Curso de Odontologia da UFPI desenvolve ações e pesquisas para prevenção do câncer de boca

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 13/11/2024 09h26, última modificação 13/11/2024 09h26
A iniciativa faz parte da campanha Novembro Vermelho

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA): O Brasil apresenta a maior taxa de incidência de Câncer de boca da América do Sul, de 3,6 casos por 100 mil habitantes, e a segunda maior taxa de mortalidade, de 1,5 morte por 100 mil habitantes. É importante ressaltar que o câncer de boca é mais comum entre 50 e 70 anos de idade, mas considera-se a idade de risco a partir de 40 anos.

 

Por isso a Campanha Novembro Vermelho de combate ao câncer de boca, com ênfase na primeira semana do mês, ocorre em todo o território nacional e visa lançar um alerta para a população sobre a ocorrência desse tipo de câncer, seus fatores causadores, prevenção e como diagnosticar as lesões mais precocemente. “É importante ressaltar que a população tem meios concretos para esse combate: evitar os fatores de risco e realizar exames odontológicos preventivos anualmente, a partir da idade de 40 anos”, conta a professora Simone Lobão Barros do Curso de Odontologia da Universidade Federal do Piauí (UFPI).

 

Ela ainda evidencia os fatores de risco: “A população deve evitar o tabagismo, consumir com moderação bebidas alcoólicas, evitar exposição ao sol em horários de muita incidência solar, utilizar proteção solar (protetor labial, chapéu, sombrinha), deve-se prevenir contra o HPV por meio da vacina e uso de preservativos, além disso, manter uma boa higiene bucal e optar por uma alimentação saudável”, ressalta.

 

Qual o papel da UFPI no combate ao câncer de boca?


Como uma Instituição de Ensino Superior, a UFPI tem a função primordial de formar profissionais para a comunidade. “No Curso de Odontologia, nos empenhamos para que essa formação seja o mais completa possível, do ponto de vista científico, técnico, ético e humanizado”, infere a professora Simone Lobão e adiciona. “Acreditamos firmemente que nossos alunos terminam a graduação comprometidos com a manutenção da saúde do paciente, geral e bucal, inclusive conscientizados da importância da prevenção e diagnóstico do câncer de boca.”

 

As Clínicas de Odontologia da UFPI estão localizadas no Centro de Ciências da UFPI, no bloco do Curso de Odontologia e prestam atendimento à população nas diversas especialidades odontológicas, sob agendamento. Atualmente também estão disponíveis para os pacientes os serviços de Urgência e Radiografia Periapical. A Urgência funciona nas segundas e quintas, a partir das 8h, mas com capacidade para apenas 4 pacientes por turno, por conta da limitação de material odontológico. Já a Radiografia Periapical, de terças e quintas, das 8h às 9h, e atende a solicitações para dentes específicos (não de toda a arcada dentária). Os atendimentos nas clínicas vão até o dia 18/12, por conta do recesso de fim de ano.

 

Além das atividades clínicas, os alunos participam de ações que visam a prevenção do câncer de boca, na forma de cursos e eventos de extensão. O curso de Odontologia contribui também para a geração de conhecimento por meio de pesquisas científicas. Recentemente, em parceria com o Hospital Universitário (HU-UFPI) e orientação da professora Simone Lobão Barros, tendo como equipe de pesquisa a estudante Isabella Mousinho Marinho dos Santos e a cirurgiã bucomaxilofacial do HU, Thaís Cristina Araújo Moreira, foi desenvolvida um estudo com o título “Prevalência das lesões orais em pacientes do HU-UFPI no período de 2016 a 2022”. Este trabalho teve o intuito de avaliar quais as lesões orais mais prevalentes entre os pacientes que procuraram atendimento no HU e identificar o perfil destes pacientes. Dentre as lesões orais diagnosticadas neste período, 24% foram constituídas de neoplasias malignas, especialmente carcinomas epidermóides, que ocorreram principalmente em homens (67%).

 

“Nós também investigamos a prevalência de lesão em pacientes que procuraram a clínica de Diagnóstico Bucal do Curso de Odontologia da UFPI. Alguns pacientes procuram esta clínica porque perceberam alguma lesão oral, alguns por prevenção e outros por queixas de outra natureza”, declara a professora Simone. Estes dados levaram a outra pesquisa, intitulada “Prevalência de fatores de risco, desordens orais potencialmente malignas e neoplasias malignas orais”, um trabalho de iniciação científica conduzido pela acadêmica Brunna Rogianny Lopes Vilarinho, também sob orientação da professora Simone Lobão.

 

“Nesta pesquisa, avaliamos os pacientes que procuraram a clínica de Diagnóstico durante um período de cinco anos e percebemos que entre os fatores de risco associados ao câncer de boca os mais relatados foram o consumo de álcool (45,7%) e a exposição excessiva ao sol (quase 30%). O tabagismo foi declarado por 10,1% dos pacientes que procuraram a clínica”, relata Lobão. Foram detectadas algumas lesões precursoras do câncer (desordens potencialmente malignas), que são lesões que podem ser diagnosticadas e tratadas antes que sofram transformação maligna. As lesões malignas tiveram prevalência de 0,4% e foram do tipo carcinoma de células escamosas. Pacientes do sexo masculino e tabagistas exibiram maior risco de desenvolvimento destas lesões.

 

Com relação a essas lesões precursoras do câncer, foi desenvolvida uma pesquisa intitulada “Prevalência de queilite actínica e fatores associados em uma população do semiárido brasileiro”. A queilite actínica é uma lesão que acontece principalmente no lábio inferior e que pode sofrer transformação para câncer labial. Essa pesquisa foi desenvolvida no município de Pio IX, como um trabalho de iniciação científica, pela acadêmica Suellen Maria Arraes de Oliveira, sob orientação da professora Simone. A amostra foi constituída por 359 indivíduos que exibiram uma incidência de 32,9% de queilite actínica.  Estas lesões ocorreram principalmente em homens de pele clara e localizadas em lábio inferior. “A queilite actínica é causada pela exposição excessiva ao sol, ao longo de vários anos. Este fator de risco é muito comum no nosso estado, principalmente na zona rural em que as pessoas exercem muitas atividades de trabalho ao ar livre. Percebemos que os pacientes avaliados tiveram intensa exposição ao sol, com média diária 6,31 horas e exposição acumulada de 30,5 anos”, frisa a professora, pontuando que quanto maior a exposição ao sol, maior a tendência de exibir a queilite actínica.

 

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Estudantes realizam atividades acadêmicas sob orientação da professora Simone Lobão

 

Por fim, a pesquisa “Carcinoma de células escamosas oral: estudo retrospectivo de 10 anos em hospital de referência no tratamento de câncer” aconteceu no Hospital São Marcos, estudando especificamente o carcinoma de células escamosas, principal tipo de câncer de boca. O trabalho contou com a estudante de graduação, Lara Lustosa Teixeira Leal, e a acadêmica de pós-graduação em Odontologia, Natiele Carvalho, também sob orientação da professora Simone. “Foram avaliados prontuários dos pacientes com carcinoma de células escamosas oral com objetivo de verificar o perfil do paciente portador dessa lesão. A literatura mundial destaca que existe uma tendência a alteração nesse perfil e queríamos conferir se essa tendência também podia ser verificada aqui em Teresina”, sublinha a professora. As pesquisadoras concluíram que essa lesão acontece principalmente no sexo masculino (75,8%), entre os 50 e 70 anos (78,42%), com a maioria relatando tabagismo (64,7%), e consumo de álcool (45,9%). Os dados corroboraram a literatura tradicional, indicando a importância dos fatores clássicos de risco para a população teresinense.

 

São pesquisas como essas que geram conhecimento sobre a realidade local, sendo úteis para o planejamento de políticas públicas que visam a prevenção e o diagnóstico do câncer de boca com base em dados locais. “É uma maneira mais eficiente do que trabalhar com dados que podem não refletir a realidade da nossa população”, conclui a professora Simone Lobão Barros.

 

Fonte: Ufpi

Edição: Site Rádio Assembleia