2,3 s.m. no setor. O Sudeste pagou a maior remuneração (2,7 s.m.), seguido pelo Sul (2.1 s.m.), Centro-Oeste (1,9 s.m.) e Norte (1,8 s.m.).
Mais sobre a pesquisa
A Pesquisa Anual de Serviços (PAS) 2022 traz os principais resultados das empresas prestadoras de serviços não financeiros em relação à caracterização do setor pela ótica do faturamento, à concentração de mercado e ao perfil do emprego. A pesquisa abrange 34 atividades do setor agregadas em sete grandes segmentos. Há dados para Brasil, grandes regiões e unidades da federação. Confira outras informações no material de apoio da pesquisa.
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Fonte: Agência IBGE - Imagem: Marcelo Casal Jr/Agência Brasil